“Por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês? Pois Deus disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’ e ‘Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser executado’. Mas vocês afirmam que se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é uma oferta dedicada a Deus’, ele não está mais obrigado a ‘honrar seu pai’. Assim, por causa da sua tradição, vocês anulam a palavra de Deus.”
Segundo este texto, honrar pai e mãe não se trata apenas de ser respeitoso, de chamar de senhor e senhora, de pedir bênção, trata-se também de ajudá-los com dinheiro. Este parece ser um ponto de concordância entre Jesus e os mestres da Lei, no texto que lemos. Neste caso, a interpretação deles é melhor do que a nossa, porque, para nós, honrar nossos pais raramente significa colocar a mão no bolso.
Os mestres da Lei só dispensavam a obrigação de ajudar pai e mãe financeiramente para dedicar esse dinheiro como oferta a Deus, como se, neste caso, prevalecesse a superioridade do mandamento de amar a Deus sobre todas as coisas. Contudo, ao contrário do que pensavam os mestres da Lei, não estamos aqui diante de nenhum tipo de conflito de normas, também não estamos diante de uma situação que nos obrigue a definir prioridades.
Do mesmo modo que é errado tirar dos pais para dar a Deus, é igualmente errado tirar de Deus para dar aos pais. Ou seja, não se trata do que vem em primeiro ou em segundo lugar, trata-se de dar a cada um a parte que lhe cabe. Deus não quer o que cabe aos nossos pais, ele só quer a parte que lhe cabe; dessa, ele não abre mão.
Este princípio de dar a cada um a parte que lhe cabe está presente também na máxima bíblica de dar a Deus o que é de Deus e a Cesar o que é de Cesar, que poderíamos, muito bem, ampliar para dar ao cônjuge o que é o do cônjuge, dar aos filhos o que é dos filhos, dar ao patrão o que é do patrão, porque, no fim das contas, é errado tirar a parte de quem quer que seja para dar a quem quer que seja, ainda que seja a Deus.
Imagine um pastor, por exemplo, que negligencia a educação dos seus filhos para cuidar da igreja, como se, por isso, Deus fosse obrigado a cuidar dos seus filhos. Se os filhos deste pastor um dia se tornarem rebeldes e saírem da igreja, ele não poderá reclamar com Deus, porque Deus nunca lhe pediu a parte que cabia aos seus filhos. Este tipo de pensamento não tem base na palavra de Deus — é coisa da nossa cabeça — e Deus não tem obrigação com nada da nossa cabeça que não provenha da sua palavra, e da sua palavra interpretada corretamente.
Deus só quer a parte que lhe cabe. “Se eu sou pai, onde está a honra que me é devida? Se eu sou senhor, onde está o temor que me devem?”, disse o Senhor, por meio do profeta Malaquias. A honra e o temor são sentimentos internos, mas no livro de Malaquias o Senhor também os avalia em termos de atitudes externas, como, por exemplo, na qualidade da oferta trazida ao altar, na omissão do dízimo ou no descaso em congregar.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.