Porque ele [Deus] disse: Não te deixarei, nem te desampararei. E, assim, com confiança, ousemos dizer: O Senhor é o meu ajudador, e não temerei o que me possa fazer o homem.
"Não te deixarei, nem te desampararei" é uma referência exata do que Deus disse a Josué [Js 1.5], quando o comissionou a liderar Israel na conquista da Terra Prometida. Deus também disse o mesmo a Israel [Dt 31.6], antes de entrarem na terra prometida, só que em vez de "não te deixarei, nem te desampararei", o texto diz: "não te deixará, nem te desamparará".
Nós não somos os destinatários diretos desta promessa, porque não somos Josué nem os israelitas, assim como o nosso contexto não é o mesmo que o deles, uma vez que não temos uma terra de Canaã para conquistar, contudo esta promessa de Deus "não te deixarei, nem te desamparei" se aplica também a nós e ao nosso contexto, segundo este texto de Hebreus.
Nós podemos nos apropriar desta promessa, podemos tomar posse dela e torná-la nossa, como fez o salmista, quando disse "O Senhor é o meu ajudador, e não temerei o que me possa fazer o homem" (Sl 118.6). A afirmação “O Senhor é o meu ajudador” não surgiu do nada, antes decorreu das promessa de Deus ao seu povo. Ele se apropriou dessa promessa. Como? Confiando no coração e afirmando ousadamente com os lábios.
Nós devemos fazer mais do que isso, inclusive. Devemos agir com base nessa fé. A promessa de que o Senhor não nos abandonará, segundo o autor de Hebreus, é razão o suficiente para vivermos “livres do amor ao dinheiro e contentar-nos com o que temos”. Deste modo, podemos apontar três passos a dar, com base na promessa: confiar, confessar [dizer] e agir com base nela.
Ora, se podemos acompanhar o salmista na posse desta promessa, podemos fazê-lo em todas as outras, como, por exemplo, no Salmo 103: “é ele que sara todas as suas doenças”. Esta afirmação ousada tampouco saiu do nada, ela também tem lastro nas promessas de Deus ao seu povo. “Eu sou o Senhor que sara vocês”, dissera o Senhor à nação de Israel. Note como o salmista tornou sua essa promessa e se apropriou dela.
Se ele fez isso, nós também podemos fazer. Podemos, inclusive, tornar nossas as palavras do salmista. Se podemos dizer com ele “o Senhor é o nosso ajudador”, podemos igualmente dizer “ele cura todas as minhas doenças”, porque, como escreveu o apóstolo Paulo, "a palavra está perto de nós. Está em nossos lábios, e em nosso coração. Esta é a palavra de fé, que estamos pregando."
O uso desta fala de Paulo é apropriado aqui porque existe um nítido paralelo entre este texto e Romanos 10.9: "A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração; esta é a palavra da fé, que pregamos, a saber: se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo […] Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo."
Note que, a exemplo do texto de Hebreus, o apóstolo Paulo parte de uma promessa feita por Deus: a promessa de salvação, por meio do profeta Joel: "Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo." A partir desta promessa e de outras promessas relacionadas, o apóstolo nos apresenta um caminho par tornar nosso o que a promessa promete universalmente: confessar com os lábios e crer no coração.
Qual a base de Paulo para exigir a confissão e a fé, como forma de tornar nossa a promessa? O apóstolo foi buscar uma base nas palavras de Moisés, que disse: “A palavra está junto de ti, na tua boca e no teu coração". No contexto deste texto, Moisés afirma que a Lei pode ser cumprida. Segundo ele, o mandamento "não é difícil demais para vocês, nem está fora de seu alcance […] Não, a palavra está bem perto; está em seus lábios e em seu coração, para que possam obedecer."
A proposta de Moisés é simples: desde que a palavra esteja na sua boca e no seu coração [pela fé], não será difícil demais nem estará fora do seu alcance viver o que diz a palavra. “Esta é a palavra de fé que estamos pregando”, disse o apóstolo. O apóstolo Paulo não era um contraponto a Moisés, pelo contrário, ambos pregavam a mesma palavra de fé, como forma de viver o que a palavra diz.
O autor de Hebreus se junta a eles ao nos apresentar uma forma de tornar nossas as promessas de Deus: confiando no coração na palavra de Deus e dizendo-as com os lábios. Moisés, Paulo e o autor de Hebreus partem de um ponto em comum, a palavra universal de Deus, e nos apresentam a forma como essa palavra irá se cumprir na nossa vida em particular: por meio da confissão e da fé.
A palavra de Deus deve estar o tempo todo na nossa boca e no nosso coração. Você confessa e crê o que a palavra diz à respeito de cumprir a Lei e cumprirá a Lei; você confessa e crê no que a palavra diz a respeito da salvação e será salvo; você confessa e crê no que as promessas dizem, e você viverá o que elas dizem. Esta é a palavra de fé que estamos pregando.
Se Deus disse algo em uma de suas promessas, nós devemos reafirmar aquela promessa, aplicada à nossa necessidade e ao nosso contexto. Mesmo que os destinatários imediatos tenham sido outros, ou que o contexto seja diferente do nosso, nós podemos dizer o que Deus disse, como se Deus o tivesse dito a nós em particular.