A fé é uma certeza absoluta, no coração. Ou seja, onde há fé, não há lugar para a dúvida, por menor que seja, ou por mais escondida que esteja. Uma fé pequena não é uma fé que duvida, mas uma fé em coisas pequenas, ou seja, uma fé em coisas fáceis de crer (como a fé de Tomé, que creu porque viu. Só um louco não crê no que vê!).
A fé é mais um sentimento, do que um pensamento; é algo que se sente, não algo que se pensa. Cremos no coração, diz a palavra, não na mente. Quer uma prova? Você conhece algo mais passional, do que a discussão entre um cristão e um ateu. Nestas situações, os nossos argumentos, por melhor que sejam, não tem tanto poder de convencimento quanto gostaríamos.
O problema é que temos mais autonomia sobre nossos pensamentos, do que sobre nossos sentimentos. Eu facilmente posso pensar que posso voar, por exemplo, mas crer que eu sou o super-man é praticamente impossível. Não é algo que esteja ao ao alcance da nossa escolha, porque não temos domínio sobre o coração. Os apaixonados que o digam!
Jesus disse, por exemplo, que se alguém disser ao monte: ‘Levante-se e atire-se no mar’, e não duvidar em seu coração, mas crer que acontecerá o que diz, assim lhe será feito. Para quem conhece as leis da natureza, é impossível crer que o monte irá se mover. Você pode até afirmar mentalmente que crê que ele irá se mover — e normalmente é isto que pensamos ser a fé —, mas isto não significa que você creu no coração.
Eu já fiz o teste de falar com o monte — quem nunca fez, que atire a primeira pedra, ou será que eu sou o único doido que já fez isso?— e posso dizer que por mais que eu diga que acreditei, tenho que confessar que não me causou nenhuma surpresa o monte não ter se movido. O contrário sim teria me causado espanto, ou seja, eu ficaria realmente chocado em ver o monte se deslocando da terra, com toda a sua grandeza, e ir flutuando até despencar no mar.
Em geral dizemos que cremos porque fazemos uma afirmação mental ou verbal a respeito de algo, mas isso não significa que cremos verdadeiramente em nosso coração; e normalmente o nosso comportamento denuncia a nossa incredulidade. No meu caso, embora eu tenha mandado o monte deslocar-se para o mar, a minha incredulidade se comprovou pela minha falta de surpresa. De certa forma, eu não esperava de verdade que ele se movesse.
A maioria conhece a história da igreja que que se encontrou para orar por chuva, e só uma garotinha tinha levado guarda-chuvas. Eles oraram, choveu e eles ficaram espantados porque choveu. Eles não estavam preparados, para a chuva. Eles não levaram guarda-chuvas! São essas pequenas coisas que denunciam a nossa incredulidade. Dizer que nós, cristãos, somos incrédulos soa quase como uma blasfêmia para a maioria, mas é a mais pura verdade; os sinais estão por toda parte.
Nossos sentimentos revelam nossa incredulidade. “Por que vocês estão com tanto medo, homens de pequena fé?”, perguntou Jesus aos discípulos. “Como assim, porque estavam com medo? É porque estavam a um passo de morrem afogados!”, diriam os leigos. “O medo é uma reação biológica natural, diante do perigo”, diriam os especialistas. “É porque vocês são homens de pequena fé”, disse Jesus.
Jesus enfrentaria sérios problemas, se vivesse hoje, com a ditadura do politicamente correto, porque ele não hesitaria em condenar as nossas ansiedades, neuras, depressões e medos. Em nosso tempo, ele não duraria até os trinta e três anos, teria sido crucificado muito antes. Sob a sua cabeça estaria escrito: crucificado por pregar verdades absolutas, em um tempo de meias verdades!
Seguindo em frente, no diagnóstico da nossa incredulidade: Certa vez eu perguntei para um grupo de jovens, o que eles fariam se soubesse que Jesus voltaria hoje. Obtive as mais variadas respostas, desde ligar para um parente até dobrar os joelhos e pedir perdão para Deus. Se eu tivesse perguntado se eles acreditam que Jesus poderia voltar hoje, eles diriam que sim, mas a verdade é que eles não acreditam. O fato de não dobrarem os joelhos e de não ligarem para os parentes os denunciaram.
Jesus disse que os sinais seguiriam os que creem, e nós usamos todo tipo de argumento teológico para explicar porque os milagres não estão nos seguindo, menos o mais óbvio: é porque não cremos. Nós também fizemos da oração um ferramenta mística que ninguém sabe explicar muito bem para que serve, quando na verdade a oração é simples como uma petição de um filho para um pai. A oração é um pedido simples, com uma condição igualmente simples:
“Peça-a, porém, com fé, sem duvidar, pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, levada e agitada pelo vento. Não pense tal homem [o que duvida] que receberá coisa alguma do Senhor.” A bíblia não poderia ser mais clara do que isso, contudo eu sou obrigado a ouvir um energúmeno atribuir a oração sem resposta a algum misterioso desígnio de Deus. Faça-me o favor! Não ofenda minha inteligência.
Os montes não se movem, porque não cremos. Os sinais não acontecem, porque não cremos. Nossas orações não são respondidas, porque não cremos. É simples assim. Estamos condicionados a sempre esperar o natural, nunca o sobrenatural. Fomos escravizados a uma forma natural de pensar, e somos totalmente incapazes de crer verdadeiramente, por nós mesmos.
E não existe uma fórmula mágica, para alcançar a fé. O segredo é levar o guarda-chuva, pode dizer alguém, mas não é. Não é o guarda-chuva que trás a fé, é a fé que trás o guarda-chuva. O segredo também não é falar com o monte, como dizem os da teologia da prosperidade. Você pode passar a vida inteira falando com o monte, que ele não vai se mover. Não é pelo muito falar. A ordem correta é “cri, por isso falei”, e não “falei, por isso cri”.
A verdade é uma só. Esta qualidade de fé não depende de nós! Somos totalmente incapazes de crer, a menos que o nosso Senhor nos liberte. Se somos escravos do pecado, somos também escravos da incredulidade, porque a incredulidade é pecado.
Na cruz do calvário, Cristo nos redimiu também do poder da dúvida. A fé que move os montes não é para todos, é apenas para os redimidos. Não são todos que podem andar sobre as águas, mas Pedro conseguiu. Por que? Porque enquanto uns criam que Jesus era um profeta, outro o Elias, ele cria que Jesus era o Cristo, o filho do Deus vivo.
No entanto, para os redimidos a fé não vem sem luta. Não é o tipo de coisa que possamos dizer: se não depende de mim, vou parar de lutar para crer e esperar Deus colocar fé em meu coração. Ora isto é o mesmo que dizer, vamos parar de lutar contra o pecado, porque a vitória sobre o pecado vem de Deus.
Se devemos lutar contra o pecado, devemos lutar contra a incredulidade, porque a incredulidade é pecado. Quando a bíblia diz que devemos lutar até o sangue, contra o pecado, significa também que devemos lutar até o sangue para crer.
A fé é como um músculo; cresce mediante exercício e atrofia quando não o usamos. A maior parte das adversidades que enfrentamos é uma forma de o Senhor provar a nossa fé; e ele não nos prova porque é sádico, mas para nos exercitar. Jesus permitiu que Pedro andasse sobre as águas, não por uma ostentação inútil de poder, mas para exercitar a fé incipiente que ele tinha.
Quando ele amaldiçoou a figueira por não lhe dar fruto, não foi por capricho — ele já tinha suportado 40 dias sem comer — , foi para ensinar sobre a fé para os seus discípulos. Até mesmo a tempestade que veio sobre eles, enquanto estavam no barco, foi para provar a fé que eles tinham.
Por que Jesus gastava tanto tempo ensinando a fé a eles? É porque eles pertenciam a uma “geração perversa e incrédula” e eram, por isso mesmo, de “homens de pequena fé”, e precisavam ser resgatados dessa condição por Jesus, para poder ser usado por ele.
A incredulidade é cultural. Eles estiveram por tempo demais na escola do mundo, enganando e sendo enganados, e aprendendo a duvidarem de todas as coisas, agora eles estavam na escola de fé de Jesus; e nós também estamos matriculado na mesma escola.
Quando perguntamos o que o Senhor deseja nos ensinar por meio de uma adversidade, a resposta mais provável é que ele deseja nos ensinar a agir com fé diante daquela situação. Quando veio a tempestade, os discípulos se desesperaram e foram despertar Jesus do seu merecido descanso.
Ou seja, o primeiro recurso deles foi uma oração desesperada — qualquer semelhança conosco, não é mera coincidência. — No entanto, Jesus não ficou nada feliz por ser importunado. Ele não disse assim: “muito bem, meus filhos! vocês fizeram bem em orar a mim.” Não, Jesus ficou indignado com a oração deles.
Eu creio que Jesus esperava que eles agissem com fé, para acalmar a tempestade, como ele mesmo fez. Eles próprios deveriam repreender a tempestade. Josué mandou o sol parar, oras! Quer mais ousadia do que isso?
E Moisés? O que o Senhor respondeu para ele, quando todo povo estava desesperado diante do mar vermelho, e ele fez sua oração? Foi para orarem e jejuarem? Não, a ordem foi clara: “Porque clamas a mim, diga ao povo que marche!” É isso que precisamos entender. As vezes, a própria oração é um ato de incredulidade.
Temos um sério problema: agimos, quando deveríamos orar, e oramos quando deveríamos agir. Nessas horas, Deus deve ficar louco com a gente, com o perdão da palavra!
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.