A consciência do cristão

September 15, 2024

“Assim, aproximemo‑nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, porque o nosso coração foi purificado de uma consciência má e o nosso corpo lavado com água pura.”
‭‭Hebreus‬ ‭10‬:‭22‬ ‭NVI‬‬

Nossa vida seria bem mais fácil se não tivéssemos consciência. Seria bom se vivêssemos em um estado de inocência, como o estado em que viviam Adão e Eva, antes de comerem do fruto do conhecimento do bem e do mal. Este conhecimento do bem e do mal não é outra coisa senão a nossa consciência, e nós vamos falar sobre isso neste sermão.

Qual foi o primeiro efeito do conhecimento do bem e do mal? Os olhos de Adão e Eva se abriram, e eles perceberam que estavam nus. E qual foi o segundo efeito? Eles se esconderam de Deus. Notem que o conhecimento do bem e do mal trouxe, para eles, dois sentimentos: vergonha e culpa. Guarde bem essas palavras, porque são desses sentimentos negativos que precisamos ser libertos.

Antes, vamos procurar conceituar o que vem a ser a nossa consciência, à luz da palavra de Deus.

A nossa consciência não é outra coisa senão a Lei de Deus gravada em nosso coração. Muito antes de recebermos a Lei por meio de Moisés, ela já existia dentro de nós, gravada na nossa consciência. O homem já sabia que era errado matar, mentir e cobiçar, muito antes de Deus gravar esses mandamentos na tábua da Lei e entregá-la a Moisés.

Acredito que a bíblia chame a consciência de conhecimento do bem e do mal, porque de fato é um conhecimento. É algo que a pessoa sabe, mesmo que ninguém a tenha ensinado. Uma pessoa pode crescer em total isolamento, que ela vai desenvolver esse conhecimento dentro dela. Ela vai ter uma noção de certo e errado.

O apóstolo Paulo escreveu sobre isso. Ele disse:

De fato, quando os gentios, que não têm a Lei, praticam naturalmente o que ela ordena, tornam-se lei para si mesmos, embora não possuam a Lei; pois mostram que as exigências da Lei estão gravadas em seu coração. Disso dão testemunho também a sua consciência e os pensamentos deles, ora acusando-os, ora defendendo-os.

Veja, todo ser humano tem dentro de si gravada as exigências da Lei de Deus. Segundo o apóstolo Paulo, este mandamento de Deus é santo, justo, bom e espiritual. Isto significa que cada um de nós, mesmo os ímpios, tem algo de santo, justo, bom e espiritual dentro dele — algo como uma fagulha divina — , e esta é a causa de ainda haver algo de bom no mundo.

Nossa consciência exerce basicamente quatro papéis dentro de nós. Ela nos julga, nos acusa, nos defende e ainda testemunha. Qualquer semelhança com o poder judiciário, nas figuras do juíz, promotor, advogado e testemunha não é mera coincidência. De fato, a base da justiça como a conhecemos é a consciência do ser humano.

Se existe corrupção no poder judiciário e se existem juízes, promotores ou advogados corrompidos, é porque a nossa consciência pode ser corrompida, pelo pecado. Pior do que isso, ela pode ser deturpada, cauterizada e destruída, deixando a pessoa sem freios morais. Quando isso acontece, as pessoas se entregam ao pecado, sem nenhum tipo de culpa.

Engana-se quem pensa que o fim da consciência representa um retorno à inocência do Éden. Não, em um mundo como o nosso, o fim da consciência representa o governo desenfreado do pecado. Cristo não veio remover a nossa consciência, para voltarmos a ter a inocência do Éden. Não, ele veio para nos redimir do pecado e nos libertar do peso da culpa.

O autor de Hebreus escreveu que “o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a Deus, purifica a nossa consciência de atos que conduzem à morte, para que sirvamos ao Deus vivo!” Ele veio para nos dar uma consciência limpa, que as ofertas e sacrifícios do Antigo Testamento não puderam nos dar.

‭Qual seria o significado de purificar a consciência de atos que levam à morte? Nós vimos aqui que os atos da nossa consciência são os de nos julgar e nos condenar. Vimos, também, que no dia do julgamento final a nossa consciência será um libelo de acusação. Esses são os atos da nossa consciência que levam à morte.

Nesse sentido, uma consciência pura e limpa é uma consciência sem culpa, isto é, uma consciência que não mais nos condena. Não porque tenha sido cauterizada, para parar de nos julgar, mas sim porque fomos absolvidos, pelo sangue de Cristo Jesus. Agora podemos comparecer perante Deus sem culpa.

O autor de Hebreus também escreveu:“Assim, aproximemo‑nos de Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, porque o nosso coração foi purificado de uma consciência má e o nosso corpo lavado com água pura”. Ninguém pode ter uma plena convicção de fé, se não estiver munido de uma consciência limpa e um coração puro.

O apóstolo João escreveu: “Amados, se o nosso coração não nos condena, temos confiança diante de Deus, e dele recebemos tudo o que pedimos.” É impossível ter fé e e culpa ao mesmo tempo, por isso uma das grandes estratégias de Satanás para minar a nossa fé é gerar em nós um sentimento de culpa; é fazer com que a nossa consciência nos condene.

A culpa nos afasta de Deus e nos impede de receber qualquer coisa dele. Quando a nossa consciência nos acusa, agimos como Adão e Eva no jardim. Em vez de sentirmos confiança, o que sentimos é vergonha e culpa. Não é nem que Deus se afaste de nós. Somos nós que nos afastamos dele, que cobrimos as nossas vergonhas e nos escondemos.

O novo nascimento tem uma estreita relação com a nossa consciência. O apóstolo Paulo chama o nosso batismo nas águas de um compromisso de uma boa consciência. Ele próprio disse: “tenho em Deus a esperança de que haverá ressurreição tanto de justos como de injustos. Por isso, procuro sempre conservar limpa a minha consciência diante de Deus e dos homens.”

‭‭Como nós mantemos limpa a nossa consciência? Obviamente, nos guiando com base nela. Uma consciência restaurada é como uma bússola, capaz de nos guiar em nossas decisões. Mais do que isso, a consciência do cristão é um instrumento de confirmação nas mãos do Espírito Santo. O apóstolo Paulo escreveu: “minha consciência o confirma no Espírito Santo.

A nossa consciência também é um instrumento de discernimento. “O que somos está manifesto diante de Deus e espero que esteja manifesto também diante da consciência de vocês”, escreveu o apóstolo Paulo. Paulo esperava que a igreja conseguisse discernir o que eles eram, por meio da consciência. Nós muitas vezes sentimos quando algo é bom ou é ruim; quando é de Deus ou não é.

‭‭Diz a Bíblia que Davi ficou de consciência pesada quando cortou uma ponta do manto de Saul e se desculpou pelo que fez. Também está escrito que foi por se sentirem acusados pela consciência, que ninguém se atreveu a atirar pedra na mulher adúltera, quando Jesus lhes disse que os que estivessem sem pecado poderiam atirar.

O apóstolo Paulo também escreveu: “Bem-aventurado o homem que não se condena naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvida é condenado se comer, porque não come com fé; e tudo o que não provém da fé é pecado.” Comer com fé, neste caso, é comer sem achar que é pecado. Quando comemos pensando que é pecado, duvidamos, e tudo o que não provém da fé é pecado.

Veja a importância da consciência, neste caso. Mesmo que não seja pecado, algo pode se tornar pecado se a nossa consciência nos condenar. Em outras palavras, para pecarmos, basta fazermos algo certo, pensando que é errado. Por que? Porque tudo o que não provém da fé é pecado. Neste caso, nossa consciência e a vontade de Deus estão fora de sintonia.

Quando a nossa consciência nos acusa por aquilo de que Cristo nos libertou, precisamos nos lembrar do que escreveu o apóstolo Paulo: “Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Foi Cristo Jesus que morreu; e mais, que ressuscitou. Ele está à direita de Deus e também intercede por nós.” E, também: “se o nosso coração nos condena, Deus é maior do que o nosso coração e sabe todas as coisas.

‭‭Que possamos dizer com Jó:

Manterei minha retidão, e nunca a deixarei; enquanto eu viver, a minha consciência não me repreenderá.