A revolta dos membros do corpo

January 19, 2016

Há um apólogo (espécie de alegoria) muito antigo sobre uma revolta dos membros do corpo, contado por certo um cônsul romano por volta do ano 500 AC, e deixada registrada por um filósofo também romano contemporâneo de Cristo, chamado Tito Lívio.

Segundo a história, em uma época em que as partes do corpo tinham vida própria, as diferentes partes se indignaram com o fato de terem de trabalhar para fornece alimento ao estômago, que só tinha o trabalho de desfrutar das iguarias fornecidas. Revoltados, resolveram fazer uma pacto: as mãos não mais levariam alimentos à boca, a boca não receberia os alimentos e os dentes não os triturariam. Dito e feito, a greve foi geral.

O resultado foi que, sem os alimentos, o corpo começou a definhar e caiu em extrema fraqueza, o que afetou todos os membros. Daí compreenderam que a função do estômago também era produtiva e que os alimentos que para lá eram remetidos, eram devolvidos, por meio da corrente sanguínea, para todas as partes do corpo, em forma de força e energia. E assim, a vida de todos os membros era preservada.

É possível que o apóstolo Paulo, como cidadão romano, conhecesse essa história, quando comparou a igreja de Cristo com o corpo humano, uma alegoria brilhante, de onde extraiu lições muito oportunas a respeito da igreja, sobre as quais vamos falar no presente sermão.

1. Segundo o apóstolo, a igreja é o corpo de Cristo. Você já parou para pensar no peso dessas palavras, e na responsabilidade que ela inclui? Como corpo de Cristo, a igreja é — ou deveria ser — a parte de Jesus que o mundo vê, o instrumento por meio do qual ele se manifesta e age no mundo. Ou como diria o apóstolo, “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.

2. Qualquer membro do corpo que não esteja conectado à cabeça, perde a sua função, como as pernas de um paraplégico. “Sem mim, nada podeis fazer”, disse Jesus. (Os mais pessimistas diriam que a igreja contemporânea está mais para um tetraplégico, do que para um paraplégico, tamanha desconexão que existe entre a cabeça e o corpo.)

3. Assim como o corpo humano é uma unidade, embora tenha muitos membros, é assim também com relação a nós. Sermos uma unidade não significa sermos iguais, como muitas pessoas pensam. Significa que estamos unidos, apesar das nossas diferenças, e que as nossas diferenças não são incompatíveis; pelo contrário, são complementares.

4. O corpo não é feito de um só membro, mas de muitos. Ou seja, ninguém pode ser a igreja sozinho. Você não pode abdicar da igreja, ou querer ser um cristão independente, porque você não tem uma função no mundo, você tem uma função no corpo. Você é apenas uma engrenagem, não a máquina toda.

5. Todos os órgãos do corpo humano tem uma função, por mais insignificantes que possa parecer. É o caso do estômago, na ilustração que introduziu este sermão, cuja função foi menosprezada por não ser evidente, e por ocorrer nos bastidores. Por esta razão, o olho não pode dizer à mão: “Não preciso de você!

6. A variedade é fundamental. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria a audição? Se todo o corpo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Cada um deve fazer a função para a qual foi chamado. O ouvido não pode cheirar, o nariz não pode ouvir, os pés não podem falar.

7. Existem partes do corpo que são mais sensíveis do que outras, ou que são mais suscetíveis à ação dos germes ou das intempéries, por isso os tratamos com cuidado especial. Na igreja, os mais fracos devem ser tratados de maneira especial, os que estão feridos devem ser medicados e os que estão mais expostos devem ser protegidos.

8. Em um corpo saudável, quando um membro sofre, todos os outros sofrem com ele. Todavia existem membros do corpo de Cristo cuja dor nunca sentimos por estarmos desnervados ou por termos cortado todos os vínculos que nos conscientizam deles. Eles sofrem silenciosamente, despercebidos para o resto do corpo.


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