Na época de Cristo os judeus esperavam ansiosamente pelo messias que os iria libertar do jugo romano e inaugurar um reino maravilhoso, sem precedentes na história, conforme prometido pelos profetas Antigo Testamento. Mesmo os samaritanos, que não se davam com os judeus, aguardavam pelo messias, conforme vemos no episódio da mulher samaritana (Jo 4.25). Quando surgiu João Batista, pregando no deserto, o povo pensou que ele pudesse ser o messias (Lc 3.15) e, mais tarde, pensaram o mesmo a respeito de Jesus (Mt 12.22).
No entanto, havia algumas coisas a respeito de Jesus, que não batia com a ideia que eles tinham do messias que haveria de vir. Eles sabiam que o Cristo seria descendente de Davi e que viria da cidade de Belém, onde viveu Davi, mas eles não pareciam conhecer de que tribo Jesus provinha, nem que ele tinha nascido em Belém. Para eles, Jesus era um galileu (Jo 7.41), um nazareno, enfim, o mais ordinário dos homem, e Jesus não fazia nenhuma questão de mudar essa opinião. Pelo contrário, fazia parte do plano divino manter o mistério no ar, por razões que entenderemos mais adiante.
Outros, bem desorientados, acreditavam que ninguém saberia de onde o Cristo viria (Jo 7.27). De onde tiraram essa ideia? Nao sei. O problema destas pessoas é que elas esperavam um messias de acordo com os conceitos de suas mentes, que atendesse suas expectativas e anseios, mas em desacordo com a palavra de Deus. Jesus veio e não tentou ser um messias de acordo com o que as pessoas queriam, pelo contrário, ele era quem ele era. Seu compromisso era com a palavra, para que se cumprisse tudo o que estava escrito a seu respeito.
No afã de acreditarem num Cristo sob encomenda, eles faziam vista grossas para todas as profecias bíblicas que contrariava suas expectativas messiânicas, especialmente as que falavam sobre morte. Em uma ocasião, Jesus predisse a sua morte e ressurreição para uma multidão, dizendo que o filho do homem seria levantado da terra. Eles disseram: “A Lei nos ensina que o Cristo permanecerá para sempre; como podes dizer: ‘O Filho do homem precisa ser levantado’?” (Jo 12.34) Esta ideia de que o messias seria morto era, sem dúvida, a parte mais negligenciada das profecias a respeito do Cristo.
A morte do messias era um escândalo pra os judeus, uma ideia que nem mesmo os discípulos de Jesus estavam dispostos a aceitar, tendo muitos o abandonado, por esta causa (Jo 6.66). Depois da morte de Cristo, encontramos dois dos seus discípulos a caminho de Emaus, frustrados, porque havia morrido aquele que eles pensavam ser o messias que iria trazer redenção (resgate) para Israel (Lc 24.24). Jesus então lhes disse: “Como vocês custam a entender e como demoram a crer em tudo o que os profetas falaram! Não devia o Cristo sofrer estas coisas, para entrar na sua glória?” E começando por Moisés e todos os profetas explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras. (Lc 24.25–27).
É muito sugestivo que estes discípulos não tenham reconhecido o Cristo ressurrecto. Foi pela mesma razão que os conterrâneos de Cristo, não o reconheceram como tal, quando ele apareceu na sinagoga alegando ser o cumprimento das profecias. Foi pela mesma razão que os judeus em geral rejeitaram aquele que poderia salvá-los. É porque Jesus não veio da forma como eles esperavam que ele viesse. Jesus foi um escândalo para alguns, uma decepção para outros, mas um salvador para todos aqueles que o aceitaram como ele era, mesmo ele não sendo da forma que eles gostariam que ele fosse, mesmo ele não fazendo o que eles queriam que ele fizesse.
No fim o único Jesus que salva é o Jesus verdadeiro e não o Jesus concebido pelos anseios da mente humana, não o Jesus boa praça reformatado para atender os anseios modernos. O mal de acreditar neste tipo de Jesus gourmet é que ele não existe; é fruto de uma fantasia, um mito. Devemos crer no Jesus real, mesmo que ele não seja como queremos, mesmo que ele ensine coisas impopulares, mesmo que ele seja exigente. Que o conhecimento de Cristo abra os nossos olhos para vê-lo ao nosso lado, assim como aconteceu com os dois discípulos de Emaus.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.