“Acaso tu mesmo não puseste uma cerca em volta dele, da casa dele e de tudo o que ele possui?”
Satanás não pode fazer o que quer, como muitos pensam. Na verdade, ele não pode fazer nada, sem a permissão de Deus. Jesus disse que nem mesmo um pequeno pardal cai no chão, sem o consentimento de nosso Pai que está nos céus. Segundo Jesus, até os cabelos da nossa cabeça estão todos contados. Jesus termina este seu ensino dizendo: "Não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais!" Isto significa que, neste mundo governado por Deus, nós somos especialmente cuidados e protegidos por Ele.
O apóstolo João escreveu que Deus nos protege e o maligno não pode nos tocar. O mundo é governado pela palavra de Deus, é governado pelas escrituras sagradas. O que está escrito não foi escrito apenas para nós, foi escrito também para determinar a esfera de atuação dos principados, potestades e príncipes do mundo das trevas. O que está escrito é a regra geral e deve ser obedecido. Se está escrito nas escrituras que o maligno não pode nos tocar, ele não pode nos tocar.
A história de Jó nos ajuda a entender como isto funciona. Neste relato, o próprio Satanás disse ao Senhor: “Acaso tu mesmo não puseste uma cerca em volta dele [de Jó], da casa dele e de tudo o que ele possui?” Deus não precisava dizer "não toque em Jó" porque esta era a regra geral. Como o próprio Satanás disse, havia uma cerca de proteção em torno de Jó, da sua casa e de tudo quanto ele possuía. A proteção do Senhor se estendia à família de Jó e, inclusive, a todos seus servos, animais e bens.
Por outro lado, Satanás precisou pedir ao Senhor, expressamente, para tocar na vida de Jó, e ele segue fazendo o mesmo até os dias atuais. Vemos isso acontecer no Novo Testamento, quando Jesus disse aos seus discípulos: “Satanás pediu vocês para peneirá-los como o trigo”. Nesta ocasião, Jesus não intercedeu para que o pedido de Satanás fosse negado, antes ele intercedeu para que eles tivessem fé para suportar o que estava por vir, porque aquela provação tinha um propósito.
Quando a provação acaba, a exceção perde o valor e volta a valer a regra. Nós precisamos ter isto em perspectiva, para não incorrer no erro de transformar a exceção regra, como é muito comum. Existe hoje o que eu chamo de uma teologia das exceções, que parte dos exemplos bíblicos de exceções — como o exemplo do sofrimento de Jó — para anular a regra geral de proteção divina existente nas escrituras.
Você não pode usar o exemplo de um bom filho que morreu cedo, para anular a promessa bíblica de que os filhos que honram pai e mãe terão longa vida sobre a terra. Não, com isto, você só pode provar que esta é uma regra que comporta exceções. O mesmo vale quando o assunto é cura divina. Você não pode usar os exemplos de uma ou outra pessoa que não foi curada, nas escritura, para anular a regra de que a oração de fé curará o doente.
Eu trabalho com leis e, na minha área de trabalho, há determinadas regras legais que possuem tantas exceções, que as exceções é que são a regra. A verdade é que uma das características mais importantes das regras é que elas devem valer na maioria dos casos. Quando uma regra se torna quase inaplicável, devido às exceções, chegou a hora do legislador criar uma nova regra. Contudo, não é o que acontece no Reino de Deus. Nele as regras são regras, e as exceções exceções.
Quando Sadraque, Mesaque e Abede-nego foram condenados à morte por não se curvarem à estátua, eles disseram ao rei Nabucodonosor: "Deus irá livrar-nos das tuas mãos, ó rei!" Eles confiavam na proteção divina, porque essa era a regra geral que eles conheciam nas escrituras sagradas. Por fim, eles disseram: "Todavia, ainda que Ele não nos liberte, ainda assim não nos curvaremos perante a estátua." Ou seja, eles consideravam a remota possibilidade do caso deles vir a ser uma exceção à regra.
Isto é bem diferente de dizer: "Se for da vontade de Deus, ele nos livrará das tuas mãos, ó rei", porque esta afirmação parte do pressuposto de que estamos no escuro, quanto à questão, uma vez que desconhecemos a vontade de Deus para o nosso caso específico. Todavia, o que esta situação nos ensina é que devemos pautar nossa fé, nossas afirmações e nossas ações na regra geral existentes nas promessas, cônscios, isto sim, de que, eventualmente, Deus pode agir de modo contrário.