Fé e vigilância

November 25, 2024

Fé e vigilância

Depois que Deus o chamou, para libertar o seu povo, Gideão conseguiu juntar um exército não desprezível de trinta e dois mil homens. Ainda assim, o número era muito inferior ao do inimigo. Do contrário, já teriam se juntado muito antes, por conta própria, e rompido com o jugo dos midianitas.

Pois bem, eles só tinham se juntado por conta do chamado divino. Mesmo assim, Deus sabia que, um grupo como aquele, em caso de vitória, em vez de glorificá-lo, se gabariam de que tinham vencido pela própria força, porque embora a vitória fosse improvável, não era de modo algum impossível.

Você tem gente demais para que eu entregue Midiã em tuas mãos, disse Deus. Isto é interessante. O que para Gideão era gente de menos, para Deus era gente demais. A bem da verdade, Deus não precisa de nenhum de nós, para por fim ao jugo do seu povo. Seus anjos poderiam fazer o serviço, por exemplo. No entanto, é do agrado de Deus nos usar. Veja, diz o texto que Deus queria entregar Midiã nas mãos de Gideão. Deus está sempre em busca de uma mão humana, a quem dar a vitória.

Manda embora os que estiverem com medo, disse Deus, então vinte e dois mil homens partiram. Veja o que o medo faz. O medo caminha de mãos dadas com o egoísmo. O homem com medo só pensa em si, só pensa na própria sobrevivência. Estes vinte e dois mil homens não pensaram duas vezes, antes de abandonar os outro dez mil à própria sorte.

Um ponto importante aqui, que passa desapercebido, é que Deus está orientando Gideão a obedecer a Lei. Em Deuteronômio 20, Deus transmite, por meio de Moisés, instruções que deveriam ser seguidas quando os israelitas fossem à guerra, sendo uma das mais importantes: mandar os medrosos para casa. Essa não era uma regra para Gideão, era uma regra geral.

Os medrosos não são bem-vindos no exército de Deus, por três motivos: primeiro, porque para Deus números não são importantes; segundo, para a própria segurança deles, porque Deus não consegue usá-los; e, terceiro, porque o medo é contagioso.

Pois bem, Gideão perdeu mais de dois terços do seu exército, ficando com dez mil homens de fé. Talvez, não uma grande fé inabalável, mas fé o suficiente para ficarem. Agora sim, Gideão tinha uma congregação de crentes, mais perto do ideal, contudo, para Deus ainda não estava bom.

O Senhor tornou a dizer a Gideão: ― Ainda há gente demais. Desça com eles à beira d’água, e eu separarei os que ficarão com você. Deus escolheu aqueles que lamberam a água, levando‑a com as mãos à boca, num total de trezentos homens, e descartou os outros nove mil e setecentos que se ajoelharam para beber e beberam a água como um cachorro.

Que tipo de critério é este? Podemos chamar de critério da vigilância. Devemos nos lembrar que estes nove mil e setecentos homens eram aqueles que não foram embora com medo. Ou seja, eram homens confiantes; confiantes até demais; confiantes do jeito errado. Ora, eles ainda eram um exército, ainda eram soldados, o inimigo ainda estava à espreita, e eles estavam ali, totalmente expostos… porque Deus era com eles.

Guerreiros confiantes demais treinam de menos, vigiam de menos e se dedicam menos, no meio da batalha. Assim também se morre, assim também se perde, assim também se fracassa. Pessoas com esse tipo de excesso de confiança não pensariam duas vezes, em pularem do pináculo, para que Deus desse ordens aos seus anjos para protegê-los. No entanto, o nome disso não é fé; é tentar a Deus.

Vigiem e orem disse Jesus. Ou seja, não apenas façam orações. Sejam, também, vigilantes. O inimigo está à espreita. Sejam inocentes como as pombas, mas astutos como as serpentes. Confiem em Deus de todo coração, mas mantenham uma mão na espada. Não é porque Deus lutará por você, que você não precisa treinar e se preparar. O homem que Deus usa deve ter o coração cheio de fé, sim, mas, também, o braço bem treinado e a espada bem afiada.

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