“Mestre”, disse João, “vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos.” “Não o impeçam”, disse Jesus. “Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor.”
Na teologia incipiente dos discípulos, apenas eles tinham o direito de usar o nome de Jesus para operar milagres. Era um pensamento teológico coerente, afinal Jesus tinha escolhido pessoalmente cada um deles e os tinham comissionado para aquela missão:
"Por onde forem, preguem esta mensagem: O Reino dos céus está próximo. Curem os enfermos, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios."
Imagine a surpresa deles, quando viram um homem desconhecido usando o nome de Jesus para expulsar demônios… e os demônios obedecendo. Eles confrontaram o homem e tentaram impedi-lo, porque ele não era um deles, mas o homem não lhes deu ouvido. Os discípulos foram, então, delatar este homem petulante a Jesus, para que Jesus fizesse alguma coisa a respeito. No mínimo, eles esperavam que Jesus ficasse tão indignados quanto eles ficaram.
Não o impeçam, disse Jesus. Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim em seguida. Com estas palavras, Jesus reconheceu que aquele homem desconhecido, que não andava com eles, que não tinha sido enviado por ele, estava fazendo milagres em seu nome. Um desconhecido fazendo milagres em nome de Jesus! Você consegue imaginar isso? Que homem atrevido, petulante, ousado e… cheio de fé!
Sim, porque não é como se qualquer pessoa pudesse sair por aí, invocando o nome do Senhor para expulsar demônios. Que o digam os filhos de Ceva, que tentaram expulsar um espírito maligno invocando o nome do Jesus [a quem Paulo pregava], e foram espancados e ridicularizados pelo demônio. “Jesus, eu conheço, Paulo, eu sei quem é; mas vocês, quem são?”, disse o espírito maligno.
Por que o homem desconhecido teve sucesso em usar o nome de Jesus, mas os filhos de Ceva não? A resposta está nas palavras de Jesus: “Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor.” Em outras palavras: ninguém que fale mal de mim, ou que seja contra nós, pode fazer um milagre em meu nome.
Para usar o nome de Jesus, com sucesso, no mínimo, a pessoa tem que falar bem de Cristo e tem que ser a favor da sua causa. Esse era o ponto, no caso dos filhos de Ceva. Ceva era um sumo sacerdote judeu, que muito provavelmente perseguia os cristãos. Seus filhos, igualmente, deviam ser contrários à causa de Cristo.
Convenhamos que os requisitos para usar o nome de Jesus, com sucesso e sem impedimentos, não são lá muito rigorosos. Os discípulos pensaram que era necessário que a pessoa fosse um deles, mas tiveram que rever sua teologia. Pensaram que era necessário um comissionamento, mas não. O nome de Jesus estava à disposição para ser usado por qualquer pessoa que fosse a favor da causa de Cristo e tivesse fé o suficiente.
Os próprios discípulos falharam em expulsar um demônio, certa vez, e quando perguntaram a Jesus, porque não tiveram êxito, Jesus lhes respondeu: É porque a fé que vocês tem é pequena. Se a fé deles era pequena, o que podemos dizer a respeito da fé do homem desconhecido? Ora, era sem dúvida uma fé impressionante.
Ninguém falou que ele poderia fazer, mas ele foi lá e fez… e os milagres começaram a acontecer. Ele não foi escolhido, não foi comissionado, não fazia parte do grupo, mas se sentiu no direito de usar o nome de Jesus e alcançou o sucesso. Por fim, ele não se deixou intimidar, quando os discípulos lhe apresentaram uma teologia equivocada que o excluía do exercício dos milagres, por não ser um dos apóstolos.
Por incrível que pareça, esta teologia desautorizada por Jesus persiste até os dias de hoje, como se os milagres em nome de Jesus estivessem restritos aos apóstolos. Como precisamos, nos dias de hoje, de pessoas petulantes e ousadas, como aquele homem desconhecido, que não se sujeitam a cercadinhos teológicos criado por homens e se arriscam a fazer o que os outros não se atrevem!