Proselitismo e perseguição religiosa

January 23, 2018

S I N A I S

Ainda na esteira dos sinais da vinda de Cristo (Mateus 24), hoje vamos falar sobre o sinal da perseguição mundial aos cristãos. Jesus nos disse que, antes da sua vinda, seríamos perseguidos e condenados à morte, e seríamos odiados por todas as nações por sua causa.

Este ser odiado por “todas as nações” é muito parecido com o “pregar o evangelho a “todas as nações”, do versículo subsequente. De fato, o sinal da perseguição mundial ocorre em paralelo com o sinal da evangelização mundial, e decorre diretamente dele. No cumprimento da grande comissão eles não seriam bem recebidos, pelo contrário, eles enfrentariam oposição e perseguição [como acontece até hoje em muito dos lugares onde Cristo ainda não é plenamente conhecido].

Em sua visão do Apocalipse, João viu “debaixo do altar as almas daqueles que haviam sido mortos por causa da palavra de Deus e do testemunho que deram.” Você percebeu? Eles não haviam sido mortos por serem cristãos; haviam sido mortos por pregarem a palavra.

Quando o evangelho deixa de ser pregado, a tendência é a perseguição arrefecer, porque o objetivo da perseguição é nos calar. Talvez isto explique o que acontece nos dias de hoje, afinal porque haveríamos de ser perseguidos, se estamos perdendo terreno; se o número de pessoas sem acesso ao evangelho no mundo está crescendo, em vez de diminuindo?

O que nós chamamos de pregação do evangelho, o mundo chama de proselitismo. O proselitismo pode ser definido como um empenho ativista para converter pessoas a uma religião determinada. Atualmente, no Direito Internacional, enquanto a liberdade de crença é absoluta, a liberdade de expressão dessas crenças pode ser sujeita a limitações por parte do Estado.

No contexto da guerra cultural e ideológica que estamos vivendo, a religião foi relegada [especialmente pela esquerda] a uma forma de manifestação cultural, que deve ser “defendida” e “protegida”, inclusive do proselitismo por parte de religiões provenientes de outras culturas. Deste ponto de vista, por exemplo, pregar o evangelho para índios é considerado um absurdo; uma invasão cultural.

Cada vez mais, o bom convívio social exige um preço de nós [cristãos]: ficarmos calados.

Existe, portanto, um conflito evidente [e crescente] entre as exigências sociais e as cristãs, uma vez que [contrariando os anti-proselitistas] Cristo nos deixou uma missão clara: ir por todo o mundo e pregar o evangelho a toda criatura [seja índio, africano ou asiático].

A verdade é que o evangelho vai se tornando cada dia mais ofensivo e incômodo, por sua visão absolutista de que Jesus é o único caminho para Deus; e os pecadores vão arder no fogo do inferno. Nada é mais ofensivo, em uma cultura relativista como a nossa, do que a afirmação de que o que pregamos é a única verdade.

O problema, para nós, é que [a despeito da perseguição] não podemos nos calar. “O que eu lhes digo na escuridão, falem à luz do dia”, disse Jesus. Quando ordenaram aos discípulos que não falassem nem ensinassem em nome de Jesus, Pedro e João responderam: “Julguem os senhores mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus.”

Em tempos como o que estamos vivendo, sempre haverão pessoas como aqueles líderes judeus que “creram em Jesus, mas, por causa dos fariseus, não confessavam a sua fé, com medo de serem expulsos da sinagoga; pois preferiam a aprovação dos homens do que a aprovação de Deus.” Esta carapuça tem ou não tem o tamanho das nossas cabeças?

Nós dosamos a pílula do evangelho sob o pretexto do amor e ensinamos coisas sem sentido como pregar o evangelho sem o uso de palavras, quando a verdade é uma só e foi muito bem exposta pelo apóstolo Paulo, quando ele disse: “Os que desejam causar boa impressão exteriormente, agem desse modo apenas para não serem perseguidos por causa da cruz de Cristo.”

Todavia somos chamados não apenas a crer em Cristo, mas também a [abrir as nossas bocas e] confessá-lo publicamente. “Quem, pois, me confessar diante dos homens [mesmo em tempos de perseguição], eu também o confessarei diante do meu Pai que está nos céus. Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus.”

Quem tem medo de perseguição, não deveria ser cristão, porque perseguição é o que a igreja deve esperar como normal no mundo. “Todo o Novo Testamento enfatiza repetidamente que a igreja é por natureza um povo mártir. [1]”

“Quando Jesus ensinou que quem quer ser seu discípulo deve negar-se a si mesmo e tomar sobre si a sua cruz, ele não estava falando de carregar cargas pesadas, mas de estar disposto a ser martirizado. A cruz nada mais é do que um instrumento de morte. Cada discípulo de Jesus é em sua essência um mártir. [1]”

É a respeito deste tipo de conflito que Jesus se referia, quando disse:

“Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada. Pois eu vim para fazer que o homem fique contra seu pai, a filha contra sua mãe, a nora contra sua sogra; os inimigos do homem serão os da sua própria família.” “O irmão entregará à morte o seu irmão, e o pai, o seu filho; filhos se rebelarão contra seus pais e os matarão.”

“Quem ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim não é digno de mim; quem ama seu filho ou sua filha mais do que a mim não é digno de mim; e quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem acha a sua vida a perderá, e quem perde a sua vida por minha causa a encontrará.”

Para nós este versículo pode não fazer muito sentido, mas para os cristãos perseguidos faz todo o sentido. Até os dias de hoje, em muitos lugares do mundo, abraçar a Cristo significa abrir mão da família, significa ser rejeitado na cidade, significa abrir mão da própria vida.

“Nenhum servo é maior do que o seu senhor”, disse Jesus. “Se me perseguiram, também perseguirão vocês.” É o que devemos esperar, mesmo nós que vivemos em tempos de paz aparente. “Todos odiarão vocês por minha causa, mas aquele que perseverar até o fim será salvo.”

Nós gostamos mais do outro versículo que fala que “todo aquele que crer e for batizado será salvo”, mas a salvação é mais do que crer, é perseverar até o fim na fé, mesmo sob intensa perseguição.

Lembrem-se da promessa de Jesus:

“Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa, os insultarem, os perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês.”

Notas:

[1] George Eldon Ladd


Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.