Pagando pra ver

March 10, 2017

Se tem uma palavra que não cabe no serviço cristão é “voluntariado”. Não existe serviço voluntário quando se trata de servir ao Reino. Eu já utilizei essa palavra muitas vezes no começo do meu ministério, mas agora não uso mais. Nós somos servos e servos não trabalham se quiserem, eles trabalham por obrigação, tanto que o não fazerem o que lhes foi ordenado os sujeitam a castigo.

Vejamos o caso do profeta Jonas. Diz a bíblia que “a palavra do Senhor veio a Jonas, filho de Amitai, com esta ordem: ‘Vá depressa à grande cidade de Nínive e pregue contra ela, porque a sua maldade subiu até a minha presença’”. Note que o ir a Nínive não se tratava de um serviço voluntário para Jonas, mas de uma ordem. Se para Jonas o ir a Nínive era uma obrigação, para nós o ide de Jesus não é menos mandatório.

Se Jonas tinha a ordem de ir a Nínive, nós temos a ordem de ir às nações e, quando o Senhor nos comissiona para algo, não é o tipo de coisa sobre a qual podemos dizer: “eu vou se eu quero”. Se o Senhor nos manda ir, devemos ir, e se nos manda fazer, devemos fazer. Quanto antes entendermos isto, melhor será para nós. Isto é o que Jonas não entendeu, e as coisas foram muito mal para ele.

Em geral o não fazer o serviço que nos foi ordenado tem a ver com falta de amor pelos outros, e muito amor por nós mesmos. Todo serviço cristão é dirigido ao outro, e nós não temos muito tempo para servir ao outro, porque estamos ocupados demais servindo a nós mesmos.

Para falar a verdade, o outro importa muito pouco para nós, assim como para Jonas importava muito pouco os destinatários da mensagem, pelo contrário, ele se sentia muito confortável com a morte deles.

Diz a bíblia que “Jonas fugiu da presença do Senhor, dirigindo-se para Társis. Desceu à cidade de Jope, onde encontrou um navio que se destinava àquele porto. Depois de pagar a passagem, embarcou para Társis, para fugir do Senhor.

Onde Jonas estava com a cabeça? Será que ele não sabia que era impossível fugir de Deus? Será que, a exemplo do salmista, o profeta não sabia que se ele subisse ao céu lá estaria Deus e que se ele descesse ao abismo também ali estaria o Senhor? Será que ele não sabia que nem a escuridão poderia escondê-lo, porque as trevas não são escuras para Deus e para ele as trevas são luz?

Sim, ele sabia, assim como eu e você sabemos, e mesmo assim estamos fugindo de Deus o tempo todo, como Jonas fugiu, fugindo das nossas responsabilidades, fugindo do nosso chamado, fugindo da nossa missão.

Ora, se Jonas sabia que é impossível fugir de Deus, então porque ele fugiu? O próprio Jonas explica o porquê: “Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes castigar mas depois te arrependes.”

Jonas fugiu porque não queria que Nínive fosse poupada [era uma nação inimiga], e ele sabia que havia grande chance das pessoas se arrependerem e Deus perdoá-los, porque Jonas conhecia a graça de Deus, o que explica, também, porque ele escolheu fugir, mesmo sabendo que era impossível esconder-se de Deus. Ora, Jonas se aventurou nessa missão impossível porque sabia, como ele mesmo diz, que Deus é misericordioso, ele sabia que Deus promete castigar mas depois se arrepende.

O ponto aqui é o seguinte: Se Jonas soubesse que ele seria castigado com a morte, ele certamente não teria fugido de Deus. Ele fugiu porque ele conhecia o Deus a quem ele servia. Ele fugiu porque pensou que Deus, dado o seu imenso amor, não iria até as últimas consequências.

Desde o começo, Jonas sabia que a tempestade era por sua causa. E enquanto todos se desesperavam e oravam aos seus Deus, Jonas dormia profundamente. E porque dormia? Porque sabia que Deus é misericordioso.

Ele pagou para ver até onde Deus estava disposto a ir contra ele, em um claro abuso da misericórdia e da paciência de Deus. E não é sempre por esse motivo que nós também fugimos de Deus? E não é por contarmos com a sua misericórdia, que ignoramos os seus juízos?

Com toda a petulância Jonas disse: “Peguem-me e joguem-me ao mar, e ele se acalmará. Pois eu sei que é por minha causa que esta violenta tempestade caiu sobre vocês”. Os marujos o jogaram ao mar, o mar se acalmou e, então, o Senhor fez com que um grande peixe o engolisse, e ele ficou dentro do peixe três dias e três noites. Isso mesmo, três dias e três noites no ventre de um peixe.

Foi o que Deus precisou para quebrar a dura cerviz de Jonas, para mostrar-lhe que da sua paciência não se abusa. Três dias no ventre do peixe foi o que Jonas precisou para se arrepender. Durante três dias ele esteve com o coração endurecido, esperando que Deus cedesse, mas Deus não cedeu [porque Deus não cede aos nossos caprichos]. Três dias no ventre do peixe foram necessários para ele perceber que a morte era certa, que o juízo estava às portas e que ele havia perdido a queda de braços com Deus.

E nós? Quanto tempo teremos que passar no ventre do peixe, no olho da tempestade ou no calor do deserto, para nos dobrarmos à vontade de Deus? Eis uma lição importante: Deus sempre vence.

Jonas se arrependeu, Deus o perdoou, ele foi vomitado pelo peixe e o Senhor lhe deu mais uma chance. Diz a bíblia que “a palavra do Senhor veio a Jonas pela segunda vez com esta ordem: Vá à grande cidade de Nínive e pregue contra ela a mensagem que eu lhe darei. Jonas obedeceu à palavra do Senhor e foi para Nínive.” De um chamado para o outro, note como tinha mudado o conceito que Jonas tinha sobre Deus.

Desta vez ele não pensou duas vezes, ele obedeceu.


Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.