Existe um argumento para justificar a aceitação das doenças por parte dos cristãos, que — colocando em bom português — é o seguinte: grandes homens de Deus ficaram enfermos e não alcançaram a cura, logo, por não sermos melhores do que eles, não temos motivo para achar que seremos curados. Esta linha de argumento é condenável de per si, porque estimula a incredulidade e a passividade, mais do que a fé.
É o extremo oposto da linha de argumento do apóstolo Tiago, na seuginte passagem: "Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio." Colocando o argumento de Tiago em bom português, temos o seguinte: Os grandes homens de Deus eram humanos como nós — eles não era super-homens ou semideuses— e alcançaram grandes feitos pela fé, logo, nós também podemos!
Percebam a diferença de resultado, entre um em outro argumento. O argumento de Tiago oferece um potente incentivo à nossa fé; o outro é como um balde de água fria para o doente. Um outro ponto a ser destacado, em ambos os argumentos aqui expostos, é que o primeiro usa o exemplo de milagres que pessoas não alcançaram [o que é errado], enquanto o segundo usa o exemplo de milagres que pessoas alcançaram.
O ponto é que as pessoas da bíblia são exemplos positivos pelo que alcançaram, não pelo que não alcançaram. Neste sentido, um mendigo que alcançou um milagre é mais exemplo para nós em matéria de milagre do que um grande homem de Deus que não alcançou. Segundo a bíblia, devemos imitar a fé dos grandes homens de Deus com base no resultado que tiveram; não no resultado que não tiveram (Hb 6.12 E 13.7).
Agora, não bastasse a tolice da linha de argumento, os próprios argumentos também são tolos. Os casos de Trófimo e Epafrodito, que são frequentemente usado como exemplos de homens piedosos que adoeceram, não são bons exemplos por uma razão simples. Ninguém nega que os cristãos possam ficar enfermos na presente era e não há razão para crer que não tenham alcançado a cura posteriormente. Sabemos que Epafrodito se recuperou da doença, por misericórdia de Deus, e reza a tradição que Trófimo morreu como mártir — teve sua cabeça decepada por ordem de Nero— e não de doença.
O ponto ensinado nas escrituras é simples e claro: "Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará." Embora este ensino seja autoritativo e os textos sobre Epafrodito e Trófimo sejam apenas narrativos — além de serem inconclusivos — estes últimos se tornaram a regra [com base em conjecturas] e o ensino de Tiago a exceção.
Segundo a "boa" teologia moderna a maioria dos cristãos hoje não são curados porque não é a vontade de Deus curá-los, assim como [sic] não curou os piedosos Epafrodito e Trófimo [se é que não os curou]. [Alias, parece que vivemos em um tempo em que não é vontade de Deus curar ninguém, exceto uma ou outro felizardo.]
Este método de interpretação que busca uma exceção para invalidar a regra e bem escuso, para dizer o mínimo. Não se pode, por exemplo, anular a promessa de longevidade para quem honra pai e mãe apontando um ou dois casos de bons filhos que morreram na flor da idade. No máximo, você poderia dizer que filhos que honram pai e mãe, em alguns casos excepcionais, podem não ter uma vida longa; todavia a regra é que vivam muito.
O mesmo vale para o texto de Tiago. No mínimo a promessa contida naquela instrução deveria ser a regra, no seio da igreja de Cristo. Ou seja, os doentes deveriam procurar os presbíteros, que deveriam orar com fé e as curas deveriam prevalecer como regra, na grande maioria dos casos. As inconclusivas narrativas de Trófimo e Epafrodito não se prestam de forma alguma a invalidar esta regra.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor, segundas chances.