O grito da meia noite

February 14, 2018

Jesus começou a parábola dizendo que “o Reino dos céus será, pois, semelhante a dez virgens que pegaram suas candeias, e saíram para encontrar-se com o noivo”. Como se vê, todas tinham suas candeias acesas e, se o noivo tivesse chegado logo, as dez estariam aparentemente preparadas para a sua chegada e esta história teria um final feliz [ou não, conforme veremos adiante].

Estas dez virgens da parábola eram damas de honra da noiva e fazia parte do ritual de casamento que elas recebessem o noivo com as candeias acesas, quando ele chegasse. “Cinco delas eram insensatas, e cinco eram prudentes”, disse Jesus. [Espero que seja um número aleatório, e que o percentual de cinquenta por cento não represente realmente o número de insensatos dentro da igreja.]

As insensatas pegaram suas candeias, mas não levaram óleo”, diz o texto, porque, obviamente, as insensatas contavam com a breve chegada do noivo e porque não estavam tão preocupadas com a possibilidade de suas candeias apagarem. Por serem insensatas, não levavam em conta a incerteza quanto ao dia e a hora da chegada do noivo.

Ao contrário das insensatas, “as prudentes, porém, levaram óleo em vasilhas, junto com suas candeias”, preparando-se para uma eventual demora. Por serem sensatas, elas preocupavam-se em estarem preparadas quando o noivo chegar. O ensino aqui é claro: nós devemos estar preparados tanto para a chegada imediata de Cristo, quanto para a sua eventual demora.

O noivo demorou a chegar”, disse Jesus, buscando preparar o discípulos para uma possível demora da sua vinda. De fato, no nosso caso o noivo demora a chegar mais de dois mil anos, se considerarmos que Jesus aqui está falando de si próprio [1]. “E todas ficaram com sono e adormeceram”, prossegue o texto. Devido à demora do noivo, as virgens perderam o o senso de expectativa, esse senso que nos faz olhar para o horizonte aguardando a chegada do amado [como o pai que espera o filho pródigo].

Há um ponto importante aqui. Tivesse o noivo chegado naquele momento, encontraria todas as virgens dormindo, inclusive as prudentes, e todas as candeias apagadas. Ou seja, todas ficariam de fora das bodas de casamento, inclusive as prudentes. Tivesse o noivo chegado sem aviso, não encontraria ninguém a sua espera, mas graças a Deus pela sua misericórdia! Porque “à meia-noite, ouviu-se um grito. O noivo está chegando!”

Este grito da meia-noite é o grito da graça! Por mais prudentes que sejamos, não estaríamos prontos não fosse o grito de despertar. Logo, somos salvos pela graça e não por nossa prudência, porque os prudentes também falham!

Se tomarmos esta parábola profeticamente, como deve ser, temos o seguinte cenário: a vinda de Cristo será precedida pelo despertar de uma igreja adormecida; e o nome que se dá a isto é avivamento. E eu creio que vivemos este tempo. Veremos com os nossos olhos um mover do Espírito em nossa geração, viveremos um avivamento mundial da verdeira igreja, que alcançará até mesmo as virgens insensatas.

Porque, na parábola, dado o grito da meia-noite, “todas as virgens acordaram e prepararam suas candeias. As insensatas disseram às prudentes: Deem-nos um pouco do seu óleo, pois as nossas candeias estão se apagando”. O que as insensatas estavam propondo, na verdade, era a generalização da insensatez; a universalização da mediocridade. Elas queriam que as sensatas corressem o risco, como elas, de também não estarem preparadas para a chegada do noivo.

Esta é a diferença entre as prudentes e as insensatas: as insensatas estão sempre correndo riscos, brincando com fogo. O insensato abusa da graça, faz pouco caso do serviço e tenta convencer os prudentes a fazerem o mesmo. Eles dizem: Vocês não precisam de tanto! No fim, todos seremos salvos!

Vão comprar óleo para vocês”, dizem as prudentes. E “saindo elas para comprar o óleo, chegou o noivo. As virgens que estavam preparadas entraram com ele para o banquete nupcial. E a porta foi fechada. Mais tarde vieram também as outras e disseram: Senhor! Senhor! Abra a porta para nós!”, mas já era tarde.

A verdade é que não as conheço!”, disse o noivo. Não é que o noivo tenha subitamente ficado com amnésia ou que já as tenha conhecido um dia, a verdade é que ele nunca as conheceu. Elas nunca foram esperadas nas bodas, por ele, e o nome delas nunca esteve na lista de convidados.

[Isto fica mais claro em outra passagem de Mateus: “Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci!”]

Logo, estas cinco virgens não eram apenas insensatas, eram também enganadas e iludidas, primeiro porque julgavam serem conhecidas pelo noivo e, segundo, porque elas próprias julgavam conhecê-lo, sem nunca tê-lo conhecido.

A insensatez é um reflexo da total falta de intimidade com o noivo.

O que aconteceria com as virgens insensatas, se o noivo tivesse chegado quando suas lâmpadas estavam acesas? Esta parece ser uma situação irreconciliável no contexto desta história, porque, em tese, elas teriam o direito de entrar nas bodas, por estarem com as candeias acesas, mas não poderiam entrar por serem desconhecidas pelo noivo.

A verdade é que as insensatas não poderiam entrar por serem insensatas, e não por não levarem óleo, e elas eram insensatas desde o começo, mesmo quando ainda havia óleo em suas candeias. O não levarem óleo, portanto, era consequência da sua insensatez, e não a causa dela. O que se recrimina na parábola, portanto, é a insensatez.

De igual modo, as prudentes já eram prudentes antes de levarem óleo, e eram prudentes porque conheciam o noivo e o amavam, motivo pelo qual levavam óleo para recebê-lo. O óleo, na parábola, representa mais o amor pelo noivo e a alegria pela sua chegada, do que obras ou deveres.

Quem ama o Senhor, deseja a sua vinda.

Não existe nenhuma possibilidade dos conhecidos pelo Senhor serem surpreendidos pela sua vinda, porque os escolhidos do Senhor são preparados por ele para que estejam prontos na última hora.

As virgens prudentes desta parábola representam, portanto, os eleitos do Senhor, aqueles cujos nomes estão escritos no livro da vida. Ainda que estejam dormindo, o Senhor lhes envia o grito de despertar. “Já é tempo de despertarmos do sono”, escreveu o apóstolo Paulo, “porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos.

Notas.

[1] Notem como Jesus, aqui, está alertando seus discípulos para a possibilidade de sua demora. “Ah, então os discípulos estavam errados em esperá-lo em sua geração”, alguém poderia dizer. De modo algum, porque eles entenderam que esta demora se daria naquela geração. Ou seja, Jesus voltaria em breve, mas não imediatamente. E alguns discípulos morreriam, inclusive, antes que ele voltasse. Este parece ter sido o entendimento dos discípulos, quanto ao alerta de Cristo sobre a possibilidade da demora.


Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.