A propriedade de Dionísia

February 16, 2022

Dionísia é o nome de uma mulher que viveu por volta do século I e que reivindicou, sem sucesso, a propriedade de um terreno no tribunal da sua cidade. Por não ter ficado satisfeita com a decisão do tribunal, ela apelou para um tribunal superior na cidade de Alexandria e enviou para lá seu escravo, com os devidos documentos legais guardados em uma caixa de pedra.

Como esta história simples sobreviveu ao tempo e chegou até nós? Ocorre que, a caminho de Alexandria, o escravo se hospedou em uma pousada, onde veio a morrer carbonizado, devido a um incêndio que se abateu sobre o lugar. Por dois mil anos, a areia do deserto cobriu as ruínas da pousada, os ossos carbonizados do escravo e a caixa de pedra, até terem sido descobertos no fim do século XIX em uma escavação arqueológica.

Na caixa, os arqueólogos encontraram, bem preservados, os documentos legais e a minuta da apelação que Dionísia havia enviado ao juiz em Alexandria. O documento dizia, entre outras coisas, o seguinte: “Para que meu senhor juiz saiba que meu recurso é justo, anexo minha HUPOSTASIS”. O referido documento anexo foi traduzido e os arqueólogos constataram que se tratava do título de propriedade do terreno, que ela reivindicava como sua propriedade.

Por que isto é importante? É porque a palavra hupostasis que Dionísia usou em sua apelação é a mesma palavra utilizada em Hebreus 11.1, uma palavra normalmente traduzida como "certeza" ou "firme fundamento". Os documentos encontrados na caixa de pedra revelam que, por volta da época em que o livro de Hebreus foi escrito, além dos significados precedentes, o termo hupostasis era comumente utilizado como significando, também, "título de propriedade".

Esta história de Dionísia foi extraída de um livro chamado Living Yesterday, de um autor chamado RH Minn, publicado em 1939, que abordava a linguagem do Novo Testamento à luz das descobertas arqueológicas da época, quando um grande número de papiros gregos, que datavam do início do período cristão, foram descobertos no Egito. Alguns deles continham textos bíblicos, fragmentos de literatura e também textos não literários (cartas particulares, registros de transações comerciais, etc).

Nestes papiros, foram encontrados termos gregos utilizados no Novo Testamento sem paralelos exatos na literatura grega clássica. Cientes do potencial destes papiros para elucidar termos até então dúbios das escrituras, dois renomados professores, Moulton e Milligan, se juntaram na coleta de dados desses papiros sobre palavras específicas do Novo Testamento, resultando na publicação, em 1930, de um livro intitulado: The Vocabulary of the Greek Testament.

Nesta obra, Moulton e Milligan sustentam, a luz das descobertas arqueológicas, que hupostasis significa título de propriedade. Segundo eles, em todos os casos analisados, há a ideia central de algo que subjaz as condições visíveis e garante a posse futura. Dado que esse é o significado essencial em Hebreus 11:1, eles sugerem que a melhor tradução para Hebreus 11 seria a seguinte: A fé é o título de propriedade das coisas que se esperam.

Desde então, muitos dicionários de grego e comentários bíblicos agregaram aos possíveis significado de hupostasis o de "título de propriedade", além dos significados correntes de "certeza" e "fundamento". Considerando essas três possibilidades de tradução para hupostasis, temos que a fé é: a certeza do que esperamos; o fundamento do que esperamos; e, também, o título de propriedade do que esperamos.

Neste sentido, a história de Dionísia é um bom exemplo para nós. Ela lutou com base na esperança de reaver o terreno que lhe pertencia por direito e que estava sob a posse ilegal de outra pessoa. Tudo o que ela tinha como prova da sua posse era o seu título de propriedade. No nosso caso, o título de propriedade das coisas que esperamos é a nossa fé, mais preciosa do que o ouro, que é provado pelo fogo.


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