O Deus ausente

Não será por que há muito estou calado que você não me teme? Is 57.11

Um Deus presente não é uma dádiva universal. O Senhor se reserva o direito de se ausentar, de manter silêncio e de não agir. Essa ausência de Deus pode durar longos períodos; pode perpassar gerações inteiras [para alegria dos ateus]. Esta separação da presença do Senhor é um prelúdio do inferno, porque o inferno não é outra coisa senão a ausência eterna de Deus [2 Te 1.9].

O Senhor predisse por meio de Moisés que as gerações futuras do seu povo se esqueceriam dele e, como consequência, ele [Deus] também se esqueceria deles. Mais do que isso, o Senhor esconderia deles o seu rosto; o Senhor se ausentaria. Eles seriam acometidos de muitas desgraças e sofrimentos e, naquele dia, perguntariam: ‘Será que essas desgraças não estão acontecendo conosco porque o nosso Deus não está mais conosco?’

Quem dera estas palavras valessem apenas para o Antigo Testamento! Era de se esperar que o período do Novo Testamento trouxesse uma nova realidade, marcada pela presença contínua de Deus, por meio do Espírito Santo, mas não é o que a realidade nos mostra. Existem longos períodos de ausência de Deus na história da igreja, os quais são interrompidos [graças a Deus!] por grandes avivamentos.

Por vezes, Deus abandona gerações. O profeta disse certa vez: “O Senhor rejeitou e [como consequência] abandonou esta geração.” Você consegue imaginar isto? Uma geração inteira abandonada por Deus à sua própria sorte? Uma geração para a qual ele não se revela; uma geração para a qual ele não se manifesta; uma geração que apenas o conhecerá por meio de histórias que parecerão fantasiosas demais para serem verdade.

Em tempos de ausência de Deus, o mal reina absoluto e os porcos chafurdam na lama. Em tempos de ausência de Deus, Deus deixa de ser temido e imperam a irreverência, a chacota e o descaso com tudo o que é sagrado. Em tempos de ausência de Deus, a igreja se corrompe e as heresias se espalham. Em tempos de ausência de Deus, o conhecimento de Deus retrocede e o mundo se seculariza.

Na palavra de Deus, encontramos algumas pessoas que tiveram o desprazer de viverem em períodos como este, de ausência divina. Os cantores coraítas, por exemplo, compuseram um salmo [o salmo 44] que era um retrato do tempo em que viviam. Eles escreveram: "Com os nossos próprios ouvidos ouvimos, ó Deus; os nossos antepassados nos contaram os feitos que realizaste no tempo deles, nos dias da antiguidade."

A despeito das histórias que ouviram, a realidade que eles estavam vivendo era bem diferente: "Mas agora nos rejeitaste e nos humilhaste; já não sais com os nossos exércitos." Ao contrário dos seus antepassados, eles enfrentavam suas batalhas sozinhos e eram sempre derrotados. O salmo termina com um clamor desesperado, dizendo: "Desperta, Senhor! Por que dormes? Levanta-te! Não nos rejeites para sempre."

Um outro salmo que aborda a ausência de Deus é o salmo 77, da família de Asafe. O salmo diz assim [v. 5]:

"Fico a pensar nos dias que se foram, nos anos há muito passados; de noite recordo minhas canções. O meu coração medita, e o meu espírito pergunta: Irá o Senhor rejeitar-nos para sempre? Jamais tornará a mostrar-nos o seu favor? Desapareceu para sempre o seu amor? Acabou-se a sua promessa? Esqueceu-se de ser misericordioso? Em sua ira refreou sua compaixão? Então pensei: A razão da minha dor é que a mão direita do Altíssimo não age mais. Recordarei os feitos do Senhor; recordarei os teus antigos milagres. Meditarei em todas as tuas obras e considerarei todos os teus feitos."

[Ah Senhor! Fazemos nossa as palavras do salmista: A razão da nossa dor é que a mão direita do Altíssimo não age mais! Como dói, Senhor, a ausência de ti. Como dói, Senhor, viver em um tempo em que a tua mão direita não age mais como agia outrora. Onde estão os teus milagres? Onde as conversões genuínas? Onde estão as manifestações dos teus dons? Aviva a tua igreja, Senhor!]

Sigamos com o sermão. Outro que viveu em um período de ausência divina, foi o profeta Habacuque. Ele diz em sua oração: "Senhor, ouvi falar da tua fama; tremo diante dos teus atos. Realiza de novo, em nossa época, as mesmas obras, faze-as conhecidas em nosso tempo; em tua ira, lembra-te da misericórdia." Encontramos uma outra oração maravilhosa como esta, nas palavras do profeta Isaias [51.9]: "Desperta! Desperta! Veste de força, o teu braço, ó Senhor; acorda, como em dias passados, como em gerações de outrora."

O que há em comum entre os exemplos citados é que todos estes homens eram servos de Deus sinceros, lamentando-se do tempo de escassez espiritual em que viviam. Eles nos ensinam que a ausência de Deus deve causa dor e desespero no coração do cristão, ao invés de aceitação ou, pior ainda, normalização. Não podemos normalizar de forma alguma a ausência de Deus na terra, porque não é o normal; pelo contrário, é uma situação infernal.

Todos os exemplos citados resultam em orações por avivamento, o que nos dá a nossa deixa. Estes homens foram levantados pelo próprio Deus e a oração que fizeram foi inspirada pelo Espírito Santo. Que o Senhor nos inspire, também, a buscá-lo pois, como disse o profeta, é tempo de buscar o Senhor, até que ele venha e faça chover justiça sobre nós. Que sejamos os agentes da renovação, os primeiros frutos do avivamento, para que vivamos um novo tempo de Deus presente em nossa geração.

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