Porque dói?

May 2, 2025

Porque dói?

“Por que é permanente a minha dor, e minha ferida é grave e incurável? Por que te tornaste para mim como um riacho seco, cujos mananciais falham?”

Seja de forma literal ou figurada, o fato é que Jeremias tinha uma ferida dolorosa, da qual ele vinha tentando há muito tempo se libertar, recorrendo a Deus, sem sucesso. Antes de apelar para a queixa, ele por óbvio tinha feito orações corretas e bem intencionadas em busca de um milagre.

Para entender o quão pesado foi o que o profeta falou, precisamos voltar ao primeiro oráculo de Jeremias, como profeta do Senhor. Nesse oráculo, Deus tinha acusado Israel de cometer dois crimes: “eles me abandonaram, a mim, o manancial de águas vivas, e cavaram as suas próprias cisternas, cisternas rachadas que não retêm água.”

O crime da nação tinha sido, primeiro, deixar de buscar a Deus e depender dele para satisfação de suas necessidades, e, segundo, buscar a auto-suficiência, cavando suas próprias cisternas, nas quais confiavam. Por óbvio, Jeremias tinha esse oráculo em mente quando acusou a Deus de ser um riacho seco para ele.

O que Jeremias estava querendo dizer é que, ao contrário dos seus conterrâneos, ele tinha buscado a fonte de águas vivas, em vez de cavar a sua própria cisterna, mas em vez de encontrar um manancial, encontrou um riacho sem água. Só faltou ele dizer: “talvez eu também deva cavar a minha própria cisterna” ou “talvez eu deva buscar ajuda em outra fonte.”

Jeremias não fez isso, mas também não agiu certo. Ele apelou para a queixa e para a murmuração, como se quisesse colocar Deus no banco dos réus, mas – como sempre acontece – Deus cuidou de reverter os papéis e colocar cada um no seu devido lugar, e ainda fez Jeremias deixar registrado em seu livro tanto a sua queixa quando a resposta divina, para o nosso benefício.

Sim, porque a queixa de Jeremias se baseava em perguntas comuns à maioria de nós. Basicamente, por trás da queixa de Jeremias, tinha alguém que só queria saber porque Deus não tinha agido conforme a sua promessa. “Tudo bem, Deus, o Senhor não curou a minha ferida, mas por qual razão? Por qual razão eu não encontrei água, naquele que deveria ser o meu manancial?”

Na caminhada cristã, muitas vezes, em momentos de dor, a palavra de Deus vai parecer incoerente e o próprio Deus irá parecer injusto, aos nossos olhos. Quando isto acontece, não é contra Deus que devemos nos voltar, é contra nós mesmos, por um motivo simples: ao contrário do que pode parecer, Deus não é injusto, nem a sua palavra incoerente.

Em vez de dar vazão à nossa queixa perguntando “Deus, porque a sua palavra falhou?”, devemos dizer a nós mesmos “continue crendo, porque a palavra de Deus não falha!” Murmurar não é apenas inútil, como também é pecado e impede o nosso milagre. Perguntas como essas são incrédulas, e Deus não responde.

A resposta de Deus para Jeremias, na verdade, foi uma exortação: “Se você se arrepender, eu o restaurarei para que possa me servir; se você disser palavras de valor, não indignas, será o meu porta-voz.” Como podemos ver, havia restauração da parte de Deus para o profeta, o que por óbvio incluía o fim da sua dor. Só que, antes, ele deveria se arrepender.

Vamos repassar à cronologia dos fatos: Jeremias tinha orado por cura para a sua ferida, Deus tinha ouvido a sua oração e iria restaurá-lo. Como o milagre tardou, o profeta se queixou e quase pôs tudo a perder. Ao abandonar a fé, ele construiu uma barreira entre ele Deus, que impedia o seu milagre, o que tornou o arrependimento necessário.

Quando nos queixamos, a resposta de Deus para nós é sempre a mesma que ele deu a Jeremias: arrependa-se, pare de falar palavras indignas e comece a falar palavras de valor. Volte ao caminho da fé e siga esperando em Deus, porque ele fiel, sua palavra não falha e a resposta está à caminho.