Levaram a Jesus um homem endemoninhado, cego e mudo. Além do fato de não poder enxergar ou falar, ele devia manifestar algum sintoma de possessão, já que a sua condição espiritual parecia ser do conhecimento de todos. Jesus, então, o curou e ele passou a enxergar e ver.
Na sequência, houve uma discussão entre Jesus e os fariseus, a respeito dos aspectos espirituais daquele milagre. O argumento dos fariseus [de que era por Satanás que Cristo expulsava os demônios] é pura canastrice e não merece maiores considerações, no entanto a refutação de Jesus é cheia de significado e merece maior análise.
Jesus disse que expulsava os demônios por meio do Espírito de Deus, logo tinha chegada aos homens o reino de Deus. Ou seja, os demônios sendo expulsos e as pessoas sendo libertas do jugo de escravidão, pela ação Espírito Santo, era um sinal de que o reino de Deus tinha chegado, estava presente e operando entre os homens.
O reino demoníaco de Satanás não estava dividido, antes estava sendo saqueado pelo Reino de Deus. A chegada do Reino de Deus é, nesta passagem, um acontecimento espiritual, com reflexos no mundo material. Este conflito entre dois reinos pode pressupor uma batalha, mas não há uma batalha sendo travada aqui.
Não há batalha possível entre o Espírito de Deus e Satanás, entre o Reino de Deus e o reino das trevas. Anjos batalham contra anjos, humanos contra humanos, mas quem poderia prevalecer contra o Espírito de Deus? Quando o Espírito de Deus intervêm, não há oposição possível. Satanás fica de mãos atadas.
Jesus deixa isso claro, quando diz: “Ou, como [de que outra forma] pode alguém entrar na casa do homem valente, e furtar os seus bens, se primeiro não maniatar o valente, saqueando então a sua casa?” Satanás aqui é descrito como homem forte e valente, para revelar um poder muito mais poderoso em operação e para ressaltar a obra de Cristo.
Jesus estava entrando na casa do diabo, estava maniatando o próprio príncipe das trevas, e isto não era algo a ser menosprezado, como estavam fazendo os fariseus.
É muito provável que a casa de Satanás a que Jesus se referia era o próprio mundo [o mundo jaz no maligno], e os seus bens era as pessoas. Esta afirmação não deveria espantar, uma vez que um escravo não é nada além de uma posse, do que um bem, para aquele a quem pertence.
Pois bem, Jesus tinha feito mais do que expulsar os demônios ou curar os enfermos. Para que tudo isso fosse possível, primeiro Jesus entrou na casa do príncipe dos demônios e o maniatou. Só então, passou a saquear os seus bens e espoliá-lo, como tinha feito no caso daquele endemoninhado, cego e mudo.
A ação de Cristo é descrita em termos de roubar, ou seja, de tirar o que por direito pertence a outro. Repare como, nesta comparação, a casa e os bens pertencem ao homem forte. Jesus estava saqueando o reino das trevas, daquilo sobre o que Satanás [ainda] detinha direitos.
Isto porque, até este momento, Jesus não tinha sido morto, nem tinha, com seu sangue, comprado para Deus homens de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 5.9). De modo que, após a cruz, esta condição de roubar o diabo não existe mais. Agora é Satanás que busca manter sob o seu poder o que não mais lhe pertence.
Se Jesus maniatou Satanás e o espoliou de bens que ainda não lhe pertenciam, tanto mais o fará agora para libertar aqueles que ele comprou na cruz com um tão alto preço. Cristo foi alçado à condição de rei e o propósito do seu reino é o de sujeitar os inimigos ao seu domínio e acabar com toda rebelião.