“E quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no, para que também o Pai celestial lhes perdoe os seus pecados. Mas se vocês não perdoarem, também o seu Pai que está nos céus não perdoará os seus pecados.”
Preliminarmente, gostaria de dizer que este ensino de Jesus sobre o perdão é particularmente importante para estabelecer os destinatários do ensino anterior sobre a fé em Deus.
Ou seja, este texto responde à pergunta sobre quem são as pessoas de fé que podem mover os montes com uma palavra, ou receber o que pedem em oração.
[Na verdade, este ensino sobre o perdão não se trata de um tema novo, mas da continuação do anterior. Jesus conecta ambos os ensinos ao dizer: “e quando estiverem orando”.]
Este ensino sobre o perdão estabelece os destinatários do ensino anterior sobre a fé no momento em que Jesus utiliza a expressão “seu Pai que está nos céus”. Ao fazê-lo, Jesus deixa claro que o seu ensino é para os filhos de Deus.
Estas são, portanto, as pessoas que podem falar com o monte ou receber o que pediram em oração. E quem são estes filhos de Deus?Segundo a bíblia, “filhos de Deus” são as pessoas que creram e confessaram a Cristo:
“os quais não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus.”
Feitas estas considerações preliminares, passemos, agora, ao ensino sobre o perdão, que é o tema deste sermão.
Partimos de um ensino poderoso sobre a oração de fé, de uma promessa maravilhosa de alcançarmos tudo o que pedirmos em oração e chegamos, por fim, a este ensino sobre o perdão.
Existem duas boas razões para Jesus abordar a questão do perdão junto com o tema da oração:
a) Primeiro, porque a oração é o momento oportuno para você pedir perdão por seus pecados e para absolver as pessoas que te ofenderam;
b) e, segundo, porque precisamos ser perdoados por Deus para termos nossas orações atendidas.
A questão é simples: você precisa perdoar todas as pessoas contra quem você tem algo, porque, se você não as perdoar, “também o seu Pai que está nos céus não perdoará os seus pecados”.
Por melhor que sejamos, somos ouvidos por Deus na condição de pecadores perdoados [justificados em Cristo] e não com base nos nossos méritos. Sem o perdão de Deus, não somos ouvidos.
“Se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no”, disse Jesus. É uma ordenança muito difícil de cumprir, porque quem é que não tem algo contra alguém? Somos prejudicados, ofendidos, roubados, defraudados e agredidos o tempo todo, inclusive pelos nossos irmãos da casa de Deus.
No entanto, a pessoa que deseja ter a sua oração respondida não pode ter nada contra ninguém, porque se tiver algo contra alguém, Deus também terá algo contra ele. Quem quiser ser absolvido por Deus deve necessariamente absolver todos contra quem tem alguma coisa.
Notem que Jesus diz para perdoarmos “quando estivermos orando”, de onde deduzimos que o momento da oração é o momento adequado para você absolver os seus ofensores diante de Deus, para você abandonar toda mágoa e toda revolta contra as outras pessoas.
Livre-se de todo sentimento de retaliação e de vingança, se quiser receber de Deus o que você precisa. Será que o perdão de Deus não é mais importante do que o que os outros fizeram para você? Será que o preço a pagar pela mágoa vale realmente a pena?
Quando você perdoa alguém, isso tem mais a ver com você, do que com a pessoa que você perdoou. É o seu próprio perdão que está em jogo, não o perdão da pessoa que te ofendeu, porque o fato de você perdoá-la não significa que Deus irá absolvê-la, e vice-versa.
O perdão de Deus para ela não depende de você perdoá-la ou não, ou você acha que a absolvição dela por Deus depende de você também absolvê-la? Não, amigo, Deus a absolverá desde que ela se arrependa.
[Arrepender-se, neste caso, significa ela reparar o dano que te causou, tanto quanto for possível. No entanto, se a pessoa arrependida não puder reparar o dano, Deus a perdoará da mesma forma. Qualquer punição que ela mereça, Jesus já pagou por ela na cruz do calvário.]
A verdade é uma só: se a pessoa que te ofendeu se arrepender, Deus a perdoará, mesmo que você se negue a fazê-lo. [Perceba como, neste caso, você estaria sendo mais rigoroso do que o próprio Deus, porque estaria se negando a perdoar alguém que Deus já perdoou.]
Portanto, o seu perdão não absolve a pessoa que te ofendeu, o seu perdão absolve você dos seus próprios pecados, porque a condição para o perdão de Deus é que você perdoe os outros.
Por maior que seja a dívida que a outra pessoa tenha para conosco, certamente é menor do que a nossa dívida com Deus; e se queremos ser perdoados, devemos também perdoar.
“Eu tenho direito de exigir justiça”, alguém pode dizer. De fato, você tem todo o direito. Você pode levar ao tribunal cada uma das pessoas que te devem, pode cobrar delas até o último centavo, pode colocá-las na cadeia pelo seu prejuízo, pode receber uma polpuda indenização, só não pode esperar ser perdoado por Deus.
Porque do mesmo jeito que você tem o direito de exigir os seus direitos, Deus também tem o direito de exigir os direitos dele; e não pense você que ele abrirá mão dos direitos dele, se você não abrir mão dos seus direitos.
“Mas eu sou a vítima aqui”, alguém poderia dizer. A vitimização não combina com um cristão. Se você é tão inocente como diz, então a graça não é o seu caminho. A graça é o caminho dos pecadores que sabem que são culpados, e que se arrependem.
“Tudo bem, eu vou perdoá-lo quando ele vier até mim, dizer que está arrependido e me pedir perdão”, alguém poderia dizer, resignado, tentando agarrar-se ao último fiapo de argumento que lhe resta. Não, amigo, o arrependimento dela não tem nada a ver com o seu perdão, tem a ver com o perdão de Deus.
No que diz respeito a nós, a ordem é clara: “quando estiverem orando, se tiverem alguma coisa contra alguém, perdoem-no”.
Isto não significa que, se a pessoa que pecou contra nós for o nosso irmão, nós não devamos ir até ele para repreendê-lo e mostrar-lhe o erro, como Jesus nos ensina em outra passagem.
No entanto, o objetivo de fazermos isto não é a nossa reparação, mas ganharmos o nosso irmão, como disse Jesus.
O maior ato de amor da nossa parte não é perdoá-lo, porque o nosso perdão não o absolve, mas confrontá-lo e trazê-lo ao arrependimento, para que ele seja perdoado por Deus.
Pelas mesmas razões, se ele não se arrepender, devemos levar o caso à igreja e, se ele ainda assim não se arrepender, devemos tratá-lo como publicano ou pecador.
Não se trata de lutarmos pelos nossos direitos, mas de buscarmos o bem da outra pessoa. O nosso alvo, o alvo da igreja, o alvo da disciplina é levar alguém ao arrependimento e mantê-lo nessa condição.
As penas e castigos que um cristão impõe ou busca só podem ser para disciplinar, moldar o caráter ou trazer ao arrependimento, nunca para punir ou exigir direitos. Quem ama, disciplina. Quem ama, confronta.
E você? Como você tem agido?
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.