De modo que, de agora em diante, a ninguém mais consideramos do ponto de vista humano. […] Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já passaram; eis que surgiram coisas novas! 2 Co 5.16–17
O apóstolo Paulo usa alguns conceitos próprios, para expressar em palavras alguns aspectos importantes do evangelho de Cristo. Um desses conceitos está presente na expressão "em Cristo", muito recorrente em suas cartas. Segundo o apóstolo, nós estamos em Cristo.
Não é usual dizer que estamos em alguém, mas o apóstolo faz uso deste tipo de expressão não apenas com relação à Cristo. Ele também usa a expressão “em Adão”, em um sentido parecido, o que nos ajuda a entender o que significa estar em Cristo.
Quando estamos em Adão ou em Cristo, partilhamos com eles de suas obras —quer sejam boas ou más — e recebemos da parte de Deus o que essas obras merecem, como se de Deus olhasse para nós e visse a eles. É nesse sentido que estamos em Adão ou Cristo.
Daí o versículo:
“Pois, da mesma forma que em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados.” 2 Co 15.22
Se, em Adão, nós comemos do fruto e recebemos o castigo, em Cristo nós praticamos a justiça e recebemos a recompensa dessa justiça. A diferença é que, por piores que tenha sido as consequências do pecado de Adão (e foram terríveis), as bênçãos da justiça de Cristo são muito maiores.
Uma única vez, o apóstolo usa a expressão “em Adão”, mas ele usa inúmeras vezes a expressão “em Cristo”, tantas são as bênçãos que recebemos nele. Em Cristo, estão represadas todas as bênçãos de Deus, espirituais ou materiais, para esta vida e a futura.
Sobre bençãos espirituais, o apóstolo Paulo escreveu que fomos abençoados com todas as bênçãos espirituais em Cristo (Ef 1.3). Sobre bênçãos materiais, ele escreveu que o seu Deus supriria todas as nossas necessidades — e aqui ele está falando de necessidades materiais —, de acordo com as suas gloriosas riquezas em Cristo Jesus (Fp 4.19).
No Antigo Testamento há incontáveis promessas condicionais, cujas condições foram atendidas unicamente por Cristo e que nos alcançam por estarmos Nele. Paulo escreveu que tantas quantas forem as promessas feitas por Deus, todas tem em Cristo o sim (2 Co 1.20).
Nós conhecemos muitas dessas promessas, mas olhamos para elas fora de Cristo, como se coubesse a nós cumprir as condições da promessa, então tentamos e falhamos em cumprir essas condições e recebemos o “não” de Deus, porque essas promessas recebem o “sim” apenas em Cristo Jesus.
O apóstolo Pedro escreveu que Deus nos deu suas preciosas promessas, para que por elas nos tornássemos participantes da natureza divina e fugíssemos da corrupção que há no mundo, causada pela cobiça. Por meio dessas promessas, Deus nos deu tudo o que precisamos para a vida e para a piedade (2 Pe 2.4).
Todavia, ele nos deu essas promessas em Cristo. Se estamos em Cristo, precisamos ler as escrituras, também, em Cristo. Não nos enganemos, fora de Cristo não encontraremos nada na palavra de Deus, a não ser condenação; a não ser maldição. Esse é o erro em que incorrem muitos cristãos, por falta de conhecimento.
Devemos ser como o apóstolo Paulo, que considerou todos os seus méritos próprios como esterco, para poder ser achado em Cristo, e não ter a sua própria justiça, mas a que vem pela fé (Fp 3.8–9). Quando estamos em Cristo, somos tratados com base na sua justiça e não na nossa.
Os que buscam ser tratados com base em seus próprios méritos caem da graça e se separam de Cristo, segundo o apóstolo Paulo (Gl 5.4). Em outras palavras, deixam de estar em Cristo e se colocam, novamente, em Adão. Por melhores que estas pessoas sejam, elas carregam sobre si seus próprios pecados e, ainda, o de Adão. Estão debaixo de maldição.
Precisamos parar de olhar para nós mesmos do ponto de vista humano (2 Co 5.16) e passar a olhar para quem somos em Cristo Jesus… e nós somos o que ele foi, como homem. Se ele é descendência de Abraão, nós também somos. Se ele é rei e sacerdote, nós também somos. Se ele é o primogênito dentre seus irmãos, nós também somos.
Sobre sermos descendentes de Abraão, o apóstolo Paulo escreveu que em nosso batismo nos revestimos de Cristo e assim nos tornamos descendentes de Abraão (Gl 3.27, 29). É deste modo que a bênção de Abraão, que passava de pai para filho [até passar a ser uma benção tribal] chegou até nós, que estamos em Cristo.
Sobre sermos primogênitos, o autor de Hebreus escreveu que na Jerusalém celestial há uma igreja dos primogênitos, cujos nomes estão escritos nos céus (Hb 12.23). Esta é a igreja a que pertencemos, porque estamos em Cristo e ele foi o primogênito entre seus irmãos. Como tal, temos direito à herança completa.
Segundo o evangelho confiado por Deus ao apóstolo Paulo, os gentios são co-herdeiros com Israel, membros do mesmo corpo, e coparticipantes da promessa em Cristo Jesus (Ef 3.6). É por estarmos neste Cristo judeu, da tribo de Judá, que nós nos tornamos um com Israel, co-herdeiros e coparticipantes da mesma promessa.
Conforme vimos, nós nos revestimos de Cristo por meio do batismo (Gl 3.27). Em outras palavras, nós passamos a estar em Cristo pela fé. Segundo o apóstolo, assim como nós recebemos Cristo Jesus, o Senhor, devemos continuar a viver nele, enraizados e edificados nele, firmados na fé, como fomos ensinados, transbordando de gratidão (Cl 2.6–7).
Esta é a nossa parte na equação, todavia não precisamos nos desesperar como se, por esse motivo, estar em Cristo dependesse de nós. Não depende. Segundo o apóstolo Paulo, é por iniciativa de Deus que nós estamos em Cristo Jesus (1 Co 1.30) e é, também, ele que faz com que nós permaneçamos firmes em Cristo (2 Co 1.21).
Em sua carta a Filemon, o apóstolo ora para que seu destinatário alcance o pleno conhecimento de todo o bem que temos em Cristo (Fl 1.6). Por certo, Filemon tinha um conhecimento parcial e havia muito mais de Deus, em Cristo, para ele conhecer e, consequentemente, viver, do que ele supunha. O mesmo vale, também, para nós.
Oremos para que o Senhor também nos ilumine.