Em Isaías 53 vemos que Jesus recebeu o nosso castigo; a penalidade pela nossa transgressão. Este castigo é, também, chamado de maldição, pelo apóstolo Paulo, em sua carta aos gálatas. Maldição é o resultado do mal dito por Deus, como penalidade pela pecado. Existem maldições individuais, e maldições coletivas. O que nos interessa, neste sermão, é a maldição que alcança a todos os pecadores. Encontramos esta maldição pelo pecado em duas partes nas escrituras, a primeira no relato na queda, e a segunda por ocasião da apresentação da Lei.
O mal proferido por Deus no relato da queda, é, em síntese, o sofrimento e a morte. O sofrimento, aqui, é representado pelas dores de parto, por parte da mulher, e na dificuldade para obter alimento, por parte do homem. Esta maldição não era apenas para Adão, e para sua mulher, era para todos nós, porque Adão era nosso representante. O apóstolo Paulo deixa isto claro, em sua carta aos Romanos, quando diz que “uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens” (5.18). E, como consequência, “muitos morreram por causa da transgressão de um só” (5.25).
Quando Moisés apresentou a Lei de Deus, para o povo de Israel, a maldição também esteve presente, especialmente no capítulo 28 do livro de Deuteronômios. O que vemos ali não são penalidades específicas, por tipo de pecado, mas uma maldição genérica para o transgressor. A penalidade é a mesma, quer a pessoa tenha quebrado toda a Lei, quer tenha tropeçado em apenas um ponto. “Pois”, Como escreveu o apóstolo Tiago, “quem obedece a toda a Lei, mas tropeça em apenas um ponto, torna-se culpado de quebrá-la inteiramente”. “É evidente que diante de Deus ninguém é justificado pela Lei”, “porque todos pecaram”. Deste modo, “os que se apoiam na prática da Lei estão debaixo de maldição”.
O problema é que muito de nós ainda estão tentando alcançar a salvação por meio dos méritos próprios. Veja o que Jonh Stott escreveu:
“Esta tem sido a religião do povo comum, antes e depois deles [os judeus judaizantes]. É a religião que se encontra nas ruas, hoje. De fato, é o princípio fundamental de cada sistema religioso e moral no mundo, exceto o Cristianismo do Novo Testamento. É um princípio popular porque é lisonjeiro. Ele diz ao homem que, se ele tão somente conseguir melhorar um pouco o seu comportamento e se ele se esforçar um pouquinho mais, conseguirá obter a sua própria salvação. Mas isso tudo é uma ilusão terrível. É a maior mentira do maior mentiroso do mundo, o diabo...” John Stott
E qual é a maldição da Lei? É o sofrimento em suas mais variadas formas, até a nossa completa e repentina destruição. Onde quer que haja doenças, opressão, violência, roubo, calamidades, pragas, guerras, ferrugem, mofo, ali a maldição está presente. A maldição também está por trás dos três fatores a seguir: 1) semear muito, para colher pouco; 2) colher para outros comerem; e 3) e comer e não se satisfazer. “Todas essas maldições cairão sobre vocês”, diz a palavra, e realmente Deus tem cumprido a sua promessa, porque o mundo está mergulhado no caos.
A boa notícia é que “Cristo nos redimiu da maldição da Lei quando se tornou maldição em nosso lugar, pois está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado num madeiro”. No livro de Deuteronômios está escrito que o madeiro está destinado aos homens culpados de crime que mereçam a morte, o que significa que o madeira era nosso, era o castigo que nós merecíamos. Jesus morreu em nosso lugar; e levou sobre si a maldição da lei. “Isso para que em Cristo Jesus a bênção de Abraão chegasse também aos gentios [ou seja, a nós], para que recebêssemos a promessa do Espírito mediante a fé.”
Segundo o apóstolo Paulo, Cristo nos resgatou da maldição da lei, para nos dar — ,não a bênção da lei, mas — a bênção de Abraão. Existem duas razões pelas quais o apóstolo diz que recebemos a bênção de Abraão e não a bênção da lei. A primeira é porque a benção de Abraão veio primeiro, e a segunda é porque a bênção de Abraão era gratuita, ao contrário da bênção da Lei, condicionada à obediência total. Fora a forma como é obtida, não existe diferença entre a bênção de Abraão e a bênção da Lei, do mesmo modo que não existe diferença entre a maldição da queda e a maldição da Lei. Bênção é benção, e maldição é maldição.
Se maldição é o mal dito, bênção é o bem dito. Em espanhol, por exemplo, benção se diz bendición (bendição), ou seja, dizer o bem. É importante que tenhamos visto, anteriormente, o que é maldição, porque a bênção é exatamente o oposto. Se a doença é maldição, a saúde é bênção. Se o fracasso é maldição, o sucesso é bênção. Se a morte é maldição, a vida é bênção. A benção e a maldição não podem ocupar o mesmo espaço. Para uma entrar a outra tem que sair, e para uma sair a outra tem que entrar. Há um provérbio que diz que a bênção do Senhor é completa, e não inclui dor alguma. Em síntese, podemos dizer que a bênção é uma condição de vida em que Deus nos é favorável; é o seu favor sobre nós.
O Senhor não pode nos abençoar, sem antes nos justificar, porque a bênção é a coroa do justo. Veja o caso de Abraão: O Senhor prometeu abençoá-lo, ele creu em Deus e a sua fé lhe foi creditado como justiça. Ele era um pecador, mas foi justificado; foi considerado justo diante de Deus, por meio da fé. A dívida de Abraão, a exemplo da nossa, foi colocada na conta de Cristo. No nosso caso, a dívida já está paga; no caso de Abraão, era para pagamento futuro. Os benefícios da cruz não valem apenas para o futuro; eles alcançaram também os homens do passado. A grande verdade é que, qualquer benção, em qualquer parte das escrituras, jamais foi alcançada por méritos próprios, mas unicamente pela graça de Deus e pelo sacrifício de Jesus.
A conclusão, de tudo o que foi dito, é que não temos mais que viver debaixo da maldição do pecado. Jesus veio para nos libertar não apenas da morte, — que é o último inimigo a ser destruído — mas também dos sofrimentos desta vida. Se ele viesse apenas para nos livrar da morte, ele teria apenas morrido; mas ele não apenas morreu, ele também sofreu. Veja o que diz o evangelho: “Jesus começou a explicar aos seus discípulos que era necessário que ele fosse para Jerusalém e sofresse muitas coisas”. Ele precisava sofrer, porque o sofrimento faz parte da nossa maldição.
Ele levou sobre si a maldição do nosso sofrimento, para que fôssemos alcançados pela bênção da alegria. Esta alegria é plena quando recebemos, dos céus, o Espírito Santo de Deus e passamos a viver em novidade de vida. Deus em nós é a maior bênção que podemos receber; é a verdadeira bênção de Abraão. O apóstolo Pedro descreve esta nova vida como: um tempo de refrigério da parte do Senhor.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.