Sobre os homens de Deus que não receberam a cura divina

October 30, 2019

Há um artigo onde o autor pretende demonstrar que a razão de Deus não curar nem sempre é a falta de fé. Para tanto, ele relaciona diversos homens de Deus, tanto na bíblia quanto na história da igreja, que padeceram com enfermidades e não foram curados. Isto mostra, segundo ele, que Deus se reserva o direito soberano de curar quem ele quer. Ou seja, Deus pode não querer curar alguém, por mais que se trate de uma pessoa piedosa.

Do seu artigo, eu conclui que os hospitais estão cheios de homens de Deus cheios de fé, que o Senhor não deseja curar. Se eu entendi bem, o objetivo do artigo é tanto consolar esses crentes para que não se sintam culpados por estarem enfermos, quanto exortá-los a aceitarem a vontade de Deus, como sendo o melhor para eles.

Feita esta introdução, gostaria que passássemos agora ao texto bíblico que servirá de base para o presente sermão, um trecho da carta de Tiago. “Entre vocês há alguém que está doente? Que ele mande chamar os presbíteros da igreja, para que estes orem sobre ele e o unjam com óleo, em nome do Senhor. A oração feita com fé curará o doente; o Senhor o levantará.

Se o autor do artigo não soubesse que estas palavras foram escritas por um apóstolo, ele provavelmente as atribuiria a algum autor da teologia da prosperidade. Mais do que isto, ele o recriminaria por ter feito uma afirmação como essa, sem nenhuma ressalva quanto à soberania de Deus. “Como você pode afirmar que a oração de fé curará o doente, se Eliseu morreu de doença? Você está dizendo que Eliseu não tinha fé para ser curado?

É de fato um paradoxo que Eliseu não tenha sido curado, considerando que até o morto lançado em sua tumba ressuscitou ao tocar em seus ossos, contudo a pergunta que eu faço é a seguinte: qual o propósito de apontar Eliseu, Paulo, Timóteo, Trófimo ou qualquer outro como exemplos de homens piedosos que não alcançaram a cura divina?

O apóstolo Tiago, logo na sequencia do texto anterior sobre a oração de fé, também utiliza o exemplo de um grade homem de Deus, mas com uma abordagem totalmente diferente. “A oração de um justo é poderosa e eficaz”, diz ele. “Elias era humano como nós. Ele orou fervorosamente para que não chovesse, e não choveu sobre a terra durante três anos e meio. Orou outra vez, e os céus enviaram chuva, e a terra produziu os seus frutos.

Eis o ponto. Os homens de Deus são um exemplo para nós pelo que alcançaram, e não pelo que não alcançaram. Mais do que isto, eles são exemplos não por serem super-homens, mas por serem homens comuns, sujeitos às mesmas paixões que nós… e mesmo assim conseguiram realizar grandes feitos. O objetivo de Tiago é obviamente nos infundir fé, ao contrário da abordagem do artigo, cujo resultado é o oposto.

O modo correto de pregar sobre cura não é dizer que grandes homens de Deus não foram curados, logo pode ser que nós também não sejamos. Não, o modo correto é pregar que se mendigos, prostitutas e pobres estão sendo curados, nós também podemos ser, mesmo que sejamos mais indignos do que eles. Na questão da cura divina, o mendigo Bartimeu é mais exemplo para nós do que o profeta Eliseu!

Que possamos ir até Jesus com toda a nossa indignidade, mas com fé e ousadia. Mesmo que determinadas pessoas nos mandem parar de importunar o mestre, sigamos invocando o nome do Senhor, sigamos clamando como o cego Bartimeu: Jesus, filho de Davi, tem misericórdia de mim! Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Seja quem for.


Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.