Por que vocês estão com tanto medo?

January 8, 2021

Jesus e seus discípulos estavam navegando em um barco, quando uma violenta tempestade se abateu sobre o mar causando fortes ondas. As águas invadiram o barco, provocando uma inundação e os discípulos se viram diante de um grande perigo.

Jesus, porém, estava na popa do barco, dormindo com a cabeça sobre um travesseiro. O rigor da tempestade não afetou o seu sono [não deveria afetar o nosso também], o rugido das ondas não o despertaram.

Os discípulos ficam incomodados com Jesus dormindo em meio a tempestade. Eles o acordaram e disseram:

“Mestre, não te importas que morramos?”

Consta que eles também suplicaram:

“Senhor, salva-nos! Vamos morrer!”

Jesus acordou diante daquele cenário caótico, com o barco a beira do naufrágio. No entanto, o que chamou a atenção de Jesus não foi o rigor da tempestade [como seria de se esperar de qualquer outra pessoa], foi a incredulidade dos discípulos.

Não que o perigo não fosse real. Não que o medo deles fosse infundado. Muitos daqueles discípulos tinham crescido no mar, tinham passado a vida em barcos de pesca. Eles não se assustariam com qualquer tempestade. Disso eu tenho certeza.

No entanto, Jesus disse:

“Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé?”

Imagine que você está viajando de avião, com Jesus, e o piloto diz que perdeu o controle da aeronave. Todos os passageiros entram em pânico, Jesus se levanta e diz essas mesmas palavras. O cenário vivido pelos discípulos não foi muito diferente. O medo é quase uma reação orgânica, diante dessas situações.

O Salmo 107 descreve uma situação similar, de um barco açoitado pelas ondas, onde os tripulantes perderam a coragem. Na sua aflição, eles clamaram ao Senhor, e ele os tirou da tribulação em que se encontravam. O Senhor reduziu a tempestade a uma brisa e serenou as ondas.

Em ambas as situações, o medo não impediu o socorro da parte do Senhor. No entanto, Jesus esperava dos discípulos um comportamento diferente. Jesus esperava que eles não tivessem medo, mesmo diante do perigo real. Jesus esperava que eles tivessem fé.

Na versão de Lucas da mesma história, Jesus pergunta aos discípulos:

“Onde está a sua fé?”

É uma pergunta pertinente. Onde está a fé que vocês achavam que tinham, antes do perigo de morte? É para estas horas que ela serve.

Na versão de Marcos a pergunta é um pouco diferente:

“Vocês ainda não tem fé?”

Depois de todas as experiências que vocês vivenciaram, depois de todos os milagres, depois de todos os livramentos… Vocês ainda não tem fé?

Então ele se levantou e repreendeu os ventos e o mar:

“Aquiete-se! Acalme-se!”, disse ele.

E fez-se completa bonança.

Os discípulos ficaram perplexos e perguntaram:

“Quem é este que até os ventos e o mar lhe obedecem?”

A incredulidade é tão traiçoeira que, mesmo quando clamamos por socorro, não conseguimos acreditar que o socorro virá. Os discípulos clamaram por salvação, mas ficaram perplexos quando a salvação veio. Eles tinham um tipo de fé que eu chamo de crer descrendo.

Eles ficaram perplexos com a autoridade de Jesus. Jesus ficou perplexo com o medo deles. Eles duvidavam de Jesus, mas Jesus confiava neles. Jesus sempre espera o melhor dos seus discípulos.

A pergunta que resta responder é:

Como o Senhor Jesus esperava que os seus discípulos agissem diante daquela situação específica?

Vamos voltar ao início. Os discípulos estão no barco. Jesus está dormindo na popa. A tempestade vêm. Dada a experiência marítima dos discípulos, eles tomam as medidas de segurança necessária. Mesmo assim, a violência da tempestade é tamanha que a água começa a invadir o navio.

Sabemos que eles devem ter fé, sabemos que não devem ter medo, mas o que Jesus espera que eles façam? Espera que eles se agarrem às cordas e apenas esperem? Espera que eles clamem por ajuda, mas sem tanto medo? Ou espera que eles próprios repreendam a tempestade?

Eu creio que esta última é a resposta correta. Jesus esperava que eles próprios repreendessem a tempestade. Não seria a primeira vez que Jesus esperava que os seus discípulos operassem um milagre, pela fé.

Quando a multidão estava faminta no deserto, os discípulos sugeriram que Jesus despedisse a multidão, para que fossem se alimentar nos povoados vizinhos. Jesus, no entanto, lhes disse:

“Dêem-lhes vocês algo para comer”.

Os discípulos disseram:

“Isso custaria uns seis mil reais. Devemos gastar todo esse dinheiro em pão para alimentar a multidão?”

Aparentemente eles até tinham esse dinheiro em caixa. No entanto, ainda havia toda a logística de ir a outros povoados para comprar pão para cinco mil pessoas. Onde eles achariam comida para tanta gente? Como a trariam?

Obviamente, não era isso que Jesus tinha em mente, quando pediu para eles alimentarem a multidão. Jesus queria que eles alimentassem a multidão com cinco pães e dois peixes. Jesus queria que eles passassem a agir, o quanto antes, na dimensão dos milagres.

Isto fica bem claro quando os discípulos não conseguem expulsar o demônio do menino e Jesus fica indignado com o insucesso deles. Obviamente, ele esperava mais. Esperava que, àquela altura, eles já tivessem fé o suficiente.

Jesus lhes disse:

“Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?”

Então os discípulos aproximaram-se de Jesus em particular e perguntaram:

“Por que não conseguimos expulsá-lo?”

Ele respondeu: “Porque a fé que vocês têm é pequena. Eu lhes asseguro que se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: ‘Vá daqui para lá’, e ele irá. Nada lhes será impossível.”

Se podemos falar com os montes, podemos repreender as tempestades.


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