Neste sermão vou falar um pouco sobre os pastores, a luz da bíblia. A pergunta que procurarei responder é a seguinte: precisamos de pastores? Este é um tema relevante, considerando o grande número de pessoas cristãs que acham que não precisam deles.
Existem dois fenômenos acontecendo na igreja contemporânea: 1) pessoas que se dizem “cristãs” e não congregam; e 2) pessoas cristãs que congregam, mas que não estão sujeitas a nenhum pastor.
É obvio que a explicação para este fenômeno passa pela proliferação de “pastores” da pior qualidade, que exploram a boa fé das pessoas (muitas foram feridas por um pastor, ou tiveram uma má experiência e romperam com o pastoreio), mas também devemos levar em conta as características desta nossa geração, aversa à qualquer tipo de submissão, autoridade e compromisso. É tanto um problema de qualidade dos pastores, como é também um problema neo-cultural.
Seja como for, as pessoas que não estão sujeitas a um pastor em geral possuem argumentos bíblicos para justificar seu comportamento, muito embora sejam argumentos rasos na maioria das vezes, o que revela o papel secundário do argumento na decisão da pessoa. Primeiro ela faz o que quer fazer (romper com o pastoreio, por exemplo), depois busca um argumento qualquer para justificar sua escolha [e geralmente é um argumento de terceiros, como por exemplo um vídeo no youtube].
É fácil descobrir se o comportamento da pessoa é fruto de um desejo sincero por conhecer a palavra de Deus, ou se o que ela busca é um pretexto para suas próprias escolhas. Basta ver como a pessoa reage quando o seu argumento é refutado. Se ela persistir no comportamento, o texto bíblico era apenas um pretexto.
Então porque argumentar com esse tipo de gente, se é provável que ela vai continuar fazendo o mesmo? Primeiro, porque a refutação expõe o que há no coração das pessoas; e, segundo, porque existem pessoas sinceras, querendo realmente saber qual é a vontade de Deus sobre o assunto.
Um dos argumentos mais comuns das pessoas que deixam de sujeitar-se a um pastor é o de que Jesus é o pastor delas. Este argumento tem por base as palavras do próprio Jesus, quando diz “Eu sou o bom pastor”. Jesus também disse, nesta mesma passagem, que haveria “um só rebanho e um só pastor”. As pessoas pegam um texto como este e fazem todo tipo de ilações: “Jesus é o único pastor, logo não pode haver outros pastores”. “Jesus é o meu pastor, logo não precisamos de pastores”.
Tendo encontrado um argumento ao qual agarrar-se, estas pessoas ignoram todo o restante das escrituras. Ignoram, por exemplo, que, depois de ressuscitar e antes de subir aos céus, Jesus delegou o pastoreio do seu rebanho a Pedro. “Simão, filho de João, você me ama?”, disse-lhe Jesus. Ele respondeu: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus: “Pastoreie as minhas ovelhas”. Se Jesus é o único pastor, por que então ele incumbiu Pedro do pastoreio de suas ovelhas?
Mas a questão não para por ai. A medida que o rebanho aumentou, o Espírito Santo comissionou outros pastores, os quais receberam o nome de presbíteros e bispos. O próprio Pedro, a quem Jesus havia atribuído o pastoreio do seu rebanho, reconheceu com toda humildade que Jesus não comissionara apenas a ele. Na verdade, ele se coloca como um entre muitos que o Senhor chamou, quando escreveu: “Portanto, apelo para os presbíteros que há entre vocês, e o faço na qualidade de presbítero como eles […]: pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados.”
No livro de Atos vemos Paulo e Barnabé constituindo presbíteros nas cidades onde passavam, os quais ficavam encarregados da obra de Deus. Entre as suas funções pastorais estavam a pregação, o ensino e a liderança da igreja. Perto do fim do seu ministério, o apóstolo Paulo mandou chamar os presbíteros de Éfeso e lhes disse: “Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os colocou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue.”
Todas estas passagens mostram que, embora Jesus seja o nosso pastor, antes de subir aos céus, ele deixou o seu rebanho sob o cuidado de pastores. E ele fez isto apesar de todas as experiências negativas do passado [porque pastores que exploram ovelhas não são um fenômeno novo; eles já existiam desde o período do Antigo Testamento]. Jesus poderia ter abolido a função pastoral, mas não o fez. Isto mostra o seguinte: pastores ainda são necessários.
Se o Senhor delegou o pastoreio do seu rebanho a pastores vocacionados, é provável que isto inclua a sua vida, desde que, é claro, você faça parte do rebanho dele. Muitas pessoas agem como se fossem algum tipo de super-ovelha, independente e madura, que não precisa de pastoreio, mas esse tipo de ovelha não existe. Se você não está sujeito à um pastor, você é uma ovelha rebelde [ou um bode].
A função pastoral envolve o cuidado de pessoas e, quando pensamos em cuidado, logo vem à nossa cabeça a imagem do pastor curando a ovelha ferida, mas o cuidado pastoral vai muito além disso. Fazem parte do serviço pastoral, também, a boa alimentação das ovelhas, o convívio pacífico no curral, a multiplicação do rebanho e a disciplina das rebeldes.
As pessoas tem um falso conceito de cuidado. Cuidar não é agradar, não é passar a mão na cabeça. Pelo contrário, na maioria das vezes o cuidado pode ser bem doloroso, razão pela qual, muitas vezes, a pessoa foge. Prefere a dor da ferida, à dor do tratamento. Você já deve ter visto isto acontecer: pessoas que saem ou trocam de igreja porque o pastor foi duro com elas.
Como ser pastor e cuidar deste tipo de ovelha? É impossível cuidar de alguém que não se sujeita ao cuidado do pastor. Neste caso, o problema não é mais do pastor, é da ovelha. Estas pessoas precisam saber que, quando o Senhor delega o pastoreio, delega não apenas o cuidado, mas o cajado também; ou seja, delega a autoridade.
O autor de Hebreus diz o seguinte:
Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas.
Quem são os líderes a quem devemos nos sujeitar e obedecer? Segundo o texto, são aqueles que cuidam de nós e que haverão de prestar contas [sobre como cuidaram de nós]. São líderes que receberam a obrigação de cuidar de nós, do contrário não teriam que prestar contas. E quem são estes líderes senão os presbíteros a quem o Senhor delegou o cuidado do seu rebanho [Palavras de Pedro: “Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados”]?
Quando o argumento bíblico falha, as pessoas apelam para argumentos baseados na experiência. Gostam de citar casos de pessoas que se sujeitaram às ordens mais absurdas dadas por “pastores” (como, por exemplo, um pastor que convenceu uma moça a praticar sexo com ele). As pessoas usam estes fatos como argumento contra a autoridade pastoral, quando trata-se muito mais de um argumento contra a obediência cega aos pastores.
O que nós precisamos não é romper com o pastoreio, mas sim sermos inteligentes em nossa submissão. Temos a tendência de associarmos submissão com ignorância, quando, na verdade, submissão com ignorância são a receita para a bomba atômica.
O abuso da autoridade pastoral só pode ser cometido contra pessoas ignorantes, que não sabem que um abuso está sendo cometido. Uma pessoa inteligente e esclarecida, diante do abuso, simplesmente não obedeceria (e até chamaria a polícia em alguns casos), porque saberia que o pastor está indo além da autoridade que lhe foi delegada.
Uma pessoa esclarecida sabe que a autoridade que o Senhor delegou aos pastores não é irrestrita e nós devemos nos sujeitar a eles — e de boa vontade — apenas naquilo em que eles tem autoridade sobre nós. A esfera de de atuação de um pastor é essencialmente eclesiástica e moral. Por eclesiástica deve ser entendida a administração da igreja, sua organização e missão e, por moral, a aplicação dos princípios bíblicos à nossa vida.
Por exemplo, o pastor não pode escolher com quem você deve se casar, mas pode exortar você sobre jugo desigual ou sobre imoralidade sexual. Ele não pode escolher o serviço que você deve ter, mas pode te exortar quanto à pratica de suborno e outros atos ilícitos. Ele não pode escolher a roupa que você vai vestir, mas pode te exortar quanto à decência e modéstia de suas roupas.
Diante dessas exortações, o nosso comportamento deve ser de submissão e obediência, não de insubordinação, porque o pastoreio é isso. Como diz o autor de Hebreus: “Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês.”
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.