O livro “A arte da guerra”, de Sun Tzu, é um tratado militar escrito quase quatrocentos anos antes de Cristo. Traz uma série de estratégias e conselhos sobre como obter vitória nas batalhas. Apesar da antiguidade da obra, este é um dos livros mais populares no mundo corporativo, porque os executivos descobriram que as mesmas táticas da guerra se aplicam ao mundo dos negócios. De fato, não existe muita diferença, em termos de estratégia, por exemplo, entre enfrentar um exército e passar em um vestibular.
Qual a diferença entre Davi lutando para vencer o gigante Golias e você lutando para passar em um concurso público? Não muita. Os reinos que aqueles homens conquistaram podem ser diferentes dos reinos que nós desejamos conquistar. As batalhas que aqueles homens enfrentaram podem ser diferentes das batalhas que nós iremos enfrentar. Uma coisa, porém, é certa. Mudam os inimigos, mas não mudam as táticas. Os tempos são outros, mas a estratégia é a mesma.
A exemplo do livro “a arte da guerra”, na Bíblia também existe um tratado militar com regras para vencer uma batalha. Talvez o texto mais importante, sobre como vencer uma batalha, esteja registrado no capítulo 20 do livro de Deuteronômio. Trata-se de uma lei para a guerra, dada pelo próprio Deus. Essa lei deveria ser seguida, rigorosamente, cada vez que o exército de Israel se posicionasse nos vales para a batalha, e contemplasse do outro lado o exército inimigo. Geralmente, o exército inimigo era em número muito maior, suas armas eram melhores e seus guerreiros maiores.
Segundo a lei de Deus, o sacerdote deveria levantar a sua voz e dizer as seguintes palavras: “hoje o Senhor Deus de Israel irá entregar o inimigo em nossas mãos!” Notem a importância destas palavras. Quando o sacerdote dizia que a vitória era certa, não estava motivando o time, como um treinador de futebol. Não se tratava de motivação, mas de uma promessa. O sacerdote não era um guru motivacional, não tinha livros escritos sobre como vencer batalhas, nem dava palestras sobre o assunto. Ele era um emissário, um oráculo de Deus. Em nada aquelas palavras dependiam da sorte ou das circunstâncias para se tornarem real. Elas era absolutamente certas.
O resultado da batalha, a partir de então, não dependia mais do número do exército inimigo, da quantidade de armas ou da altura dos oponentes. Dependia de qual seria a posição daqueles homens diante da palavra de Deus. A única possibilidade de derrota residia em o exército duvidar da palavra de Deus e ficar com medo. Seus verdadeiros inimigos, a partir de então, não eram homens, mas sentimentos. A luta de cada soldado era interna, contra o medo, contra a paralisia e contra o temor. Apenas a fé poderia salvá-los e apenas o medo poderia derrotá-los.
Voltemos ao exército de Israel posicionado para a batalha. Após a promessa de vitória, uma proposta era feita aos soldados. Todos os estivessem com medo poderiam abandonar o front e voltar para as suas casas. Trata-se evidentemente de uma proposta arriscada, que certamente não está presente em nenhum outro tratado sobre guerra (E não pense você que eram poucos os medrosos, que voltavam para suas casas. Por exemplo, quando Gideão mandou embora os medrosos, de um exército de trinta e dois mil homens, sobraram apenas dez mil).
Imagine um personagem fictício, lá no meio. Vamos dar-lhe o nome de José. Ele olha para o outro lado do vale, vê milhares de soldados implacáveis, o sol reluzindo nas armaduras. Eles gritam, brandindo as espadas e lanças, num barulho ensurdecedor.
Ai o sacerdote diz:
— Quem está com medo pode ir embora.
É uma proposta tentadora. José olha para um lado, vê um monte de mãos levantadas. Olha para o outro lado e vê o mesmo. Pensa nos filhos em casa, pensa em sua mulher. “Como será a vida deles, se eu morrer na batalha?”, ele pensa. “Droga, não deveria ter pensado em morte. Não agora.”
Do seu lado, o seu amigo doido, vamos chamá-lo de Miguel, grita com sangue nos olhos:
— A vitória é nossa! A vitória é nossa!
“Eu queria ter a fé dele”, pensa José. “Seria fácil, se eu não tivesse uma mulher e filhos para criar. Não, eu tenho que ser responsável…”
E José levanta a mão, abandona o front e volta para a sua casa, onde a sua mulher e os filhos o recebem com alegria. Ele os abraça sentindo-se bem por estar ao lado deles, sentindo-se uma pessoa responsável por ter escolhido a família em primeiro lugar, por ter escolhido a segurança ao invés de se arriscar no front, como seu amigo Miguel. “Talvez tenha sido a última vez que o vi com vida…”
O fato de José pensar coisas do tipo, e o medo que ele sentiu no front, apesar da promessa de vitória, significam que ele duvidava da promessa de Deus. Neste caso, ele fez bem em voltar para casa, porque o medo é a única arma capaz de nos derrotar. Há pelo menos dois bons motivos para mandar embora o medo (ou os medrosos), em uma situação em que a fé e necessária: Primeiro, para a nossa própria segurança, porque o medo tem um efeito paralisante e impede o agir de Deus em nossas vidas; e segundo, porque a dúvida é contagiosa como um vírus e o medo pode propagar-se como uma epidemia.
É melhor um pequeno destacamento de pessoas cheias de fé, do que um regimento inteiro de incrédulos. Uma pessoa que crê na palavra de Deus, tem mais força do que um mundo inteiro que duvida. O Exército de Gideão abriu mão de milhares de pessoas medrosas, mas os trezentos homens de fé que restaram foram vitoriosos contra um exército de milhares. Caso Gideão preferisse um exército numeroso a abrir mão dos covardes, certamente voltaria do campo de batalha totalmente derrotado e envergonhado.
Com a desistência dos covardes, incrédulos e medrosos, Israel partia em direção ao numeroso exército inimigo apenas com fé na palavra de Deus. Percebam que o exército de Israel não ficava no cume do monte assistindo um exército de anjos descer dos céus e matar o exército inimigo. Não! Eles tinham que empunhar suas armas e partir para a batalha, porque a fé sem obras é morta. Se eles não fossem, a vitória não acontecia. Se eles não lutassem, Deus não agia. A maior prova de fé é partir para a luta.
Imaginem o ruído das armaduras e armas e o número de cavaleiros raivosos e cruéis vindo em direção ao exército de Deus. Imagine-se portando apenas uma espada, e correndo em direção a milhares de soldados inimigos. Qual seria a sua reação? Coração acelerado, joelhos tremendo, lanças brandindo sobre a cabeça, flechas voando por toda parte. Este é o momento da prova da fé.
O segredo da vitória está em descansar em Deus, em meio à batalha, por mais contrário que isto possa parecer no momento. Mas como ter sossego em meio à batalha? Como repousar em meio à tempestade? Jesus conseguiu. Contudo, nós preferimos agir como Israel e fugir do perigo à cavalo, ou como os discípulos e gritar que vamos morrer. A verdade é que toda a bíblia é uma tentativa de implantar a fé em nossos corações.
Imagine aqueles soldados batendo de frente com toda a fúria do exército inimigo. Cada movimento da espada era feito com fé na palavra de Deus, com fé na vitória. No exato momento em que a fé era posta em prática, a palavra de Deus criava vida e fluía pela vida de cada guerreiro que creu. Não eram eles lutando, era o Deus todo-poderoso lutando por meio deles. Cada movimento da espada era um movimento com unção. A vitória acontecia, e eles voltavam para casa, com os despojos da guerra nas mãos.
— Pai! Aquele não é seu amigo Miguel? — diz o menino, apontando para um dos soldados à cavalo, no momento em que o exército entrava na cidade, ao som de buzinas, gritos.
— É ele sim — diz José.
Alguém, no meio da multidão entoava um hino sobre como o Senhor tinha dado vitória ao seu povo, pelas mãos dos seus corajosos servos, apesar da covardia dos covardes. José sentiu-se péssimo, como se a canção fosse para ele, como se todos o recriminassem, inclusive o próprio filho. “Eu sou um covarde”, ele pensou. “É isso que eu sou.”
Ele tentou se esconder no meio da multidão, para Miguel não o visse, mas Miguel o viu e gritou:
— Haverão outras batalhas!
É tudo o que ele queria: uma chance de fazer diferente da próxima vez.
QUESTÕES PARA DEBATE
- Você já encarou algum desafio, que parecia grande demais para você ou em que os outros diziam que você não iria conseguir?
- Você já desistiu de um sonho ou de algum projeto, por causa de medo ou por achar que seria impossível?
- O que o medo faz conosco? Você acha que o medo é um impeditivo para alcançar o sucesso em algum projeto?
- Como você encara o medo? Em quais promessas de Deus você se agarra nesses momentos?
Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.