Uma geração de homens fracos

March 28, 2019

Como durante o naufrágio do Titanic não havia botes salva-vidas para todos, por ordem do capitão foi dado preferência para a salvação das mulheres e crianças. Como consequência, 74% das mulheres e 52% das crianças a bordo foram salvas, e somente 20% dos homens; e estes homens que sobreviveram foram taxados como covardes, por não terem se sacrificado para salvar as mulheres e crianças. Mulheres e crianças primeiro não faz parte de nenhuma lei expressa, mas é um código de conduta antigo, amplamente conhecido, seguido em situações de perigo. Era o que se esperava dos homens na época do Titanic, e ainda é o que se espera dos homens nos dias de hoje, se o navio começar a afundar. O mundo pode ter mudado, mas em situações graves ainda se espera socialmente que os homens sejam homens, espera-se que sejam fortes, que sejam corajosos e que sejam capazes de se sacrificarem em defesa das mulheres e crianças. O mundo pode ter mudado, mas algumas coisas seguem como sempre foram, como por exemplo a obrigatoriedade do serviço militar para os homens. Poucas pessoas sabem, mas existe pena de morte no Brasil, tendo inclusive amparo constitucional; é uma pena que pode ser aplicada apenas em tempo de guerra, para crimes militares mais graves, entre os quais a covardia. É isso mesmo! Em tempos de guerra, homens covardes podem ser executados. Portanto, que o homem seja corajoso diante do perigo é não apenas uma pressão social, mas também uma exigência legal. Existe um provérbio oriental que diz que homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos… fracos talvez como os da nossa geração. Há menos de cem anos atrás, homens de dezoito anos pilotavam caças na guerra, hoje a adolescência vai até os trinta e cinco anos [li isto em um texto na internet, e concordo]. Uma geração de homens fracos não é propriamente um fenômeno do nosso tempo; já aconteceu há milhares de anos nos tempos bíblicos. Existe um episódio narrado na Bíblia, em que e Israel precisou ser salva por duas mulheres, por causa da covardia dos homens da época, os quais não foram capazes de enfrentar os desafios de seu tempo. Débora é uma dessas personagens quase anônimas das escrituras, cuja história se resume em dois capítulo. O primeiro conta a sua história, o segundo traz o seu cântico de vitória. Nesse cântico, ela diz o seguinte sobre os seus dias:

Nos dias de Sangar, filho de Anate, nos dias de Jael, as estradas estavam desertas; os que viajavam seguiam caminhos tortuosos. Já tinham desistido os camponeses de Israel, a já tinham desistido, até que eu, Débora, me levantei; levantou-se uma mãe em Israel.

Israel vinha sendo oprimido há vinte anos pelo exército inimigo, as estradas principais eram evitadas e os viajantes se esgueiram por caminhos improváveis para evitarem o perigo. Foi necessário que uma mulher se levantasse como mãe, porque os homens já tinham desistido, tinham se adaptado e aceitado a opressão. Neste contexto, Débora não é uma mulher lutando por igualdade de condições com os homens; é uma mulher fazendo o que os homens deveriam fazer, numa clara inversão de papeis. Se não houvesse um vácuo de liderança — se os homens de Israel não tivessem desistido — ela provavelmente teria seguido no anonimato. Ela se colocou à disposição do povo, para cuidar das suas causas, como uma mãe; ela se assentava debaixo de uma tamareira, nos montes de Efraim, onde os israelitas a procuravam, para que ela decidisse as suas questões.Em tempos de desobediência e afastamento de Deus, Débora era um oásis no deserto. Era uma mulher forte, corajosa e cheia do Espírito. Quem a procurava, buscava a direção de Deus. Está escrito que esta profetiza mandou buscar um homem chamado Baraque e lhe entregou uma palavra profética. Deus lhe ordenara que reunisse dez mil homens para a guerra contra o exército inimigo, porque o Senhor lhe daria a vitória.

Se o Senhor quisesse usar uma mulher, teria mandado a própria Débora reunir os dez mil homens; ela era uma líder respeitada em Israel e certamente tinha a influência e a competência necessária para fazê-lo. Mas para essa tarefa de homem, ele queria usar um homem, preferencialmente. O propósito de Deus era que a vitória militar coubesse a Baraque.

Os homens fracos daquela geração já tinha desistido [estavam escondidos e acovardados], mas Deus queria dar-lhes mais uma chance de serem homens, mais uma chance de se sentirem bem consigo mesmos. A própria Débora, com seu instinto maternal, parece partilhar do mesmo propósito; ela deseja ver seus “filhos” virarem homens na acepção da palavra.

Contudo, embora Deus quisesse restaurar-lhe a hombridade a Baraque, ele não largou da barra da saia da mãe; não conseguiu cortar o cordão umbilical.

Se você for comigo, irei; mas, se não for, não irei — disse o bebezão.

Está bem, irei com você — respondeu Débora. — Mas saiba que, por causa do seu modo de agir, a honra não será sua; porque o Senhor entregará Sísera [o comandante do exército inimigo] nas mãos de uma mulher.

Que a honra coubesse a uma mulher, seria uma humilhação para Baraque, não porque fosse uma mulher, mas porque era uma mulher fazendo o trabalho de um homem. O Senhor recriminou Baraque por acovardar-se. Isto mostra que o próprio Deus espera que os homens sejam fortes, que sejam corajosos, que sejam protetores e que sejam líderes naturais.

Por meio desta história, podemos concluir que o Senhor faz o possível para respeitar o atribuição dos homens, contudo se os que deveriam fazer não fazem, ele levanta outros para fazer, porque, no fim das contas, o serviço precisa ser feito, as ovelhas precisam ser pastoreadas. E se os homens não fazem o que deveriam fazer, Deus levanta as mulheres.


Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.