Nenhum destino está selado

January 23, 2016

Esta história começa com Gileade, um homem bem-sucedido e respeitado, que entrou para a história por causa de um erro que cometeu, o de ter um filho com uma prostituta, em uma época que os filhos bastardos eram párias; viviam à margem da sociedade.

Gileade assumiu o menino como filho, lhe deu o nome de Jefté e o levou para casa, para ser criado por sua mulher, a mesma que ele traiu e humilhou socialmente ao deitar-se com a prostituta.

Com o tempo, Gileade e sua mulher tiveram filhos legítimos, que cresceram aprendendo a odiar o irmão bastardo. Tanto que, anos mais tarde, quando o velho Gileade morreu, os irmãos de Jefté o expulsaram de casa.

A Lei divina não era muito tolerante, no tocante aos filhos bastardos. Moisés tinha sido claro: “nenhum bastardo poderá entrará na congregação do Senhor; nem os seus filhos entrarão na congregação do Senhor (Dt 23: 2)”. Não parecia muito justo, mas era assim. O filho acabava pagando pelo erro do pai.

Foi nesta ambiente de rejeição que Jefté cresceu, sofrendo mais bulling na infância que um nerd nos anos oitenta, tendo que conviver com olhares de desprezo, piadinhas infames e discriminação social.

Não deve ter sido fácil! Ele era visto pela sociedade como um um proscrito, e talvez ele mesmo se visse assim (porque normalmente tendemos a aceitar os rótulos que nos impõem, especialmente na infância).

Era uma condição de vida terrível, imagine os filhos legítimos se arrumando para irem ao templo, e pense no que se passava pela cabeça do garoto bastardo. Estou certo que, no seu coração, ele tinha o desejo de ir junto.

Quantas vezes ele não deve ter ouvido dizer que Deus não queria saber dele? Provavelmente, Jefté daria tudo para ser um filho legítimo, daria tudo para ser aceito por Deus.

O que eu acho mais curioso, nesta história, é que os filhos legítimos faziam pouco caso dos seus direitos. Tinham acesso à presença do Senhor, mas não compareciam perante ele. Tinham o direito de adorar, mas ficavam calados.

Os direitos que tinham só serviam para se acharem especiais, e para se considerarem superiores aos demais. Estavam enganados.

Em suas mentes legalistas, eles reclamavam para si o título de povo de Deus, de filhos legítimos, no entanto Deus já os tinha rejeitado… e tinha escolhido Jefté, um filho bastardo, um proscrito.

Mas não estava escrito que os bastardos não poderiam comparecer perante o Senhor? Sim, mas não existe ninguém distante demais, perdido demais, abandonado demais ou rejeitado demais, que o Senhor não possa alcançar. Para Deus, nenhuma condição é irreversível, nenhum destino está selado.

Eu aprendi com o tempo que a fé não tem lógica, ela é como uma flor, que brota nos lugares mais improváveis. É por isso que eu admiro a história de Jefté. As pessoas estavam contra ele. A lei de Deus era contra ele. Nunca apareceu um profeta, para dizer o quanto ele era especial. E mesmo assim, ele creu em Deus.

Ele não apenas creu, ele se tornou um herói da fé. Seu nome figura na nobre galeria de heróis da fé, no livro de Hebreus, ao lado de outros gigantes, como Davi, Samuel, Sansão e Gideão. Ele morreu há milhares de anos, mas sua história continua viva.

É a história de um homem rejeitado, que foi escolhido por Deus para libertar as mesmas pessoas que o haviam abandonado. Escolhendo um “excluído” para salvar os “eleitos”, o Senhor os libertou não apenas do inimigo, mas também de si mesmos. Jefté teve que se esvaziar de todo sentimento de retaliação e vingança, para ajudar os seus irmãos, enquanto eles tiveram que engolir o orgulho e a religiosidade.

Existem duas lições importantes, nesta história.

1. A primeira é que ninguém deve se gabar da sua posição em Cristo. Não se orgulhe, mas tema. Pois, se Deus não poupou os filhos naturais, também não poupará a nós, que somos filhos bastardos.

2. A segunda é que nenhum destino está selado. Um bastardo pode se tornar um herói nacional. Uma escrava pode se tornar uma princesa. Uma prostituta pode fazer parte da linhagem de Cristo. Um assassino de cristãos pode se tornar um apóstolo.

E nós? Bem… Que ninguém nos descarte ainda, porque só Deus sabe as coisas incríveis que ele irá fazer por meio de nós.


Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.