Tenham fé em Deus

March 29, 2017

Sete considerações sobre o “tenham fé em Deus” dito por Jesus no episódio da figueira seca

1. Não é qualquer tipo de fé

Se eu perguntar se você crê em Deus é provável que a resposta seja afirmativa [a menos que você seja ateu, é claro]. Todos nós cremos em Deus, mas será que isto significa que estamos cumprindo este “Tenham fé em Deus” dito por Jesus no episódio da figueira seca?

Se você considerar o contexto, o tipo de fé que somos chamados a ter aqui não é qualquer tipo de fé [não é a fé para salvação, por exemplo], mas sim a fé que seca a figueira, que move os montes e que recebe o que pediu em oração.

Logo, a pergunta mais adequada aqui não é se você tem ou não fé em Deus, mas sim: você está movendo montes? Está tendo sucesso na oração?

Se as figueiras não estão secando, se os montes não estão se movendo ou se as suas orações não estão sendo atendidas, eu lamento informar, mas você não está cumprindo este “Tenham fé em Deus” dito por Jesus.

2. A fé não tem nenhum valor em si mesma

Ainda bem que, nesta passagem, Jesus disse “tenham fé em Deus” e não apenas “tenham fé”, do contrário seríamos tentados a atribuir algum poder à fé em si mesma.

Não que a fé não tenha valor em si mesma. Existem estudos científicos que comprovam os efeitos benéficos da fé, para o corpo humano. Uma pessoa otimista, por exemplo, tem mais chance de se recuperar de uma doença do que uma pessimista.

Os gurus motivacionais também pregam a fé como método para o sucesso. De fato, ninguém pode negar que os otimistas chegam mais longe do que os pessimistas, mas trata-se mais de uma questão de estatística do que de poder, porque os otimistas tentam mais, logo tem mais chances de êxito.

No entanto, os efeitos benéficos da fé natural param por ai. Nem é o caso de dizer “Está vendo? A bíblia estava certa!”, porque estes efeitos benéficos da fé natural não tem qualquer relação com a fé bíblica. A fé natural pode fazer bem para o corpo, e pode nos fazer chegar mais longe na vida, mas não pode mover um grão de areia do lugar, que dirá um monte inteiro.

No fim das contas, não é a fé que move o monte, é Deus. O sentido mais provável deste “tenham fé em Deus” dito por Jesus é: “Tenham fé que Deus fará essas coisas.” É ele que secará a figueira, é ele que moverá o monte e é ele fará o que pedirmos em oração.

3. Não se trata de apenas crer que Deus faz milagres

Todo cristão que se preza crê que Deus faz milagres, crê que ele é capaz de secar figueiras, de mover montes ou de nos dar o que pedimos em oração, se for a sua vontade.

Nossa dificuldade é crer que ele secará a figueira se nós a amaldiçoarmos; é crer que ele moverá os montes, se nós mandarmos o monte se mover; é crermos que ele fará o que nós pedirmos em oração.

No entanto, é precisamente disto que se trata este “Tenham fé em Deus” dito por Jesus. Não se trata apenas de crer que Deus faz milagres, mas de crer que ele os faz através de nós.

Deus não é um gênio da lâmpada, para sujeitar-se aos nossos caprichos”, dizem os comentaristas bíblicos modernos, para refutar os da teologia da prosperidade. “A nossa fé não coloca Deus contra a parede, não o obriga a fazer o que ele não quer fazer”.

Isto é verdade. No entanto, é verdade também que nesta passagem Jesus não apresenta nenhuma dessas ressalvas, o que mostra uma certa fé em seus discípulos. Fé que eles pediriam de acordo com a vontade de Deus, e não contra ela [graças a regeneração].

4. É um indicativo de que o mesmo poder está à nossa disposição

Quando os discípulos disseram “Mestre! A figueira secou!”, era de se esperar que Jesus dissesse algo do do tipo: “É claro que a figueira secou! Eu sou Deus.” Ou seja, ele poderia ter atribuído o milagre à sua divindade. Em vez disso, sua resposta foi: “Tenham fé em Deus.

O que Jesus quis dizer com este “tenham fé em Deus” é mais ou menos o seguinte: “Tenham em que Deus moverá os montes mediante a palavra de vocês, assim como secou a figueira mediante a minha palavra.

Todo o ensino subsequente de Jesus tem o objetivo de deixar claro que o que ele fez, qualquer um de seus discípulos também poderia fazer. Isto fica claro no texto paralelo em Mateus:

“Eu lhes asseguro que, se vocês tiverem fé e não duvidarem, poderão fazer não somente o que foi feito à figueira, mas também dizer a este monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e assim será feito.”

Era como se Jesus estivesse dizendo: “Não se espantem com a figueira seca! O que eu fiz [secar a figueira] é pequeno perto do que vocês podem fazer [mover os montes]. O mesmo poder está à disposição de vocês!

5. É uma repreensão contra a incredulidade

Este “tenham fé em Deus” dito por Jesus é também uma repreensão pelo espanto dos discípulos ao verem a figueira seca. [O fato de ficarem espantados mostra que não esperavam qualquer resultado da maldição proferida por Jesus.]

Portanto, quando Jesus lhes diz “Tenham fé em Deus”, é como se ele estivesse dizendo: “Parem de duvidar (como estão fazendo) e tenham fé em Deus.

Esta não era a primeira vez que Jesus lhes censurava a falta de fé. Quando os discípulos não conseguiram expulsar o demônio de uma criança, Jesus também lhes censurou a incredulidade: “Ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los?

Como o Senhor os deixaria sozinhos, se eles ainda não tinham fé? Não, o Senhor não poderia ir enquanto eles não fossem libertos dos efeitos nocivos da geração incrédula a que pertenciam. Porque sem fé eles estariam perdidos.

Jesus também lhes censurou a incredulidade quando os discípulos ficaram com medo de morrer, em meio à tempestade: “Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé?”, disse-lhes Jesus. Então Jesus fez o que esperava que os discípulos fizessem: ele repreendeu o mar.

Parem de duvidar, de uma vez por todas, e tenham fé em Deus.

6. Este tenham fé em Deus é uma ordem

Se antes tínhamos muitas razões para crer em Deus, agora temos mais uma: devemos ter fé em Deus, porque Jesus mandou. Como servos de Cristo que somos, deveríamos estar mais preocupados em obedecer ao nosso Senhor nesta questão.

A parte boa é que uma ordem de Jesus é tanto uma ordem como uma promessa, porque ele não nos manda fazer algo que não nos capacita para fazer. Logo, se ele nos manda ter fé em Deus, é porque ele nos capacitará a fazê-lo.

Se ele nos manda fazer algo — ainda que seja andar sobre as águas, ou alimentar uma multidão com um punhado de pão — , não podemos dizer que é impossível. Mesmo que fosse impossível antes da ordem, torna-se possível a partir dela.

Se no período do Antigo Testamento, o mandamento servia para atestar a nossa incapacidade sem Cristo, neste novo tempo da graça, o mandamento serve para mostrar o que podemos fazer em Cristo. Quando cumprimos uma ordem, não o fazemos na nossa força, mas na força do Senhor.

7. É algo que nos cabe fazer

Embora a fé seja um dom de Deus [conforme se pode comprovar em outras passagens das escrituras], este “tenham fé em Deus” dito por Jesus mostra que a fé é também uma iniciativa nossa; está ao alcance da nossa vontade.

Pense comigo: Se a fé como um dom significasse que ela se dá por iniciativa de Deus, porque razão ele nos mandaria ter fé? Por que razão Jesus apelaria para a nossa vontade, como se a fé fosse uma questão de escolha da nossa parte?

É porque, embora ele nos capacite para crer [com o dom], ele não crê por nós, eis porque ele manda: “Tenham fé em Deus.

Nesta questão, concordo com o Dr. Adam Clarke. “Não é dom de Deus a fé? Sim, quanto à graça pela qual é produzida; mas a graça ou poder para crer e o ato de crer são duas coisas diferentes.

Sem a graça ou poder para crer, ninguém jamais creu nem pôde crer; mas com esse poder o ato de fé é do próprio homem. Deus nunca crê em lugar de ninguém; tampouco se arrepende por alguém.

O penitente, mediante o poder desta graça, crê por si mesmo.

Deus fez a parte dele, agora devemos fazer a nossa.


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