Sou filho de pastor, o mais velho de três irmãos. No ano de 1988, aos oito anos de idade, mudei-me com minha família do interior de São Paulo para a Argentina, onde meus pais foram servir a Deus como missionários de uma igreja pentecostal. Lá passei parte da minha infância e adolescência em duas pequenas cidades chamadas La Paz e Santa Elena, às margens do rio Paraná. Voltamos para o Brasil em 1996, por decisão dos nossos pais, para desgosto meu e de meus irmãos, que já estávamos adaptados e apegados à vida que levávamos naquele país.
Eu e meus irmãos sempre tivemos muitos amigos filhos de pastores, como nós, graças às amizades ministeriais dos nossos pais. Muitos deles tiveram problemas de relacionamento com seus pais, na adolescência, e uma grande quantidade se afastou de Deus. Em meados de 1998, impressionado com este fenômeno e, talvez, motivado também pela saudade da Argentina, escrevi o que era para ser uma peça de teatro, chamada “O retorno de Jeremias”. A história de um filho de pastor que brigava com o pai e voltava para casa depois de quinze anos, para fazer as pazes, mas encontrava o pai em coma.
Eu era bem pretensioso, na época, e pensava que muitos filhos de pastores poderiam se reconciliar com seus pais, por meio dessa peça, que infelizmente nunca saiu do papel. Algum tempo depois, tive a ideia de transformar a história em um livro. Incorporei um romance à história, passei alguns anos escrevendo, e terminei a primeira versão do livro em 2005, ainda com poucas páginas, com o título “Filho de Pastor”. Contudo, o livro só foi publicado dezessete anos depois dessa primeira versão, no ano de 2022. A esta altura, eu já tinha deixado de me identificar com o protagonista, e passei a me identificar com o pai dele. Isto me ajudou a repensar todo o livro.
Por que o livro ficou em segundo plano? O que aconteceu nesses dezessete anos? A vida aconteceu. Em 2006 conheci aquela que se tornaria a minha esposa, e vivi um romance digno de um livro. Fundei uma empresa de tecnologia, enfrentei dificuldades financeiras, me tornei pastor como meu pai, pastoreei uma igreja e Deus me deu dois lindos filhos. Até que, por fim, alcancei a estabilidade e a maturidade necessária para retomar meu sonho antigo de escritor, do qual nunca desisti. Minha história sempre foi marcada pela fé em Deus. Assim como o meu protagonista, vivi momentos de dúvidas e desânimo, mas Deus teve misericórdia de mim.