
Um conto de natal
O jovem pastor hipster, de barba perfeitamente cortada, desceu do avião, pegou sua mala na esteira e saiu para o saguão do aeroporto. Como não havia ninguém à sua espera com seu nome em uma plaquinha — como pensou —, sentou-se para esperar. Estava quase pegando no sono, quando tocou em seus ombros o velho pastor que combinou buscá-lo.
- Seja bem vindo - disse o velho, vestido em um terno bege démodé.
- Obrigado - disse o jovem, levantando-se.
- Não se levante, não se levante - disse o velho. - Tive um problema com meu carro, vamos ter que esperar aqui pela nossa carona.
O velho acomodou-se ao seu lado e disse:
- Não imaginei que viesse sozinho.
- Minha esposa vem depois que nascer nosso filho, ela está no último mês de gravidez.
- Primeiro filho? - perguntou o velho.
- Sim, meu primeiro - respondeu o jovem pastor.
- Já escolheram o nome?
- Davi.
- Que coincidência! É o nome do meu filho também. Ele é mais velho do que você e tem uma filha de cinco anos, que ainda não conheço.
- Como não a conhece?
- Eu e o meu filho… Nós não nos falamos.
- Entendo - disse o jovem.
O velho completou:
- Eu me saí melhor como pastor do que como pai.
- Como pastor o senhor realmente se saiu bem - disse o jovem, como que para animá-lo. - É uma referência para mim.
- Eu sou um velho obsoleto. Sou o último dos mohicanos da minha geração... Você assistiu o último dos mohicanos?
- Nunca ouvi falar.
- É disso que estou falando! - disse o velho, aos risos. - Já não consigo dialogar com esta geração. Por isso mandaram você.
- Eu estou aqui para aprender com o senhor.
- Nós dois sabemos que você está aqui para me substituir.
O jovem pensou em justificar-se, mas o velho o interrompeu.
- Sabe o que é irônico? Há quarenta anos atrás eu estava no seu lugar, chegando à cidade para substituir o pastor que me precedeu.
- O mundo dá voltas - disse o jovem. - Está escrito em Eclesiastes.
- Também está escrito que existe um tempo para tudo. Parece que o meu tempo acabou e agora é o seu tempo.
- Veja pelo lado bom. É o meu tempo de trabalhar e o seu tempo de conhecer sua neta.
- Minha neta? Ah sim, eu tenho uma neta de cinco anos.
“O senhor acabou de me contar”, pensou o jovem. O velho prosseguiu:
- Ela mora com os pais, não muito longe daqui. Eu gostaria muito de conhecê-la, se o meu filho deixasse, mas a última vez que vi meu filho foi no funeral da minha esposa. Minha nora estava grávida de uma menina na época.
- Quando se jubilar, o senhor poderá ir até lá e fazer as pazes com ele.
- Essa é uma palavra horrível, “jubilar”. Vem de júbilo, mas não tem nada de jubiloso em ser compulsoriamente substituído por uma versão jovem de mim mesmo.
O jovem sorriu.
- Não sei se somos assim tão parecidos.
- Olhe bem para mim! Eu sou você no futuro, será que você não percebe? Eu vejo você aqui, longe de sua esposa, às vésperas do nascimento do seu filho, e eu vejo a mim mesmo.
- Eu já estou com a consciência pesada o suficiente. O senhor acha que eu não gostaria de estar lá?
- Deveria estar. Essa é a questão.
- Mas...
- Nada justifica você não estar.
- Foi necessário.
- Também foi necessário, no meu caso. Cada momento que deixei a minha esposa sozinha, cada vez que deixei de brincar com meu filho, foi tudo necessário. E olhe para mim agora.
- Não tem nada que eu possa fazer.
O velho sorriu.
- Tem muito que você pode fazer. Começando por comprar uma passagem de volta.
- O senhor deveria comprar uma passagem também, para fazer as pazes com seu filho e para finalmente conhecer sua neta.
- Se você voltar para sua esposa e seu filho, talvez não seja necessário.
- Não entendi.
- Olhe bem para mim. Será que você não percebe? Eu sou você amanhã.
O jovem olhou para o velho, que já não lhe parecia tão diferente de si mesmo.
O velho continuou:
- Meu filho Davi é o seu filho Davi, no futuro. O que aconteceu comigo é o que vai acontecer com você, se você não mudar.
- O senhor já disse isso.
- Você não está entendendo! Você precisa acordar.
- Eu preciso o que?
- Você precisa acordar. Você precisa acordar antes que seja tarde. O último voo está prestes a sair.
- Eu não posso voltar.
- Acorde! - disse o velho, colocando as mãos em seu ombro e o sacudindo. - Acorde!
E ele de fato acordou e percebeu que tinha adormecido na cadeira do aeroporto, enquanto esperava que alguém viesse buscá-lo.
Tudo não tinha passado de um sonho, que ele atribuiu ao fato ter se martirizado durante toda a viagem, por ter deixado a esposa grávida para trás.
“Mas ela não podia viajar”, pensou ele pela milésima vez. “São as recomendações médicas.”
E foi como se pudesse ouvir a voz do velho:
- Eu sou você amanhã. Eu sou você amanhã.
Então ele se levantou e comprou uma passagem de volta.
Quem não faria o mesmo?
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.