Quando Adão pecou, ele não morreu imediatamente. A morte passou a reinar em sua vida e foi operando aos poucos, até ele finalmente morrer e voltar ao pó. Acontece algo parecido com a nossa ressurreição, ela foi inaugurada no momento em que o poder da ressurreição começou a operar em nossos corpos mortais e será concluída com a nossa imortalidade.
Ainda não recebemos a redenção dos nossos corpos, mas já recebemos os primeiros frutos do Espírito. Esta nossa atual ressurreição — que eu chamo de ressurreição inaugurada — é um tema fartamente desenvolvido nas escrituras, especialmente pelo apóstolo Paulo, conforme veremos no presente sermão, composto pela exposicao de uma coletânea de textos bíblicos.
Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para a vida.
Segundo Calvino, “não há impropriedade em dizer que já passamos da morte para a vida; pois a semente de vida incorruptível [1Pe 1.23: Sendo de novo gerados, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, viva e que permanece para sempre.] reside nos filhos de Deus.” Esta semente da vida incorruptível já está germinando na vida do crente e está dando os primeiros frutos para a glória de Deus. O poder irresistível da ressurreição já está em operação, em oposição ao domínio da morte. Os grilhões da morte já estão sendo rompidos, porque nós já passamos da morte para a vida!
Vocês foram sepultados com ele no batismo, e com ele foram ressuscitados mediante a fé no poder de Deus que o ressuscitou dentre os mortos.
Neste texto paulino, vemos que o mesmo poder que ressuscitou a Cristo dentre os mortos — o apostolo faz questão de ressaltar este fato — atuou, igualmente, em nossa ressurreição. O que ele pretende deixar claro é que o poder que atuou na ressurreição de Cristo, o poder que atuará na nossa ressurreição futura, já está em operação aqui e agora, por meio da nossa fé.
Fomos sepultados com ele na morte por meio do batismo, a fim de que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova.
Segundo este texto, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a manifestação da glória do Pai, nós também fomos ressuscitados mediante a manifestação dessa mesma glória, para vivermos uma vida nova. Mais uma vez, o objetivo é deixar claro que o mesmo poder que operou na ressurreição de Cristo, isto é, o poder da ressurreição, já está operando aqui e agora na nova vida que temos em Cristo.
Aquele que ressuscitou a Cristo dentre os mortos também dará vida a seus corpos mortais, por meio do seu Espírito, que habita em vocês.
A ideia se repete novamente aqui. Aquele que dá vida ao nosso corpo mortal, isto é, o Pai, é o mesmo que ressuscitou a Cristo. O poder da ressurreição já está em operação aqui e agora. Nosso corpo ainda é mortal, mas recebeu uma infusão de vida sobrenatural da parte do Espírito, ainda não o suficiente para trazer-nos a imortalidade, mas o suficiente para vivermos uma vida poderosa, no poder do Espírito. Este é o poder que amarra Satanás, que liberta os cativos e inaugura o Reino de Deus.
Se dessa forma fomos unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente o seremos também na semelhança da sua ressurreição.
A nossa nova vida em Cristo é uma vida de ressurreição, a semelhança da vida do Cristo ressurrecto — e juntamente com ele. O poder da ressurreição nos resgatou do domínio das trevas e nos transportou para o Reino de Cristo, onde as trevas não reinam. Se existe um Reino de Cristo inaugurado, existe também uma ressurreição inaugurada. Este poder que está operando em nós é o poder que capacita o nosso Senhor Jesus Cristo a colocar todas as coisas debaixo do seu domínio e que, por fim, transformará nossos corpos humilhados, tornando-os semelhantes ao seu corpo glorioso (Fp 3.21)
Pois sabemos que, tendo sido ressuscitado dos mortos, Cristo não pode morrer outra vez: a morte não tem mais domínio sobre ele.
Neste texto vemos que a ressurreição rompe com o reinado da morte e põe fim ao seu domínio. Na nossa ressurreição inaugurada somos duplamente libertos da morte, por Cristo, primeiro porque ele nos liberta em termos legais e, segundo, porque ele nos liberta na prática, pela operação do poder da ressurreição em nós. Se o poder que ressuscitou a Cristo dos mortos está em operação em nós, a morte já perdeu seu domínio, porque jamais o mais fraco poderá dominar sobre o mais forte.
Ciente da importância do que estamos falando, o apóstolo faz a seguinte oração:
Oro também para que os olhos do coração de vocês sejam iluminados, a fim de que vocês conheçam […] a incomparável grandeza do seu poder para conosco, os que cremos, conforme a atuação da sua poderosa força. Esse poder ele exerceu em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e fazendo-o assentar-se à sua direita, nas regiões celestiais, muito acima de todo governo e autoridade, poder e domínio, e de todo nome que se possa mencionar, não apenas nesta era, mas também na que há de vir.
Nesta oração, mais uma vez, o apóstolo ressalta que o poder que já está operando em nós é o mesmo que atuou na ressurreição se Cristo. Ele ora para nós conheçamos a incomparável grandeza desse poder para conosco, os que cremos.
Conclusão
A partir do momento em que cremos em Cristo, o poder da ressurreição passou a operar em nosso corpo mortal, na pessoa do Espírito Santo que habita em nós. Temos um poder operando em nós que já venceu a morte, não apenas na ressurreição de Cristo, mas também em seu ministério terreno. Este é o poder irresistível de Deus que hoje nos liberta do domínio do pecado e cura as nossas enfermidades, e que no futuro nos dará um corpo glorificado.