Tudo o que aquela mulher fez foi construir um quartinho para Eliseu, com uma cama, uma mesa e uma lamparina, para o conforto do homem de Deus, quando passasse por Suném. Foi um gesto de bondade que não lhe custou muito, considerando que ela era rica, mas que comoveu o coração de Eliseu — que não devia estar acostumado a ser tratado assim — , de uma tal forma que ele não iria descansar enquanto não fizesse algo para retribuir.
O empecilho era que aquela mulher não tinha abençoado Eliseu por interesse, ou com segundas intenções, mas apenas por ser ele um santo homem de Deus. Nada lhe faltava, exceto um filho — conforme notara o servo de Eliseu — e ai estava algo que Eliseu poderia fazer por ela. Ele não tinha prata nem ouro, mas ele era homem de Deus e tinha a fé que faz prodígios.
Ele mandou chamar a mulher e lhe disse: “Por volta desta época, no ano que vem, você estará com um filho nos braços”. Ela contestou: “Não, meu senhor. Não iludas a tua serva, ó homem de Deus!” Aquela mulher já tinha aceitado a sua sorte, quanto a não poder ter um filho, até porque o seu marido já era idoso e ela também não deveria ser tão nova, ou pelo menos era o que ela pensava… porque as palavras de Eliseu tinham aberto feridas antigas. "Não iludas a tua serva", são as palavras de uma mulher cansada de esperar por algo que nunca veio, e que não estava disposta a ter expectativas mais uma vez.
Mas era isso, aquela mulher tinha construído um quartinho para o homem de Deus, despretensiosamente, e, em troca, tinha recebido a promessa de um filho. Imaginem a alegria daquela mulher, quando a promessa se cumpriu no ano seguinte.
O menino cresceu cheio de saúde, até que um dia os ceifeiros o trouxeram do campo, gritando de dor de cabeça, e o deixaram com a sua mãe, que o viu morrer em seu colo. Aquilo não fazia sentido! Ela subiu ao quarto do homem de Deus, deitou o menino na cama, saiu e fechou a porta. Ela não contou nem para o marido o que tinha acontecido — disse para ele não se preocupar— , pegou uma jumenta e saiu em busca do homem que lhe tinha prometido um filho.
Quando o servo de Eliseu lhe perguntou se estava tudo bem, ela manteve a compostura e respondeu que estava tudo bem, entretanto quando diante do homem de Deus ela desabou aos seus pés. Eliseu percebeu a angústia dela e ficou surpreso, porque o Senhor escondera dele o motivo — geralmente Deus lhe contava tudo! A mulher lhe disse: “Acaso eu te pedi um filho, meu senhor? Não te disse para não me dar falsas esperanças?”
Aí estava a questão que aquela mulher não entendia. Que tipo de Deus é esse, que nos dá o que sempre sonhamos— mesmo que não tenhamos pedido — , para depois tirar de nós? Pior do que ser iludida com a promessa de ter um filho, era ser iludida com a realidade de ter um filho, mas o filho lhe ser tirado muito precocemente, como um floco de neve que desvanece entre os dedos.
Se o profeta lhe tivesse dito em que condições ela receberia um filho, ela jamais teria aceitado; teria preferido mil vezes a dor — já superada — de não poder ter, do que a dor de ver o filho morrer em seus braços, ainda criança. Agora, o que ela estava fazendo ali, diante de Eliseu? Certamente, ela não queria apenas desabafar; isso ela poderia fazer a qualquer momento, depois de sepultar o filho. Ela queria, obviamente, que Deus lhe restituisse o filho; queria tê-lo vivo novamente em seus braços; queria vê-lo novamente correndo pelos campos; queria acordar daquele pesadelo, onde nada fazia sentido.
No entanto, os céus ainda estavam em silêncio; Deus nada tinha dito ao seu servo a respeito daquela tragédia, mas isso pouco importava para Eliseu. O que importava é que ele era servo de Deus e tinha a fé que faz prodígios! A dinâmica do seu ministério era simples: ele falava com ousadia, e o Senhor respondia com poder; e isso nunca tinha falhado.
O que para aquela mulher era a tragédia de uma vida, para o homem de Deus era só mais um dia na fila do pão. Ele comia afronta no café da manhã e perseguição no almoço; jantava oposição e, de sobremesa, devorava traição, mas em todas essas coisas ele sempre foi mais do que vencedor. Mesmo um exército inteiro não conseguia destruí-lo, porque maior era o que estava com ele.
Deus estava lá, apesar do silêncio, ele sabia… ele sempre soube. Deus não precisava lhe dizer o que fazer, porque ele sabia o que era certo a se fazer neste caso. Deus não é um deus de ilusões; não é um deus que abençoa para desabençoar; não é um deus que envergonha seus servos; não é um deus bipolar que vive dizendo sim e não. Deus é fiel em tudo que faz; sua misericórdia dura para sempre; seu amor é de geração em geração; seu trono é um trono de graça. Conhecer o caráter de Deus, na maioria das vezes, é toda a resposta de que precisamos.
Eliseu mandou seu servo correr o mais rápido possível, até onde estava o garoto para colocar o seu cajado sobre o rosto dele, pensando que, com isso, o milagre se daria, mas o garoto não reagiu. Quando ele chegou, fechou-se no quarto com o garoto e orou a Deus, mas o menino não reagiu. Por fim, deitou-se sobre o menino, para que seu corpo fosse aquecendo, mas também não houve resultado.
Eliseu levantou, começou a andar pelo quarto; depois subiu na cama e debruçou-se mais uma vez sobre ele. Desta vez, o menino espirrou e abriu os olhos. Deste modo, o filho da sunamita lhe foi restituído e o nome de Senhor foi glorificado, porque não permitiu que a morte roubasse o presente que lhe havia dado.