Em Isaías 53 vemos que Jesus foi castigado pelo nosso pecado. Ele recebeu sobre si o castigo que a lei prescrevia para a nossa transgressão. O fato de já não sermos devedores, perante a justiça de Deus, não nos coloca na imediata fruição das bençãos, para as gozar ao nosso bel prazer, como apregoa a teologia da prosperidade.
Pelo contrário, ainda enfrentaremos dificuldades na vida, e ainda seremos castigados por Deus, por mais contraditório que possa parecer. O autor do livro de Hebreus escreveu que devemos suportar as dificuldades da vida, recebendo-as como disciplina, pois Deus nos trata como filhos. E qual o o filho que não é disciplinado por seu pai? (v. Hb 12.7)
Então, qual a diferença entre o castigo que Jesus suportou, em nosso lugar, e o castigo que nós suportamos? A diferença é que o castigo que Jesus suportou era legal, era o que a lei exigia de nós, enquanto que o castigo que nós recebemos da parte de Deus é um castigo paternal, para nos corrigir e disciplinar.
Para entender melhor, imagine que um jovem tenha sido detido por ter cometido uma transgressão leve, cuja pena possa ser convertida em doações de cestas básicas, mas ele não tem como pagá-las. O pai do rapaz fica indignado, com o desvio de conduta do filho, mas, porque o ama, paga o preço da sua liberdade.
Os problemas do rapaz com a justiça estão sanados, mas isso não significa que ele esteja livre de castigo. Ele se livrou das garras da justiça, mas caiu nas mãos do seu pai, que o ama e, por isso mesmo, não pode deixar de corrigi-lo. Que tipo de pai ele seria se dissesse para o filho: “veja, eu te libertei. Agora você está livre para fazer o que quiser”?
Quem se nega a castigar seu filho não o ama; quem o ama não hesita em discipliná-lo. Pv 13.24
Se o pai de fato amar o filho, fará o necessário para corrigir o seu desvio de caráter e fazer dele uma pessoa melhor, mesmo que isso implique em castigá-lo e privá-lo de certas coisas. Este novo castigo nada tem a ver com dívida, mas com disciplina e aprendizado. Não tem a ver com justiça, mas com amor, pois como está escrito: “o Senhor disciplina a quem ama” (Pv 3.12).
“Se vocês não são disciplinados, e a disciplina é para todos os filhos, então vocês não são filhos legítimos, mas sim ilegítimos. Além disso, tínhamos pais humanos que nos disciplinavam, e nós os respeitávamos. Quanto mais devemos submeter-nos ao Pai dos espíritos, para assim vivermos! Nossos pais nos disciplinavam por curto período, segundo lhes parecia melhor; mas Deus nos disciplina para o nosso bem, para que participemos da sua santidade. Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz para aqueles que por ela foram exercitados.” Hebreus 12:8–11
As pessoas que pleiteiam seus direitos, diante de Deus, para usufrui-los a seu bel prazer, são como o filho pródigo, que querem romper os laços com o pai, para viver uma vida dissoluta. Por outro lado, os que negam que temos direitos adquiridos na cruz, são como o filho mais velho, que sempre esteve na casa do pai, mas nunca desfrutou dos benefícios da graça.
Quando o filho mais velho reclamou com o pai, por nunca ter recebido um cabrito para festejar com os amigos, apesar de tê-lo servido obedientemente a vida inteira, o pai respondeu o seguinte: Você não é meu empregado, você é meu filho, e tudo o que tenho é seu. “Tudo o que tenho é seu” é uma afirmação tão forte, nesta parábola, que hesitamos em atribui-la a Deus.
O filho mais velho viveu a vida inteira como empregado, por desconhecer a vida que poderia ter tido como filho. Precisou o seu irmão perdido voltar, para ele ter um choque de realidade com o amor do pai. Esta graça também se aplicava a ele — seu pai deixou isso claro — mas ele não aproveitou, por lhe faltar uma certa dose ousadia. Depois de muitos anos desperdiçados, ele percebeu que não recebeu simplesmente porque não pediu.
O Senhor tem prazer em nos abençoar e, o que é melhor, ele pode nos abençoar, porque foi precisamente com este propósito que Cristo morreu. Com a sua morte, ele pagou o preço da graça, porque se, por um lado, a graça significa nos dar o bem que não merecemos (favor imerecido), por outro lado, ela significa deixar de nos dar o mal que merecemos. Recebendo o mal que caberia a nós, ele comprou, para si, o direito de nos abençoar quando quiser e da forma que quiser.
Agora os céus estão abertos. “Peçam e lhes será dado”, disse Jesus. “Pois todo o que pede, recebe.” O inverso também é verdadeiro. Quando não pedimos, não recebemos. “Vocês não tem porque não pedem”, escreveu Tiago. Jesus também disse: “Quem é o pai que se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra. Assim também o nosso pai, que está nos céus, sabe dar boas coisas aos que lhe pedirem.”
Dar coisas boas aos seus filhos nem sempre significam dar o que eles pedem, porque as vezes somos nós que pedimos pedra, achamos que estamos pedindo pão. Como escreveu Salomão, há caminhos que ao homem parecem direitos, mas o seu fim conduz à morte. Ou como escreveu Tiago, muitas vezes pedimos pelos motivos errados, para gastar com nossos prazeres.
Precisamos entender que somos donos de tudo, mas estamos sob a tutela do nosso pai, que fará sempre o que for o melhor para nós, mesmo que isso signifique dizer não para os nossos pedidos. E quando formos desobedientes, ele irá nos castigar, como um pai castiga o seu filho. No entanto, não é o que ele quer, porque nenhum pai gostar de castigar o filho.
O prazer de Deus é nos abençoar.
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.