Os judeus tinham um hábito muito higiênico, a frente do seu tempo. Eles não comiam sem lavar as mãos. Tratava-se de uma tradição religiosa e cultural ao mesmo tempo, porque em Israel cultura e religião estavam interligadas.
Alguns religiosos perguntaram a Jesus porque os seus discípulos transgrediam essa tradição, não lavando as mãos para comer. Obviamente, Jesus não era contra os hábitos higiênicos, mas ele tinha algumas coisas a dizer sobre a tradição e os costumes.
Os religiosos perguntaram: “Por que os seus discípulos transgridem a tradição dos líderes religiosos?” Jesus respondeu com outra pergunta: “E por que vocês transgridem o mandamento de Deus por causa da tradição de vocês?”. Ou seja, para Jesus o mandamento não é uma tradição, não é uma herança cultural judaica.
O Reino de Deus é transcendente, está acima das tradições, das ideologias e da cultura e não se sujeita a elas. Na verdade, Jesus não tem problema nenhum com as tradições de um povo, seu problema são os costumes que conflitam com o evangelho.
Nestas situações, é bom que se diga, os costumes devem mudar por mais tradicionais que sejam. Ainda que estejam arraigados na cultura, ou que façam parte de uma tradição milenar, eles devem se adaptar à palavra de Deus e não o contrário.
Jesus prossegue: “Vocês estão sempre encontrando uma boa maneira de pôr de lado os mandamentos de Deus, a fim de obedecerem às suas tradições!” Isto diz muito sobre a inclinação do coração. Quem é apegado às tradições, mais do que à Palavra, fica do lada da tradição e põe de lado os mandamentos.
Contudo, as pessoas as quais Jesus se dirige não rejeitam os mandamentos, simplesmente. Não, elas encontram “boas maneiras” de os pôr de lado, reinterpretando-os. Jesus, então, lhes apresenta um caso concreto:
“Pois Moisés disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’ e ‘Quem amaldiçoar seu pai ou sua mãe terá que ser executado’. Mas vocês afirmam que se alguém disser a seu pai ou a sua mãe: ‘Qualquer ajuda que vocês poderiam receber de mim é uma oferta dedicada a Deus, vocês o desobrigam de qualquer dever para com seu pai ou sua mãe.”
O que Jesus chama de tradição, trata-se na verdade de uma reinterpretação da Lei, que pode até parecer piedosa, a primeira vista, porque coloca Deus em primeiro lugar. Sem entrar no mérito da interpretação em si, o exposto nos diz muito sobre a palavra de Deus.
Nos diz, por exemplo, que a Palavra só é a verdade quando interpretada e entendida corretamente. Não se pode suavizá-la, enviesá-la ou distorcê-la para atender os nossos interesses, para adaptá-la a uma cultura determinada ou por qualquer outra escusa razão, porque então ela deixa de ser a palavra de Deus, para tornar-se uma tradição como outra qualquer.
“Assim, por causa da sua tradição, vocês anulam a palavra de Deus”, concluiu Jesus. Isto mostra que as más interpretações anulam a palavra de Deus e tornam-a sem efeito, como uma espada que perdeu o gume.
A quem interessa distorcer a palavra de Deus? Por que muitas pessoas preferem adaptar a bíblia aos seus interesses, subjugá-la às sabor dos tempos, do que negá-la por completo? O objetivo obviamente é colocar palavras na boca de Deus, para pegar carona na autoridade divina e seduzir pessoas ignorantes.
É contra este comportamento — e em defesa do evangelho — que Jesus levanta a sua voz. O que Jesus faz não é uma contextualização cultural das escrituras, para a necessidade de um novo tempo. Ao contrário, ele luta pela libertação da palavra do jugo religioso e cultural.
Jesus não tem problema com a cultura, desde que a cultura não conflite com a palavra de Deus. Ele não tem problema nenhum com as ideologias, desde que o deixem de fora do debate. O evangelho está acima de todas estas coisas. Em situações de conflito, devemos reafirmar a palavra de Deus.
E se o evangelho voltar a ser contra-cultural? Que lado você vai escolher?
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.