O sacrifício substitutivo de Cristo

December 22, 2023

O Senhor fez dele [do servo sofredor] uma oferta pela culpa

A melhor forma de entender Isaias 53, ao meu ver, passa por essa afirmação, no texto, de que Cristo foi feito uma oferta pela culpa, um tipo de sacrifício prescrito no Antigo Testamento. Nesta oferta, o ofertante oferecia um animal ao Senhor, pela culpa do seu pecado, para que o sacerdote fizesse a devida propiciação.

A palavra “propiciação” implica em satisfazer a justiça divina e remover a culpa associada ao pecado. O sacrifício oferecido simbolizava a substituição do pecador e a transferência simbólica de sua culpa para o animal, que era morto no lugar do ofertante. Deste modo, o castigo pelo pecado era desviado para o animal, para que o ofertante pudesse ser perdoado.

No entanto, este sacrifício não tinha nenhum valor em si mesmo, pois, como dizem as escrituras, é impossível que o sangue de touros e bodes tire pecados. O seu valor estava exatamente em apontar para Cristo como sendo o verdadeiro cordeiro, sem mancha nem defeitos.

Segundo Isaias 53, Cristo foi feito oferta pela culpa, foi levado como um cordeiro para o matadouro e, por fim, foi eliminado da terra dos viventes. O texto também diz que ele levou sobre si as nossas iniquidades, para que fôssemos justificados, isto é, perdoados.

Contudo, há algumas diferenças em Isaias 53 que tornam único o sacrifício de Cristo, em comparação à oferta pela culpa. Na oferta pela culpa, os animais oferecidos eram simplesmente degolados, não eram espancados, nem esmagados, nem oprimidos, nem afligidos, como descrito em Isaias 53.

Na oferta pela culpa, interessava, apenas, o derramamento de sangue, porque sem derramamento de sangue não há perdão de pecados. No caso do sacrifício de Cristo, além do sangue derramado, interessavam, também, as pisaduras; interessava todo o sofrimento adjacente.

Isto nos mostra que o sacrifício de Cristo foi muito além do exigido e prescrito no livro da Lei. Com que fim ele foi sujeito à tamanho sofrimento? Bem, ao meu ver o objetivo só pode ser o de obter para nós benefícios ainda maiores.

E quais seriam esses benefícios? Isaias 53 diz que pelas suas pisaduras nós fomos curados de nossas enfermidades e doenças. Cada pedaço arrancado da sua pele pelo açoite do carrasco foi uma forma dele sofrer as nossas doenças em nosso lugar e experimentar no seu corpo as nossas dores.

Era o nosso Senhor Jesus fazendo provisão para a cura do nosso corpo físico. Digo que era uma provisão para a cura do nosso corpo físico, porque há quem diga que é uma provisão de cura espiritual. Todavia, Cristo sofreu fisicamente.

Que é uma provisão para a cura física fica claro no livro de Mateus, que aponta o cumprimento desta profecia no ministério de cura de Jesus. Naquela ocasião o mestre curou fisicamente todos, sim todos, os enfermos levados a ele.

Muito já se disse sobre esta passagem, por conta disso. Inclusive, que o cumprimento da profecia está restrito ao ministério de cura terreno de Jesus. No entanto, em Isaias 53 fica claro que ele tomou sobre si as enfermidades de todos aqueles por quem ele foi traspassado.

Mais recentemente, teólogos renomados — como Carson, por exemplo — reconhecem que há cura na expiação, todavia, segundo eles, esta provisão de cura é uma benção futura, que está relacionada com a redenção dos nosso corpos, que ainda não aconteceu.

Eu pergunto: Como pode ser uma benção futura se há mais de dois mil anos Jesus curou milhares de pessoas, como cumprimento desta profecia? E por acaso não foi com base nas pisaduras de Cristo, que pessoas foram curadas pelos apóstolos, pelos presbíteros e pelas pessoas com o dom da cura?

Neste ponto, muitos teólogos se apoiam em fatos históricos e argumentos extra bíblicos para negar que a cura seja um benefício para o tempo presente, todavia, de que valem esses argumentos? [Não podemos interpretar a palavra de Deus, à luz da nossa experiência.]

O texto de Isaias 53 diz que Cristo levou sobre si as nossas doenças e enfermidades, o que pressupõe que não devemos mais levá-las nós mesmos. Quando nós mesmos levamos nossas enfermidades, está provisão se perde e anulamos as pisaduras de Cristo.

Por isso mesmo, não pode ser uma benção futura. Vamos supor que aquelas pessoas que Jesus curou não tivessem sido curadas, neste caso elas não poderiam receber a cura no futuro, porque, então, elas já teriam levado [sofrido em vida] as suas enfermidades.

Dado o contexto bíblico, isto não significa que, ao crerem em Cristo para salvação, as pessoas serão automaticamente curadas das suas enfermidades, mas é desta fonte que provém as curas prometidas em Marcos 16, em Tiago 5 e Coríntios 12.

Considerando que Cristo levou sobre si as enfermidades de todos os crentes, todos os crentes podem crer em Cristo para serem curados de todas as suas enfermidades. Segundo a Bíblia, o enfermo está a uma oração de fé de distância da cura da sua doença.

Deste modo, todo crente pode afirmar, como o salmista: é ele que perdoa todos os seus pecados e cura todas as suas doenças. [Perceba como o salmista, que viveu muito antes de Cristo, conseguiu usufruir da provisão da cruz de forma mais completa do que a maioria dos cristãos de hoje.]

Este texto escrito pelo salmista e praticamente irmão gêmeo deste outro escrito pelo apóstolo Tiago: confessem seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. Onde os pecados foram perdoados, a cura divina pode ser pedida, porque a raiz de toda doença é o pecado.

Não podemos fazer pouco caso desta provisão de cura à nossa disposição, porque, como dissemos antes, o nosso Senhor Jesus Cristo se sujeitou aos piores flagelos para nos curar, indo muito além do que prescrevia o livro da Lei no tocante à oferta pela culpa. Isto só pode significar que é a sua vontade curar, em todo tempo, o máximo de pessoas possível.