“Eu lhes asseguro que se alguém disser a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e não duvidar em seu coração, mas crer que acontecerá o que diz, assim lhe será feito.”
Quando Jesus disse estas palavras, ele estava nas cercanias do templo de Jerusalém com seus discípulos, provavelmente sobre o Monte das Oliveiras. Notem que, nesta passagem, Jesus diz “este monte”, o que sugere que ele estava se referindo a um monte específico: o Monte das Oliveiras.
De cima do Monte das Oliveiras é possível ver o mar morto há uma distância de 1.300 metros. Portanto, é provável que o mar a que Jesus se refere seja o mar morto.
Estando este entendimento correto [com o qual concordam a maioria dos comentaristas bíblicos], o sentido do texto seria mais ou menos o seguinte:
“Se alguém disser a este Monte das Oliveiras: ‘Levante-se e atire-se no Mar Morto’, e não duvidar em seu coração, mas crer que acontecerá o que diz, assim lhe será feito.”
Seria, de fato, uma grande façanha.
Coisas maiores
No entanto, o fato de Jesus ter escolhido aquele monte em especial não tem nenhum sentido especial. É o que Jesus tinha a mão, para ilustrar as coisas incríveis que a fé em Deus pode fazer.
Estivessem em outro lugar, teria escolhido outro monte, ou outro objeto qualquer. Não sei se você lembra, mas, em outra passagem, Jesus ministrou o mesmo ensino usando uma amoreira como exemplo:
“Se vocês tiverem fé do tamanho de uma semente de mostarda, poderão dizer a esta amoreira: ‘Arranque-se e plante-se no mar’, e ela lhes obedecerá.”
Por que Jesus não usou novamente o exemplo da amoreira? Por duas razões: primeiro porque provavelmente não havia nenhuma amoreira por perto; e, segundo, porque ele havia recém secado a figueira e o seu objetivo agora era apontar um milagre maior.
Isto fica ainda mais claro no evangelho de Mateus, quando diz:
“poderão fazer não somente o que foi feito à figueira, mas também dizer a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’ e assim será feito.”
Portanto, o sentido do ensino de Jesus sobre transpor montes é claro: Não existe limites, para o que a fé em Deus pode fazer. Mais do que secar figueiras, pode mover montes… e pode ainda mais.
Momento de orar e momento de agir
Jesus nos ensina aqui a falar com o monte e, na sequência do seu ensino, ensinará sobre como obter sucesso na oração, o que nos revela o seguinte: existe momento de orar e existe momento de agir.
Na maioria das vezes, o que define o momento de agir tem a ver com a urgência da situação. Veja por exemplo o caso da nação de Israel, tendo atrás de si o exército egípcio e adiante o Mar Vermelho.
Entenda o seguinte: Se você não leva uma vida de oração, não é na hora “H” que você vai tirar o atraso. Em momentos de urgência, você deve agir, não orar.
Disse então o Senhor a Moisés: “Por que você está clamando a mim? Diga aos israelitas que marchem.”
— Mas Senhor, marchar para onde?
— Em frente.
— Em frente está o mar.
— Pois marche sobre o mar.
Devemos falar com o monte
O que você pensaria se visse alguém falando com uma árvore? [ironia: Eu sei que existem pessoas que falam com plantas, mas isto está longe de ser normal.]
Imagine que você está do lado do seu amigo, diante de um monte e ele diz: “Monte, mova-se daqui para lá.” É provável que você risse.
Jesus falou com uma árvore — um objeto inanimado — como se ela pudesse ouvir, e, em seu ensino, ele nos instrui a falar com o monte. Ele também repreendia os ventos, e — pasmem — os ventos obedeciam, como se pudessem ouvi-lo.
Falar com uma árvore, com um monte ou com qualquer outro objeto inanimado envolve um boa dose de coragem e fé, especialmente se você não estiver sozinho. E não adianta querer sussurrar com o monte [para que as pessoas não ouçam], porque isto não é fé; é incredulidade.
Se você quiser andar pela fé, não pode ter medo do ridículo. Prepare-se para ser motivo de chacota, por parte das outras pessoas.
Jesus não era comediante, mas você sabia que ele já fez pessoas rirem em um velório? Ele se aproximou de uma menina morta e disse: “Ela não está morta, mas dorme.”
A fé invariavelmente parece loucura para os de fora. O riso muitas vezes é inevitável.
Imagine os seguintes diálogos:
1.
— Vou até ali alimentar cinco mil pessoas.
— O que você está levando?
— Cinco pães e dois peixes.
2.
— Você terá um filho.
— Mas eu já estou com 100 anos.
— Não importa. Você terá um filho.
Como falar com o monte
Vamos falar um pouco sobre método, ou seja, sobre como falar com monte.
É simples, devemos falar com os montes como Jesus falou com a figueira. Ou seja, não precisamos gritar nem nos ajoelhar ao pé do monte.
As palavras de Jesus foram poucas: “Ninguém coma mais do seu fruto”, disse ele. Não consta que ele tenha gritado, nem que tenha feito uma longa oração.
Como um assembleiano pentecostal falaria com o monte?
Ele diria na base do reteté mais ou menos o seguinte:
— Figueira, eis que eu te digo agora, vai secando agora, vai secando, vai secando, vai secando agora, vai secando agora, em nooommmee de Jesussssss.
Como não é justo zoar apenas com os assembleianos, vejamos como um presbiteriano calvinista cessacionista falaria com a figueira:
— Se você estiver predestinada por Deus a ser seca, você será seca.
Ou ainda:
— Figueira, a sua sorte é que o tempo dos milagres já passou!
E um cristão moderninho?
Ele postaria uma foto da figueira no Facebook e escreveria: “Quem quer que a figueira seque, escreve um amém”.
Um cristão mimimi responderia: “Que horrível, vamos fazer uma corrente pra figueira ficar verdinha, não pra ela secar.”
O ponto é o seguinte: No fim das contas, o que importa é a fé que você tem e não como você fala.
Você deve falar com fé, crendo que o monte realmente irá se mover, e o próprio Deus irá honrar a sua palavra, como honrou a palavra de Josué, quando falou com o sol: “ Sol, detém-te (…) E o sol se deteve”.
O que seria um monte transportar-se para o mar, se na própria narrativa bíblica a terra toda parou de girar, por conta da palavra de um homem como nós?
A fé que move os montes
Se antes Jesus havia dito “tenham fé em Deus”, agora ele é mais específico a respeito da fé a que ele se referia. Trata-se de “não duvidar em seu coração, mas crer que acontecerá o que diz”.
A fé neste caso implica em crer que Deus moverá o monte; ou que Deus revestirá a nossa palavra com a sua própria autoridade (o que podemos deduzir do ensino de Cristo sobre o uso do seu nome); e, em consequência, implica em crer que o monte se moverá.
Outrossim, o ensino condiciona a ação de Deus à nossa fé, se não duvidarmos no coração. A mesma palavra que assegura que o monte se moverá, se tivermos fé, também assegura ao incrédulo: “não pense tal pessoa [a que duvida] que receberá coisa alguma do Senhor.”
Crer que o monte se moverá, sem duvidar no coração, é a condição para que o monte se mova, ou para que Deus mova o monte [tanto faz].
Se os montes não estão se movendo — a luz deste texto — é porque não estamos crendo (simples assim), e não por qualquer outra razão.
Quais são os montes que devemos mover?
Sabemos que o Senhor utilizou o exemplo de mover montes, para mostrar que não existem limites para o que a fé em Deus é capaz de fazer. Sabemos também que o propósito deste ensino não é que saiamos secando árvores ou movendo montes por ai.
O que Jesus tinha em mente aqui? Quais são os montes que devemos mover, afinal? Seria o mover montes um sentido figurado para as dificuldades da vida?
Embora neste episódio o mestre não tenha deixado claro o que são os montes a que ele se refere, esta não era a primeira nem a única vez que ele ensinava sobre mover montes. Mateus coloca este mesmo ensino também no episódio sobre o menino do qual os discípulos não puderam expulsar o demônio:
Os discípulos perguntaram: “Por que não conseguimos expulsá-lo?” Ao que Jesus respondeu: “Porque a fé que vocês têm é pequena. Eu lhes asseguro que se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, poderão dizer a este monte: ‘Vá daqui para lá’, e ele irá.” E acrescenta: “Nada lhes será impossível.”
Neste episódio em particular fica clara a associação entre a fé e o exorcismo. Ou seja, entre a fé e o ministério. Se aqui os montes que eles devem mover são desafios ministeriais, não há motivo para crer diferente no episódio da figueira. Jesus estava preparando os discípulos para o ministério que teriam, e esses seriam os montes que eles enfrentariam.
A fé produz o sobrenatural no ministério, conforme vemos na grande Comissão no evangelho de Marcos:
“Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os doentes, e estes ficarão curados.”
Sem fé o ministério fracassa
Quando Jesus subiu aos céus, ele não deixou uma instituição sólida, cheia de recursos financeiros que pudéssemos empregar. O que ele nos deixou foi poder. E o poder se manifesta pela fé.
O mundo é cheio de perigos, mais ainda para um cristão fazendo a obra do Senhor. Se não bastassem os riscos naturais, temos um adversário que sempre procura nos devorar.
E se você tiver uma multidão para alimentar ou impostos a pagar, mas não tiver dinheiro?
E se uma mulher muito piedosa de sua igreja morrer de forma inesperada?
E se quando você estiver pregando, alguém adormecer, cair da janela e morrer?
E se alguém interpretar mal o seu ensino e decepar a orelha de alguém?
E se houver tempestade no mar?
E se você for picado por uma cobra venenosa, em uma viagem missionária?
É para estas situações que Jesus estava preparando os discípulos. Estes são os montes que eles haveriam de enfrentar.
Todas estas são situações reais que eles enfrentaram, e que conseguiram vencer pela fé. Fé que eles aprenderam com Jesus há muito tempo,
Sobre o Monte das Oliveiras.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.