O Senhor retirou Abraão do meio dos seus parentes e o levou para terra de Canaã, onde lhe prometeu: “À sua descendência darei esta terra” (Gn 12.7). Algum tempo depois, em outro encontro com Abraão, o Senhor foi mais específico: “Na quarta geração, os seus descendentes voltarão para cá, porque a maldade dos amorreus ainda não atingiu a medida completa.” (Gn 15.16) Ou seja, quando a maldade dos povos que habitavam aquela terra chegasse no limite estabelecido por Deus [que Deus de antemão já antevia], eles [os atuais proprietários] perderiam a propriedade da terra, em detrimento dos israelitas.
O Senhor reforçou este fato pouco antes da conquista da terra, quando ele disse aos israelitas: “Depois que o Senhor, o seu Deus, os tiver expulsado da presença de você, não diga a si mesmo: ‘O Senhor me trouxe aqui para tomar posse desta terra por causa da minha justiça’. Não! É devido à impiedade destas nações que o Senhor vai expulsá-las da presença de você.” (Dt 9.4) Como resultado, os israelitas receberiam aquela terra não por méritos, mas por pura graça divina; gratuitamente. Como disse o apóstolo Paulo: “Não foi mediante a Lei que Abraão e a sua descendência receberam a promessa de que ele seria herdeiro do mundo, mas mediante a justiça que vem da fé. [..] Portanto, a promessa vem pela fé, para que seja de acordo com a graça.”
Quando chegou o tempo determinado, Deus enviou Moisés de volta ao Egito, para dizer ao povo que Deus havia descido para livrá-los das mãos dos egípcios e tirá-los dali para uma terra boa e vasta, onde manavam leite e mel: “a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus.” (Ex 3.8) Até aquele momento, a terra ainda tinha dono, mas a propriedade daquela terra estava prestes a mudar de titularidade no cartório celestial. Canaã deixaria de ser a a terra dos cananeus, dos hititas, dos amorreus, dos ferezeus, dos heveus e dos jebuseus para se tornar a terra dos judeus. “Eu a darei a vocês como propriedade” (Ex 6.8), prometeu o Senhor. Ter a propriedade da terra faz toda a diferença. Os israelitas não eram bárbaros conquistando uma terra que não lhes pertencia; pelo contrário, eram proprietários lutando contra a posse ilegal daquilo que era deles por direito.
Por ordem do Senhor, Moisés enviou doze homens em missão de reconhecimento à terra de Canaã. Estes espias voltaram depois de quarenta dias e deram o seguinte relatório a Moisés: “Entramos na terra à qual você nos enviou, onde manam leite e mel! Aqui estão alguns frutos dela. Mas o povo que lá vive é poderoso, e as cidades são fortificadas e muito grandes. Também vimos descendentes de Enaque [gigantes] […] Não podemos atacar aquele povo; é mais forte do que nós”. E espalharam entre os israelitas um relatório negativo acerca daquela terra. (Nm 13.1–33) Os israelitas ficaram atemorizados e queixaram-se dizendo: ‘O Senhor nos odeia; por isso nos trouxe do Egito para nos entregar nas mãos dos amorreus e destruir-nos.”
Os israelitas ficaram em choque quando descobriram que o Senhor tinha lhes dado a propriedade de um bem que estava em poder de inimigos poderosos, mesmo o Senhor tendo lhes avisado ao longo do caminho: “O meu anjo irá à frente de vocês e os fará chegar à terra dos amorreus, dos hititas, dos ferezeus, dos cananeus, dos heveus e dos jebuseus, e eu os exterminarei. […] Destruam-nos totalmente.” (Ex 23.23) Notem que os israelitas teriam um papel importante a cumprir, eles seriam [com o auxílio divino] os executores do juízo de Deus sobre aquelas nações. “Farei que todos os seus inimigos virem as costas e fujam. Causarei pânico entre os heveus, os cananeus e os hititas para expulsá-los de diante de vocês. […] Entregarei em suas mãos os povos que vivem na terra, os quais vocês expulsarão.” (Ex 23.27–33)
Calebe e Josué foram os únicos que se lembraram dessas promessas e creram na vitória. Calebe fez o povo calar-se perante Moisés e disse: “Subamos e tomemos posse da terra. É certo que venceremos! […] A terra que percorremos em missão de reconhecimento é excelente. Se o Senhor se agradar de nós, ele nos fará entrar nessa terra, onde manam leite e mel, e a dará a nós. Somente não sejam rebeldes contra o Senhor. E não tenham medo do povo da terra, porque nós os devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi, mas o Senhor está conosco. Não tenham medo deles!” Enquanto a terra pertencia às outras nações, a justiça estava do lado dessas nações. A proteção estava do lado deles.
Os israelitas não tinham entendido que o Deus que dá a propriedade, garante também a posse [se lutarmos por ela]. A questão não é quem é o mais forte, mas que tem a proteção de Deus. Eles não confiaram no Senhor e foram condenados por Deus a vagarem pelo deserto durante quarenta anos, até que todos os adultos morressem. Apenas a geração seguinte tomaria posse da terra. Quando a hora chegou, o Senhor lhes disse: “Ponho esta terra diante de vocês. Entrem e tomem posse da terra que o Senhor prometeu sob juramento dar aos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó, e aos seus descendentes.” (Dt 1.8) “Não tenham medo nem desanimem.” (Dt 1.21)
A terra que Deus tinha lhes dado era como um sonho: “[É uma terra] com grandes e boas cidades que vocês não construíram, com casas cheias de tudo o que há de melhor, de coisas que vocês não produziram, com cisternas que vocês não cavaram, com vinhas e oliveiras que vocês não plantaram.” (Dt 6.10–11) “[…] cheia de riachos e tanques de água, de fontes que jorram nos vales e nas colinas; terra de trigo e cevada, videiras e figueiras, de romãzeiras, azeite de oliva e mel; terra onde não faltará pão e onde não terão falta de nada; terra onde as rochas têm ferro e onde vocês poderão extrair cobre das colinas. (Dt 8.7–9) “[…] é terra de montes e vales, que bebe chuva do céu. É uma terra da qual o Senhor, o seu Deus, cuida.” (Dt 11.10–12)
A terra era excelente, a terra pertencia a eles… mas não estava com eles. A parte de Deus estava feita, agora cabia eles fazerem a parte deles. Moisés lhes disse: “O Senhor, o Deus de vocês, deu-lhes esta terra para que dela tomem posse.” (Dt 3.18) O Senhor não nos dá bênçãos para que elas fiquem de posse do inimigo, ele nos abençoa para que nós [e não outros] tomemos posse dessas bênçãos e usufruamos delas. Alguns anos depois dos israelitas conquistarem a terra parcialmente, eles se acomodaram. Então Josué disse aos israelitas: “Até quando vocês vão negligenciar a posse [completa] da terra que o Senhor, o Deus dos seus antepassados, lhes deu?” (Js 18.3) A propriedade de nada vale sem a posse, o ter não tem valor sem o usufruir.
Chegado o momento de conquistar a bênção, Moises disse ao povo: “Ouça, ó Israel: Hoje você está atravessando o Jordão para entrar na terra e conquistar nações maiores e mais poderosas do que você, as quais têm cidades grandes, com muros que vão até o céu. O povo é forte e alto. São enaquins! Você já ouviu falar deles e até conhece o que se diz: ‘Quem é capaz de resistir aos enaquins?’ Esteja, hoje, certo de que o Senhor, o seu Deus, ele mesmo, vai adiante de você como fogo consumidor. Ele os exterminará e os subjugará diante de você. E você os expulsará e os destruirá, como o Senhor lhe prometeu.” (Dt 9.1–5) O mesmo Deus que tinha lhes dado a propriedade, também garantiria que eles tivesse a posse.
O ministério de Josué é maravilhoso, coube a ele conduzir o povo na conquista desta terra prometida. Deus lhe disse: “Seja forte e corajoso, pois você irá com este povo para a terra que o Senhor jurou aos seus antepassados que lhes daria, e você a repartirá entre eles como herança. O próprio Senhor irá à sua frente e estará com você; ele nunca o deixará, nunca o abandonará. Não tenha medo! Não desanime!” (Dt 31.7–8) “Ninguém conseguirá resistir a você todos os dias da sua vida. “Tenha o cuidado de obedecer a toda a lei que o meu servo Moisés lhe ordenou; não se desvie dela, nem para a direita nem para a esquerda, para que você seja bem-sucedido por onde quer que andar. […] Só então os seus caminhos prosperarão e você será bem-sucedido. Não fui eu que lhe ordenei? Seja forte e corajoso! Não se apavore, nem desanime, pois o Senhor, o seu Deus, estará com você por onde você andar”. (Js 1.1–9)
No entanto, os israelitas deveriam buscar a plenitude da bênção, deveriam tomar posse até do último quinhão de terra. Deveriam desalojar e despejar até o último inimigo, por mais inofensivo que parecesse. Contudo, os israelitas se acomodaram com uma bênção parcial e não expulsaram muitos dos povos que habitava a terra prometida, tendo preferido escraviza-los. Deus lhes disse: “Tirei vocês do Egito e os trouxe para a terra que prometi com juramento dar a seus antepassados. Eu disse: Jamais quebrarei a minha aliança com vocês. E vocês não farão acordo com o povo desta terra, mas demolirão os seus altares. Por que vocês não me obedeceram? Portanto, agora lhes digo que não os expulsarei da presença de vocês; eles serão seus adversários, e os deuses deles serão uma armadilha para vocês”.
Vamos analisar um desses casos, por ser paradigmático. Está escrito que “os descendentes de Judá não conseguiram expulsar os jebuseus, que viviam em Jerusalém; até hoje [na época em que o texto foi escrito] os jebuseus vivem ali com o povo de Judá.” Coube ao rei Davi, muitos anos depois, concluir o que ficou inacabado. “O rei [Davi] e seus soldados marcharam para Jerusalém para atacar os jebuseus que viviam lá. […] Eles achavam que Davi não conseguiria entrar, mas Davi conquistou a fortaleza de Sião, que veio a ser a Cidade de Davi. […] Davi passou a morar na fortaleza e chamou-a Cidade de Davi. Construiu defesas na parte interna da cidade desde o Milo. E foi se tornando cada vez mais poderoso, pois o Senhor, o Deus dos Exércitos estava com ele.”
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor, segundas chances.