Tempos de apostasia

January 31, 2018

S I N A I S

“Pois que também o nosso tempo é um tempo de confusão teológica e moral, e
até mesmo de apostasia.” John Stott

Quando perguntado sobre que sinais haveria de sua vinda e dos fins do tempo, Jesus respondeu: “Cuidado, que ninguém os engane.” “Pois muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Eu sou o Cristo!’ e enganarão a muitos.” No mesmo discurso, Jesus também diz que “numerosos falsos profetas surgirão e enganarão a muitos.” Depois, mais adiante, ele torna a repetir que “aparecerão falsos cristos e falsos profetas que realizarão grandes sinais e maravilhas para, se possível, enganar até os eleitos.” “Vejam que eu os avisei antecipadamente.”

Conforme se verifica, Jesus dedicou uma boa parte do seu discurso escatológico a nos alertar sobre estes agentes de Satanás — verdadeiros lobos em pele de cordeiro — , que viriam travestidos de falsos cristos e falsos profetas, com o objetivo de enganar a muitos, inclusive por meio de sinais e maravilhas enganadoras. Estes falsos profetas obviamente não se apresentariam como falsos, pelo contrário, eles se apresentariam como profetas autênticos e conseguiriam enganar a muitos, conforme Jesus deixou claro, mais de uma vez, no seu discurso.

Falando a respeito dos anticristos de sua época [sim, eles não demoraram a surgirem], João escreve: “Eles saíram do nosso meio, mas na realidade não eram dos nossos, pois, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco; o fato de terem saído mostra que nenhum deles era dos nossos.” Ou seja, os anticristos e falsos profetas estariam infiltrados na própria igreja, como joio no meio do trigo, seduzindo o povo de Deus com suas heresias e falsos ensinos, enganando com seu discurso um grande número de pessoas sugestionáveis, promovendo a apostasia generalizada.

Segundo o apóstolo Paulo, nos últimos tempos as pessoas abandonariam a fé para seguirem espíritos enganadores e doutrinas de demônios. A este respeito, o apóstolo João nos exorta a não crermos em qualquer espírito, mas a examinarmos os espíritos para ver se eles procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo. “Todo espírito que não confessa Jesus não procede de Deus. Esse é o espírito do anticristo, acerca do qual vocês ouviram que está vindo, e agora já está no mundo.” O espírito do anticristo é o espírito do erro, o espírito da apostasia e dos apóstatas.

A apostasia é um risco real, em todas as gerações. Via de regra ela acontece aos poucos, com pequenos falsos ensinos que vão se acumulando, até a igreja de Deus, sem perceber, tornar-se sinagoga de Satanás. Quem chegou até este ponto, está a um passo de ter a sua própria versão do “sacrilégio terrível” no lugar santo, assim como a sua própria versão do anticristo. É neste ponto que a falsa igreja se volta contra a igreja verdadeira remanescente; a igreja dos sete mil que não se dobraram.

Isto já aconteceu ao longo da história e, de fato, a apostasia da igreja foi o que motivou a reforma protestante. Para Lutero e, segundo a Confissão de Fé de Westminster, o papa de Roma era o próprio anticristo, o homem do pecado e filho da perdição que se exalta na igreja contra Cristo e contra tudo o que se chama Deus.

Quando surgiu um boato na igreja de Tessalônica de que o dia do Senhor já tinha acontecido, o apóstolo Paulo cuidou de desfazer o engano por carta, recorrendo aos sinais da vinda de Cristo que ainda faltavam acontecer. Segundo o apóstolo, “antes daquele dia virá a apostasia [pessoas abandonarão a fé] e, então, será revelado o homem do pecado, o filho da perdição.”

Se para o apóstolo Paulo — naquela que é tida como uma de suas primeiras cartas — a ausência da apostasia e do anticristo era uma evidência de que o dia do Senhor ainda não chegara, não demorou muito para este contexto mudar. Cerca de quarenta anos depois, já próximo do fim daquela geração, o apóstolo João nos apresenta um cenário diferente. “Filhinhos, esta é a última hora”, escreveu ele. “Assim como vocês ouviram [provavelmente por meio de Cristo e de Paulo] que o anticristo está vindo, já agora muitos anticristos têm surgido. Por isso sabemos que esta é a última hora.”

Tal qual predito por Jesus, os sinais haviam se cumprido naquela geração. Se antes dos sinais se cumprirem, a igreja já estava vivendo os últimos dias, agora que os sinais se cumpriram, sabemos que estamos vivendo a última hora. Isto não significa que, conforme estamos vendo, os mesmos sinais não ocorrerão em nossa geração, porque embora tenham surgidos muitos anticristos, ainda falta vir aquele derradeiro, a quem o Senhor matará em sua vinda com o sopro da sua boca.

A situação é a seguinte: “embora os crentes estejam certos em esperar um indivíduo específico no final dos tempos, um indivíduo em quem uma ímpia oposição a Cristo se cristalizará, devem, antes, fixar sua atenção nos “muitos” anticristos já presentes em seus próprios dias e tempo, no fato de que o mistério da iniquidade já está em operação.”

“Então se torna evidente que em todas as eras o poder anticristão se manifesta, e é nosso dever resisti-lo com todas as nossas forças. Repetidas vezes esse domínio do anticristo sofre derrota.” Isto mostra que a maior batalha que a igreja travou ao longo das eras não foi contra a perseguição, foi contra os falsos ensinos; foi contra o engano. O maior perigo para a igreja não vem de fora, vem de dentro.


Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.