A bíblia diz que devemos buscar com dedicação os dons espirituais, especialmente o dom de profecia. No entanto, raras vezes ouvi falar de alguém que estivesse buscando por um dom em especial. Existem algumas razões, pelas quais não buscamos, e uma delas é a nossa falta de fé. Não cremos que vamos receber o dom, e muitos teólogos tem contribuído para a nossa incredulidade, propagando a crença de que os dons espirituais estão restritos ao período apostólico. Deste modo, apoiado nesta teologia arquitetada por alguns teólogos cessacionistas, anulamos aquela que deveria ser uma ordenança para nós, ou seja, a busca pelos dons do Espírito.
E se a interpretação dos cessacionistas estiver errada? Seria um erro gravíssimo, com um efeito devastador para a igreja, porque não existe muita diferença entre uma interpretação errada e a mentira. O pai de ambas é o mesmo. Uma tradição como essa é forte o suficiente como para anular a palavra de Deus. Certa ocasião, Jesus disse para os teólogos de sua época que, por causa da tradição deles, eles estavam anulando a palavra de Deus. Eu me pergunto o quanto da palavra de Deus nós também temos anulado com a nossa tradição teológica?
Existe uma relação direta entre a fé e o dom do Espírito. Em outras palavras, crermos que os dons são para hoje é o requisito básico para que os dons se manifestem nos dias atuais. “Se alguém tem falta de sabedoria, peça a Deus e lhe será concedida”, disse o apóstolo Tiago. “Mas peça com fé, sem duvidar”, concluiu ele. Para não pairar dúvidas sobre a importância da fé, o apóstolo Tiago mandou uma mensagem direta e objetiva para todos os que duvidam. “Não pense tal pessoa [a que duvida], que receberá coisa alguma do Senhor”, disse ele.
Ao usar a expressão “coisa alguma”, o apóstolo deixa claro que não está falando mais apenas a respeito da sabedoria, mas de qualquer outra coisa que pedirmos ao Senhor em oração. Vale, também, para os dons. Este é o feito devastador, da interpretação cessacionista: se não cremos que os dons são para hoje, não veremos a manifestação dos dons hoje, mesmo que eles sejam para hoje. Deste modo, para crer em algo como o cessacionismo você precisa ter uma carga de convicção muito forte. Você não pode deixar que alguém chegue a essa conclusão, por você. Estude a bíblia você mesmo.
No entanto, eu não creio realmente que a falta de fé seja o principal motivo para não vermos os dons espirituais nos dias atuais. Em minha opinião, o principal motivo é outro. É o nosso egoismo. O problema com os dons é que eles não são para uso próprio, são para edificação da igreja. Se fossem para uso próprio, não estariam à míngua, creio eu. Seriam tão comuns como o dom de línguas, no seio da igreja pentecostal. E porque é tão comum ver o dom de línguas? É porque “quem fala em língua a si mesmo se edifica”, como disse o apóstolo Paulo. É para o próprio prazer espiritual. O que eu quero dizer é o seguinte: se o dom de cura fosse o dom de curar de si mesmo, todos estariam buscando esse dom, como buscam o falar em línguas.
Seria mais fácil, se fosse assim, mas Deus complicou as coisas. Ele nos deixou a regra de amar ao próximo como a nós mesmos, e condicionou o nosso sucesso como igreja a vivermos dessa forma. Imagine, por um momento, como a igreja seria todos deixássemos o nosso egoísmo de lado, e passássemos a buscar a edificação do nosso irmão. Se buscássemos o bem do nosso próximo, estaríamos deixando de buscar o nosso próprio bem, o que significaria uma perda para nós, mas as outras pessoas estariam buscando o nosso bem, de modo que os ganhos compensariam as perdas.
Pensem em quantos cristãos morrem de doenças, porque não há ninguém com o dom de curar na igreja. “A pessoa poderia ter orado a Deus”, diríamos. No entanto, a maioria dos milagres de cura na bíblia ocorreram a partir de pessoas que tinham o dom espiritual de curar (Elias, Eliseu, Jesus e os apóstolos); não através de orações aos céus. Estas pessoas tinham o dom de curar os outros, mas eram incapazes de curar a si mesmas — Eliseu, por exemplo, curou muitas pessoas, mas acabou morrendo de doença. — , mas nem por isso elas deixaram de sacrificar suas vidas para o bem do próximo.
Em uma igreja ideal, os interesses dos nossos irmãos estariam acima dos nossos interesses. Preocupados com o bem comum, nós buscaríamos com dedicação os melhores dons, para atender os demais, e todos os demais buscariam os melhores dons, para atender a mim. Deste modo, a igreja estaria ricamente provida de dons espirituais, e eu estaria ricamente provido em minhas necessidades. Quando eu precisasse de uma direção de Deus, o Senhor poderia dirigir a palavra a mim por meio de um dos seus profetas. Quando eu ficasse enfermo, eu poderia ser curado por Deus, por meio de um dos seus servos com o dom de curar. Quando eu precisasse de um milagre, lá estaria alguém com o dom de maravilhas para me ajudar. E eu serviria o meu próximo, com o Dom que Deus me deu. Seria perfeito.
Inventamos uma nova forma de ser cristão. Achamos que ter livre acesso a Deus significa que não precisamos mais dos nossos irmãos. Deus não pode usar alguém para falar comigo, porque agora ele pode falar direto comigo. Eu não preciso receber oração para ser curado, porque agora eu posso pedir a cura diretamente a Deus. Se fosse assim, os dons seriam para uso individual, mas não são. São para edificação da igreja. Precisamos chegar num acordo, quanto a isto, com a máxima urgência. Temos que deixar o nosso egoísmo de lado, e começar a buscar os dons que edificam os nossos irmãos, para que os nossos irmãos busquem os dons que edifiquem a nós.
O problema não é que somos egoístas, somos burros também. Se fôssemos apenas egoístas, mas fôssemos inteligentes, saberíamos que o caminho do amor é o melhor para todos. Se o nosso alvo fosse a nossa felicidade pessoal — como de fato tem sido— , e se fôssemos inteligentes o suficiente, saberíamos que seríamos muito mais felizes, se vivêssemos todos desta maneira, porque haveriam curas, milagres e profecias no meio do povo de Deus, e eu seria o principal beneficiado.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.