Maldita é a terra por sua causa; com sofrimento você se alimentará dela todos os dias da sua vida. Ela lhe dará espinhos e ervas daninhas, e você terá que alimentar-se das plantas do campo. Com o suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra [maldita], visto que dela foi tirado; porque você é pó, e ao pó voltará.
O Senhor amaldiçoou a terra por causa do homem [porque o homem pecou], para que o homem se alimentasse da terra com sofrimento. A maldição da terra, nesta passagem, acaba sendo uma punição ao homem, pelo pecado original.
Devemos notar, contudo, que em sua misericórdia Deus não privou o homem do seu sustento, apenas dificultou a sua obtenção. Isto significa que, em geral, se o homem estiver disposto a se sacrificar e trabalhar duro, obterá o seu sustento.
Deve estar preparado, outrossim, para muita dor e sofrimento, porque a própria terra — amaldiçoada por sua causa — se oporá a ele, produzindo espinhos e ervas daninhas.
Os espinhos aqui são, obviamente, uma forma de atrapalhar e ferir o homem, em seu intento de obter sustento; são uma forma de lhe frustrar a esperança. As ervas daninhas também representam uma frustração na expectativa de colheita. O homem plantaria esperando colher o que plantou, mas o resultado seria o fracasso.
A maldição da terra nesta passagem está direcionada contra o trabalho do homem, o que fica claro na sequência, quando Deus diz que como o suor de seu rosto o homem comeria seu pão. Este suor do rosto simboliza o nosso sacrifício, o nosso trabalho duro para obter sustento e pode muito bem ser resumido na máxima “trabalhar muito para colher pouco”.
Esta é a condição do trabalho do homem, após a queda; esta é a explicação bíblica para a pobreza e para o fracasso no trabalho.
Esta condição deveria afetar todos os homens, em maior ou menor grau, contudo não precisamos ir muito longe, nas escrituras, para encontrar uma exceção a esta regra. Ainda no livro de Gênesis, encontramos o seguinte relato a respeito de Isaque: “Isaque formou lavoura naquela terra e no mesmo ano colheu a cem por um, porque o Senhor o abençoou.”
Isaque se tornou riquíssimo [segundo a Bíblia] não porque trabalhava mais do que os outros, mas porque a terra não se lhe opôs, como se opunha aos demais; sua lavoura não produzia espinhos e ervas daninhas; pelo contrário, produzia frutos com abundância, porque o Senhor o abençoou.
Ser abençoado, no caso de Isaque, significava que as circunstâncias lhe eram favoráveis; significava ver amenizado os efeitos da queda, na sua vida, para uma condição bem próxima do que era antes do pecado entrar no mundo.
A vida de Isaque é uma contradição ao castigo que Deus impôs ao homem, por causa do pecado. Sim, porque quando Deus disse “com sofrimento você se alimentará” ou, ainda, “com o suor do seu rosto, você comerá o seu pão” ele estava falando não apenas com Adão, ele estava falando com todos os homens [inclusive com Isaque]. Como diz a bíblia, “por meio da desobediência de um só homem muitos foram feitos pecadores”.
Isaque não apenas herdou o pecado de Adão, como também era, ele próprio, um pecador — por melhor que fosse — e, como tal, era merecedor de castigo e não de bênção, porque Deus não abençoa ninguém por ser melhor do que os outros.
A bênção de Isaque de modo algum era um mérito seu, todavia lá estava ele sendo poupado do castigo, como se fosse justo. A exemplo de seu pai Abraão, ele foi justificado por Deus; lhe foi imputada uma justiça que não era sua.
Eis como a bíblia descreve esta justiça: “Mas agora se manifestou uma justiça que provém de Deus […], justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo para todos os que creem. Não há distinção, pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há em Cristo Jesus.”
Não existe outra fonte de justificação, senão em Cristo. Só isto explica a bênção de Isaque: ele foi alcançado pela redenção que há em Cristo; uma redenção cujo alcance é ex tunc, ou seja, possui efeitos retroativos; vale desde o início.
Em teologia se discute muito sobre a consumação da redenção, isto é, sobre quando a redenção nos alcançará totalmente. Fala-se muito no “já” para referir-se a parte já consumada, e no “ainda não”, para referir-se a parte da herança que receberemos no final.
Não podemos negar que existe o ainda não, contudo a bíblia está cheia de história de pessoas ousadas que experimentaram já o ainda não, e Isaque foi um deles. Ele foi alcançado pela redenção que há em Cristo, um evento ainda no futuro, que para ele fazia parte do ainda não.
Mais do que isto, a redenção alcançou o seu trabalho, amenizando os efeitos da queda, para uma condição bem próxima do que era antes do pecado entrar no mundo. Ele formou lavoura e, no mesmo ano, colheu a cem por um, porque o Senhor o abençoou.
Ou seja, Isaque alcançou há milhares de anos atrás, coisas que muitos teólogos consideram fazer parte do “ainda não”, como se não devêssemos esperar esse tipo de coisa como parte da nossa redenção.
E qual foi o meio pelo qual os patriarcas lograram a antecipação dos benefícios da redenção? Por meio da fé. “Abrão creu no Senhor, e isso lhe foi creditado como justiça”, dizem as escrituras. Pela fé homens e mulheres transformaram o ainda não em já.
Pela fé, Maria conseguiu de Jesus o milagre de transformar água em vinho, mesmo que Jesus lhe tivesse dito que sua hora ainda não havia chegado. Pela fé a Mulher siro-fenícia conseguiu o seu milagre, mesmo que Jesus lhe tivesse dito que ainda não era a hora dos gentios.
Essa é uma das qualidades da fé: ela antecipa a hora. Por meio dela, podemos provar hoje os poderes da era que há de vir. “Sem fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.”
Todos os homens redimidos da bíblia alcançaram prosperidade em seu trabalho, inclusive os apóstolos. “Mas eles não enriqueceram, como Isaque”, alguém poderia dizer. Ora, a riqueza de Isaque foi consequência dele ser bem sucedido no seu trabalho.
Alguém pode negar que os apóstolos tenham sido bem sucedidos em seu trabalho? Alguém pode negar que eles tenham colhido a cem por um, quando o próprio Jesus lhes prometeu que receberiam cem vezes mais?
Se Isaque experimentou a redenção do seu trabalho, a prosperidade nas suas atividades, nós também podemos experimentar.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.