
— Tenho boas notícias — disse o homem, ofegante como se tivesse atravessado o mundo para chegar a mim.
Tinha a barba por fazer e as roupas rasgadas como um mendigo, e eu notei que sua camisa estava suja de sangue.
— Você está ferido? — eu lhe perguntei, preocupado.
— Um pouco — ele disse.
Percebi que ele mal conseguia parar em pé.
— Quer que eu o leve para o hospital?
— Não é necessário — ele respondeu. — Vou me recuperar.
Não deveria ter acreditado nele, mas eu só perceberia isto mais tarde.
— Você parece com fome — eu lhe disse. — Quer comer alguma coisa?
— Eu aceito. Passei fome durante a viagem.
— Vamos. Eu lhe pago um lanche.
Enquanto caminhávamos até o carrinho de cachorros-quentes, eu lhe peguntei:
— Como você se feriu?
— Eles me prenderam e bateram em mim. Eu quase morri.
— E por que fizeram isto com você?
— Eles queriam me calar. Não queriam que eu chegasse até você. Mas não conseguiram me deter.
Chegamos ao carrinho.
— Um cachorro quente, por favor — pedi.
— De que tipo? — perguntou o lancheiro.
— Um bem grande — respondeu e o homem maltrapilho.
Enquanto o lancheiro preparava o lanche, continuamos conversando.
— Tem certeza que está bem? Você não me parece bem.
— Como eu estou não é importante. O que é importante é a mensagem que eu trouxe para você. Foi para isto que eu vim de tão longe.
— Você me conhece?
— Não.
— Então como sabe que a mensagem é para mim?
— Eu apenas sei — ele disse. Então teve uma crise de tosse.
— Você não está nada bem — eu lhe disse, apoiando as mãos em seus ombros. — As suas roupas estão molhadas!
— É por causa do naufrágio.
— Naufrágio? Que naufrágio?
— O barco que me trazia para cá naufragou e ficamos à deriva o dia inteiro, antes de sermos resgatados.
O lanche ficou pronto. Eu lhe entreguei o cachorro-quente e ele começou a comer.
— Eu não consigo — ele disse.
— Você está muito debilitado. Precisa comer.
— A mensagem é mais importante.
— A mensagem pode esperar.
— Não, você não entende. A mensagem não pode esperar.
— Chega dessa história — eu lhe disse. — Você mal consegue parar em pé.
— Você não entende… — ele disse. Então teve mais uma crise de tosse.
Ele se apoiou em mim e então desfaleceu em meus braços.
— Chame por ajuda! — disse eu ao lancheiro. Ele ligou para a emergência e pouco depois apareceu uma ambulância para levá-lo.
Fui para o hospital no meu carro, para ter mais informações sobre o estado de saúde daquele homem de quem eu nem sabia o nome. Fui recebido por uma enfermeira.
— Ele não resistiu — disse ela.
— Ele… ele morreu? — perguntei, pasmo, tentando assimilar a notícia.
— Ele perdeu muito sangue. Estava desnutrido.
— O que aconteceu com ele?
— Não sabemos. Pensei que você poderia nos explicar.
— Eu não o conhecia. Ele me abordou com uma história mirabolante. Disse que tinha vindo de longe, disse que estava há dias sem comer…
— Isso explica a desnutrição — disse ela.
— Disse que o tinham capturado, maltratado e espancado.
— Algo do tipo deve ter acontecido, porque as suas costas estão cheias de feridas, como se tivesse sido severamente açoitado.
— E o mais absurdo! Ele também me disse algo sobre ter sobrevivido a um naufrágio, enquanto viajava para cá. Eu não acreditei nele, mas as suas roupas estavam molhadas…
— Isso explica as algas — disse a enfermeira.
— As algas?
— Sim. Encontramos algas marinhas no seu bolso.
— Não acredito! — disse eu perplexo. — Você acha possível que ele realmente tenha estado no mar?
— Você tem outra explicação para as algas?
— Não.
— Eu também não.
— Pensei que ele fosse um mendigo com esquizofrenia.
— Eu atendo mendigos todos os dias. Ele não parecia um mendigo pra mim.
— … mas a história dele não faz sentido. Ele disse que passou fome, que foi maltratado e sobreviveu a um naufrágio apenas para me dar uma notícia, uma boa notícia.
— Talvez fosse verdade.
— Não faz sentido. Quem passa por tudo isso apenas para dar uma notícia? — eu lhe perguntei.
— Alguém que se importa? — respondeu ela.
— Você pode ter razão — eu lhe disse. — Havia algo de verdadeiro na forma como ele me olhava.
— Você deveria ter lhe dado ouvidos.
— Como eu poderia? O que ele falava parecia loucura.
— Não se julga um livro pela capa. É o que meu pai dizia.
— Se eu pudesse voltar atrás, eu teria lhe dado ouvidos — disse eu mais para mim mesmo, do que para a enfermeira.
— Eu adoraria continuar conversando, mas preciso voltar ao trabalho.
— Me desculpe, estou aqui falando com você como se fosse uma psicóloga. É que fiquei um pouco abalado com a notícia.
— Não tem problema — disse ela. E foi embora.
Eu me virei para ir embora também e comecei a andar pelo corredor. Pouco depois a enfermeira me alcançou.
— Quer ficar com isto — disse ela. — São as roupas dele.
— Fico — respondi.
A enfermeira foi para um lado e eu fui para o outro. Enquanto caminhava, um dos pertences do homem caiu no chão. Um pequeno livro surrado e de capas negras.
Passei os dias seguintes devorando cada página do livro, como quem descobre um tesouro perdido.
O que eu posso dizer sobre o que estava escrito? Era o tipo de notícia pela qual eu mesmo estava disposto a atravessar rios e correr risco de morte para que outros a ouvissem.
Este texto, pensado para ser uma pequena peça de teatro, é uma homenagem a todos os mártires que deram a sua vida e carregaram a sua cruz para que o evangelho pudesse chegar até nós. Também é um apelo a que também façamos o mesmo, para que o evangelho alcance outras pessoas, porque as pessoas não nos darão ouvidos a menos que vejam o quanto nos importamos com elas.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.