Tudo posso em Cristo [mas e o contexto]

July 25, 2025

Existe uma máxima muito utilizada na hermenêutica bíblica, que é a seguinte: um texto fora de contexto é um pretexto. De fato, os contextos são importantes e precisam ser levados em consideração, mas muitos textos transcendem o contexto.

Um exemplo de texto que transcende o contexto é: “Tudo o que não provém da fé é pecado”. Segundo John Piper, João Crisóstomo advogava a ideia de que este texto deveria ser entendido dentro do seu contexto. Ou seja, deveria ser considerado como parte do assunto abordado por Paulo, sobre não escandalizar os irmãos mais fracos por causa de comida.

Por outro lado, Agostinho entendia este texto como frase universal. Segundo Piper, o que Paulo está fazendo é trazer um ponto universal (tudo o que não provém da fé é pecado) para suportar um ponto específico (o não comer com fé). Para Piper, nós regularmente suportamos pontos específicos com pontos genéricos.

Um outro texto que muitos tentam escravizar ao contexto é: tudo posso em Cristo, que me fortalece. Paulo disse essa máxima em um contexto bem específico. O “tudo posso em Cristo”, no seu caso, era empregado para capacita-lo a passar necessidade ou ter fartura. Deste modo, para muitos, o texto só pode ser empregado para esse fim.

Ocorre que o mesmo argumento de Piper se aplica a este versículo também. Paulo está trazendo um ponto universal “posso todas as coisas em Cristo” para suportar um ponto específico “posso passar necessidade ou ter fartura”. Isto de modo algum significa que só podemos dizer “tudo posso em Cristo” para o mesmo fim do apóstolo.

Piper dá um ótimo exemplo do seu argumento:

Por exemplo, poderíamos dizer: “Os ponteiros maiores do relógio pêndulo giram 360 graus a cada hora. Pois os ponteiros maiores de todos os relógios giram 360 graus a cada hora”. Ninguém nos consideraria sensatos se disséssemos: “Dessas duas frases, o que podemos aprender é que os únicos relógios cujos ponteiros maiores giram 360 graus a cada hora são os relógios de pêndulo, porque os relógios de pêndulo são o assunto da nossa conversa”. Não. Nós trazemos um ponto universal para suportar um ponto específico.

Bem, agora parece claro que podemos usar a frase “tudo posso em Cristo” de forma mais ampla do que o contexto em que a frase aparece, mas qual seria o limite? Quais são as coisas que podemos fazer, com a força que Cristo nos dá? Esta é uma dúvida razoável porque o termo “todas as coisas” é por demais abrangente.

Precisamos considerar que Paulo não foi o primeiro a falar de forma tão abrangente. Jesus, antes dele, já tinha dito: tudo é possível ao que crê. Se você prestar atenção, verá que estes textos são muito parecidos. Basicamente, Jesus está dizendo, assim como Paulo, que podemos todas as coisas.

A diferença é que o contexto em que Jesus disse a sua máxima é bem mais difícil de limitar ou restringir que o do apóstolo Paulo. Um homem veio até Jesus e lhe perguntou se ele podia curar o seu filho e Jesus lhe respondeu que tudo era possível ao que crê. Ou seja, a fé era capaz de milagres muito maiores.

Se Jesus disse: “Tudo é possível ao que crê”, nós, os que cremos, podemos e devemos dizer como Paulo: “Tudo posso em Cristo, que me fortalece”. Podemos ter fartura, podemos passar necessidade, podemos expulsar demônios, podemos curar enfermos e podemos fazer muitas outras coisas.

Se podemos fazer as maiores, podemos fazer as menores. Quando intimidados pelos vestibular, podemos dizer: Tudo posso em Cristo! Quando as pernas bambearem ao cobrar um pênalti, podemos dizer: Tudo posso em Cristo! Resumindo: podemos todas as coisas, em Cristo que nos fortalece.