Quando os discípulos não conseguiram expulsar o demônio de um menino, perguntaram a Jesus: “Por que nós não conseguimos expulsá-lo?”
Jesus respondeu: “Por causa da pequenez da vossa fé. Em verdade vos digo: se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: ‘Passa daqui para acolá’, e ele passará. Nada vos será impossível.”
No evangelho de Lucas, essa mesma frase aparece em um contexto diferente. Após ouvirem os ensinamentos de Jesus sobre perdoar sete vezes por dia, os apóstolos exclamam: “Aumenta a nossa fé!” E Jesus responde:
“Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a esta amoreira: ‘Arranca-te e transplanta-te no mar’, e ela vos obedecerá.”
Em muitas traduções, lê-se: “fé do tamanho de um grão de mostarda”, mas o original grego usa a preposição ὡς (hōs), que indica comparação, não medida. Jesus não está falando do tamanho da fé, mas do modo como ela se comporta. De fato, Ele havia acabado de reprovar os discípulos pela pequenez da fé deles (no grego, oligopistia). Como, então, incentivaria a ter uma fé ainda menor?
Se não foi isso, o que Jesus quis dizer com “fé como um grão de mostarda”? A chave está em um dos ensinamentos de Jesus sobre o Reino de Deus, onde ele usa a mesma comparação: “O Reino dos Céus é como um grão de mostarda que um homem plantou em seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce, torna-se a maior das hortaliças.”
O ponto aqui não é o tamanho inicial da semente, mas o crescimento surpreendente. Quem poderia dizer que algo tão pequeno tinha potencial para tornar-se tão grande? Aplicado à fé, isso revela uma verdade poderosa: a fé como um grão de mostarda é aquela que começa pequena, mas cresce e se torna poderosa — capaz de mover montanhas.
O importante aqui é que a fé que move os montes não é a fé pequena "do tamanho um grão de mostarda", mas sim a fé grande "como a maior das hortaliças". O ponto de Jesus é que, muitas vezes, a fé que nós menosprezamos por parecer pequena, pode se tornar grande no momento da necessidade. Essa é a fé "como um grão de mostarda".
O que vai mostrar a qualidade da nossa fé, não é como o ela se parece antes, é como ela se parece no momento da provação. No fogo, as impurezas do ouro são consumidas, e ele começa a brilhar e mostrar o seu valor. No momento da provação, a fé "como uma semente de mostarda" cresce e se torna "a maior das hortaliças".
Os discípulos estavam perplexos e decepcionados, porque a fé deles, que antes parecia brilhar, não alcançou o resultado que pretendiam. Jesus então lhes apresentou um outro tipo de fé: uma fé viva, com potencial de crescimento. Uma fé que parece pequena, mas cresce quando testada. Diferente da fé que colapsa sob a pressão, essa fé floresce na hora certa.
Só há um modo de saber se temos esse tipo de fé: colocando-a à prova. Como escreveu o apóstolo Pedro, vocês precisam ser provados "para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína." A fé que Jesus valoriza é aquela que, embora comece pequena, não se acovarda.
Muitas vezes, Deus nos nos sujeita a provações que pensávamos ser superáveis, para nos mostrar que a nossa fé é enganosa, como no caso dos discípulos. Outras vezes, ao contrário, as provações pelas quais passamos podem parecer muito além das nossas forças, mas Deus nos permite passar por tais coisas para nos mostrar que a nossa fé é genuína.
Ela cresce. Ela resiste ao fogo da provação. Ela vence. Essa é a fé que os discípulos deveriam buscar. Uma fé que responde ao chamado de Deus no momento certo. Uma fé que, mesmo começando pequena, não falha.
Essa é a fé como um grão de mostarda.