Tirar forças da fraqueza: um paradoxo

April 10, 2016

Um dos meus filmes favoritos chama-se “A origem”, com o ator Leonardo Dicáprio. Se você não viu, eu recomendo! É um filme sobre sonhos, e também sobre paradoxos. O próprio filme é um paradoxo. Um paradoxo é algo que contraria a lógica, que não tem nexo, que não faz sentido. Um dos elementos utilizados no filme, para ilustrar o que é um paradoxo, é a escada de Penrose, um desenho geométrico de uma escada retangular que parece estar sempre subindo, ou sempre descendo, conforme o ponto de vista.

A bíblia é cheia de paradoxos. Neste sermão, vamos falar sobre um em especial. O paradoxo de tirar forças da fraqueza, como está escrito no capítulo 11 do livro de Hebreus. Qual a lógica deste argumento? Nenhuma, porque, afinal, a fraqueza não é outra coisa senão a ausência de forças, logo, tirar forças da fraqueza seria, mais ou menos, deixe-me ver… como tirar água de um poço vazio. Ou seja, um paradoxo. Do mesmo modo que é paradoxal, também, a seguinte frase do apóstolo Paulo: “Quando estou fraco, é que sou forte.

Quando olhamos para o contexto em que esta frase foi dita, vemos o apóstolo se queixando com Deus por algo que ele chama de “espinho na carne”, um mensageiro de Satanás, enviado para o atormentar. Embora fosse um mensageiro de Satanás, este espinho na carne atendia a um propósito divino, ou melhor, a dois propósitos. O primeiro era para que o apóstolo não se exaltasse, diante da grandeza do que o Senhor estava fazendo por meio dele, e o segundo propósito… bem, o segundo propósito é o tema central desta mensagem.

Minha graça é suficiente para você”, disse Deus. “pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.

O poder de Deus se aperfeiçoa, isto é, torna-se mais perfeito, na nossa fraqueza. Isto mostra que existe uma incompatibilidade entre a nossa força e a força de Deus, como se as duas não pudessem agir de forma complementar. Não que a nossa força se oponha ao poder de Deus deliberadamente; pelo contrário, na maioria das vezes, nós atrapalhamos tentando ajudar. Agimos como se a nossa força pudesse ajudar o Senhor de alguma maneira, como se ele precisasse da nossa ajuda.

Abraão só queria ajudar, quando se deitou com a escrava e teve um filho com ela, como se fosse impossível para Deus lhe dar um filho por meio de Sara. Jacó só queria ajudar quando colocou a serviço do Senhor toda a sua capacidade natural de enganar, obtendo para si, por meios escusos, uma primogenitura que o Senhor prometera lhe dar. Moisés pensou estar a favor de Deus, quando matou um egípcio, às escondidas, para proteger um hebreu, e José também tentou dar uma mãozinha se auto promovendo perante seus irmãos.

Estes homens agiram como se Deus precisasse da nossa ajuda, como se ele precisasse de subterfúgios ou de meios escusos para levar a efeito seus planos, e nós muitas vezes agimos da mesma forma. Precisamos entender que este tipo de “ajuda” age contra o Senhor e não a seus favor. Todos estes bons homens estavam lutando contra Deus, e todos eles, antes de ser em abençoados, tiverem que ser vencidos por Deus, ou seja, tiveram que ter suas forças abatidas.

O próprio Deus lutou a noite inteira com Jacó, até abater a sua força natural, para só depois o abençoar. No final ele saiu mais fraco, porque mancava, mas mais forte, porque era um novo homem. Antes ele era Jacó, o enganador, agora era Israel, o príncipe do Senhor. Abraão precisou envelhecer e perder a capacidade de gerar, para perceber que não seria pela sua força, nem pelo seu “jeitinho”. José precisou ser vendido como escravo, para perceber que a sua vanglória não o faria líder de seus irmãos. Moisés foi levado para o deserto, onde de nada valia a sua capacidade adquirida no Egito.

E foi quando ele pensou não servir pra mais nada, que a sarça começou a arder…

É sempre assim! Deus permite que nossas forças se esgotem, antes de começar a agir. Ele nos permite lutar por nós mesmos, até as nossas forças se acabarem, para só então se manifestar em nossas vidas. A fraqueza nos humilha, nos esvazia, nos amansa… e estas são as características da pessoa que Deus usa. Não teremos valor para o Senhor, enquanto ele não abater o nosso orgulho, acabar com o nosso nariz empinado e com a nossa tendência à autopromoção.

A própria salvação se deu dessa forma. Antes de nos salvar pela graça, o Senhor nos apresentou um caminho pela força, uma salvação por obras, para mostrar para nós mesmos, depois de termos tentado de todas as formas, que a salvação não pode ser alcançada à força. Somente o Senhor a pode conceder, por sua graça. “Não é por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito”, diz o Senhor. “Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie.

Para que ninguém se glorie”, este é o ponto. Quando vencemos algum desafio, por nós mesmos, isto é, pela nossa força, o mérito é nosso e o Senhor não é glorificado. Gideão tinha trinta e dois mil homens, para ir à guerra. “Você tem gente demais”, disse Deus. “A fim de que Israel não se orgulhe contra mim, dizendo que a sua própria força o libertou, mande embora todos os que estiverem com medo”. Vinte e dois mil homens partiram, e ficaram apenas dez mil. Quem conhece a história de Gideão, sabe que no fim restaram apenas trezentos. A nossa força não faz a menor diferença, pois como disse Jônatas, o fiel amigo de Davi:

…nada pode impedir o Senhor de salvar, seja com muitos ou com poucos

Estes homens de Deus creram em Deus e deixaram de crer em si mesmos. Quando já não tinham forças para andar, passaram a andar pela fé e chegaram mais longe do que poderiam imaginar. Tiraram forças da fraqueza, como diz a palavra. O poder de Deus age melhor, quando a nossa capacidade termina. Quando você diz “eu já não sei falar”, “não tenho o mesmo vigor”, ou “não creio que seja capaz”, o Senhor olha para você e diz: “A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”.

Deus não está em busca de talentos. Ele não está em busca dos mais fortes, dos mais inteligentes ou dos mais capacitados. Pelo contrário, ele deliberadamente escolheu os menos capacitados. O apóstolo Paulo escreveu que “Deus escolheu o que para o mundo é loucura para envergonhar os sábios, e escolheu o que para o mundo é fraqueza para envergonhar o que é forte. Ele escolheu o que para o mundo é insignificante, desprezado e o que nada é, para reduzir a nada o que é, a fim de que ninguém se vanglorie diante dele.

O maior talento que um homem pode ter é não atrapalhar. É ser um canal para o agir de Deus. Por isso, pare de tentar ajudar e deixe o Senhor agir. Não se precipite, agindo pelas suas próprias forças. Em vez de tentar se autopromover, “humilhem-se debaixo da poderosa mão de Deus, para que ele os exalte no tempo devido”. “Ofereça o rosto a quem o quer ferir, e engula a desonra. Porque o Senhor não o desprezará para sempre. Embora ele traga tristeza, mostrará compaixão, tão grande é o seu amor infalível.

Tenha fé. Espere no Senhor.

https://youtu.be/pdkOUj91sto

QUESTÕES PARA DEBATE

  1. Já aconteceu alguma coisa na sua vida, onde ficou evidente que ocorreu graças ao poder de Deus e não à sua própria força?
  2. A bíblia diz que o poder de Deus se aperfeiçoa na nossa fraqueza? Em sua opinião, por que isso acontece?
  3. A pressa e a impaciência já te fez querer alcançar as promessas do Senhor, por seus próprios meios, antes do devido tempo?
  4. O que podemos fazer para não atrapalhar a ação do poder de Deus na nossa vida e através de nós?

Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.