Uma das passagens mais conhecidas do Antigo Testamento é o chamado de Abraão. O Senhor prometeu abençoá-lo e abençoar todos os povos da terra por meio dele. É sobre essa benção que vamos falar neste sermão.
Segundo o apóstolo Paulo, em sua carta aos Gálatas, esta promessa de bênção que Abraão recebeu era um prenúncio do evangelho.
“Prevendo a Escritura que Deus justificaria os gentios pela fé, anunciou primeiro as boas novas [o evangelho] a Abraão: ‘Por meio de você todas as nações serão abençoadas’”.
Antes dele, o apóstolo Pedro já havia interpretado da mesma forma a promessa, em seu sermão no templo, depois de curar o mendigo paralítico. Segundo o apóstolo,
“Ele [Deus] disse a Abraão: ‘Por meio da sua descendência todos os povos da terra serão abençoados’. Tendo Deus ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vocês, para abençoá-los, convertendo cada um de vocês das suas maldades.”
Se para os apóstolos, como vimos, a bênção de Abraão era espiritual e incluía a justificação, no Antigo Testamento a bênção tem, também, um lado material, incluindo bens e riquezas.
Considere, por exemplo, as palavras de Eliezer, o servo de Abraão, ao descrever seu senhor para a família de Rebeca:
“Sou servo de Abraão. O Senhor o abençoou muito, e ele se tornou muito rico. Deu-lhe ovelhas e bois, prata e ouro, servos e servas, camelos e jumentos.”
O próprio autor de Gênesis faz esta associação entre bênção e riquezas ao escrever sobre Isaque:
“Isaque formou lavoura naquela terra e no mesmo ano colheu a cem por um, porque o Senhor o abençoou. O homem enriqueceu, e a sua riqueza continuou a aumentar, até que ficou riquíssimo.”
Isto não significa que o elemento espiritual da bênção de Abraão estivesse ausente no Antigo Testamento, que fosse alheio ao próprio Abraão ou que passasse desapercebido ao escritor do Gênesis.
Pelo contrário, a base para a teologia Paulina de justificação pela fé vem justamente de um versículo do Gênesis a respeito de Abraão. “Considerem o exemplo de Abraão: ‘Ele creu em Deus, e isso lhe foi creditado como justiça’”.
É óbvio também que a prosperidade financeira não era a base do chamado de Abraão, nem foi com o intuito de enriquecer que ele saiu do meio dos seus parentes.
O autor de Hebreus escreve que Abraão viveu como peregrino na terra, porque esperava uma pátria melhor, isto é, a pátria celestial. Não podemos ignorar este testemunho, a respeito da espiritualidade de Abraão.
Assim como nós experimentamos os poderes da era que há de vir, Abraão igualmente usufruiu de uma comunhão com o Espírito que não era próprio da sua época, e tudo isto sendo rico.
Abraão é o camelo que passou pelo buraco da agulha, é o homem rico que entrou no Reino. É a prova de que a Bíblia não é contra o enriquecimento, mas sim contra o enriquecimento ilícito, contra a ganância e contra o amor ao dinheiro.
Se o dinheiro corrompe, não corrompeu Abraão, se desvia os fracos do caminho, não desviou Abraão, primeiro porque foi Deus que o enriqueceu, segundo porque ele não era apegado ao dinheiro e, terceiro, porque ele tinha o Espírito.
Salomão orou por sabedoria e recebeu, também, riquezas, Abraão ansiava receber uma bênção espiritual, mas também foi abençoado materialmente. Ora, o enriquecimento, no caso deles, foi quase um efeito colateral.
“A bênção do Senhor enriquece”, está escrito no livro de Provérbios, o que nos dá margem para crer que este “efeito colateral” não estava restrito a Abraão, mas era comum a todos quantos o Senhor abençoava.
Quando o apóstolo Paulo escreveu que Cristo nos redimiu da maldição da Lei, para que a bênção de Abraão chegasse até nós, é óbvio que ele tem em mente a justificação [como bênção]. Ou seja, ele não está sugerindo que o evangelho enriqueça.
No entanto, o simples fato dele não ter isso em mente, não é razão para ignorar todo o ensino anterior sobre a benção. Pelo contrário, é boa prática de interpretação conciliar o seu ensino com o do Antigo Testamento.
O mesmo se pode dizer também da maldição da Lei. É óbvio que o apóstolo tem em mente o aspecto espiritual da maldição, só que não tem como dissociar esta “maldição da lei” daquela prevista em Deuteronômio 28, que afetava em grande parte as finanças e a saúde.
Se o pecado afetou as nossas finanças, é de se supor que a nossa redenção também a alcance. Se a maldição da Lei nos trouxe o fracasso, é de se esperar que a benção de Abraão nos traga o sucesso.
É óbvio que ainda não recebemos a redenção dos nossos corpos, e que existe toda uma teologia do agora e ainda não, mas é fato, também, que Abraão enriqueceu, e enriqueceu por causa da benção da justificação. Pelo menos para ele foi “agora”, e não “ainda não”.
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