Congregar é necessário

January 18, 2016

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Segundo o último senso realizado no Brasil, as pessoas que se declaram evangélicas somam 42 milhões em todo o país. Um número bastante expressivo, que vem crescendo a cada novo senso, mas nem todos os dados são para comemorar. Cerca de dez milhões das pessoas que se declaram evangélicas, também declaram não estarem congregando, o que representa um salto de 700%, com relação ao senso anterior. São os chamados evangélicos nominais, ou não praticantes. Eles estão deixando de congregar, mas continuam se declarando evangélicos, o que mostra que o problema deles não é com Deus, é com a igreja.

Os motivos pelo qual deixam de congregar são os mais variados, mas em geral estão relacionados com a liderança, com a comunidade ou com o culto. Elas deixam de congregar por conta de decepções com pastores e líderes, que querem enriquecer às custas do rebanho, que abusam da autoridade ou que se envolvem em escândalos. No caso dos membros da igreja, as reclamações, em geral, estão relacionadas com a falta de acolhimento, com a formação de panelinhas, com a distância entre o que se vive e o que se prega, com as intrigas, enfim, com a falta de amor. Ou seja, não são as pessoas que estão saindo da igreja, são as mazelas da igreja que estão afastando as pessoas.

De fato, quando se faz uma análise da igreja contemporânea, o diagnóstico não é nada animador. A igreja está carente de uma nova reforma, de um novo Lutero, ou, melhor, de muitos Luteros. Na nossa cultura capitalista, as igrejas se tornaram clubes, os cultos se tornaram shows e as pessoas consumidores. No entanto, por melhor que sejam os motivos dos que deixam de congregar, ou por pior que seja o diagnóstico da igreja contemporânea, a grande questão, para um cristão sério, deveria ser o que Deus pensa sobre isso. Será que o Senhor nos autoriza a deixar de congregar, em certas circunstâncias excepcionais?

Quando a questão é o que Deus pensa, a resposta só pode ser encontrada na Bíblia. (Abro um parêntesis aqui para dizer que este sermão é dirigido às pessoas que creem em Deus, mas também creem que a Bíblia é inspirada por Deus. Este parêntesis é necessário porque há pessoas que acreditam em Jesus, mas não acreditam na inspiração da bíblia, ou acreditam nela apenas parcialmente. Com estes, eu não teria condição de debater, posto que meus argumentos se baseiam na bíblia, e partem do princípio de que toda ela é inspirada por Deus.)

Voltando à questão sobre o que Deus pensa sobre deixar de congregar, o texto que melhor aborda o assunto encontra-se na carta aos Hebreus.

Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas procuremos encorajar-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia (Hb 10.25).

O interessante deste versículo é que dá pra perceber que, já naquela época, algumas pessoas vinham perdendo o costume de congregar. Elas também tinham uma ótima razão para não se reunirem com os outros irmãos, porque a igreja era perseguida naquela época, mas mesmo havendo risco de morte, a exortação era para que não deixassem de congregar. Teria sido tão mais fácil, se eles pudessem adorar a Deus escondidos em suas casas, teríamos menos mártires na história da igreja, mas não lhes foi permitido servirem a Deus sozinhos. Eles deveriam reunir-se às escondidas, nas casas ou nas catacumbas, mas deveriam reunir-se com os outros irmãos.

Não pense você que a igreja era perfeita naquela época, porque não era. Em sua carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo escreveu que as reunião daquela igreja eram cheias de divisões e faziam mais mal do que bem para os participantes (1 Co 11:17,18). Isto para não falar dos escândalos, dos falsos pastores e das heresias. No entanto, as mazelas da igreja nunca foram um motivo aceitável, para que os cristãos deixassem de congregar. Se a palavra diz que não devemos deixar de nos reunirmos como igreja, é porque congregar é necessário.

Quando a bíblia fala em congregar como igreja, não está se referindo a pertencer a uma determinada denominação, porque as denominações — as famosas placas de igreja — não são bíblicas. Eu não creio que as denominações estejam erradas, porque eu mesmo pertenço a uma denominação, no entanto a igreja não se confunde com a denominação. O que eu quero dizer é que se você é uma dessas dez milhões de pessoas cristãs que não estão congregando, porque está enojado com a denominação à que você pertencia, você não precisa voltar para ela.

O que você precisa é encontrar um grupo de pessoas cristãs ao qual você possa pertencer, e com o qual você possa se reunir para adorar; e esta reunião pode ser em uma casa mesmo, porque é assim que os primeiros cristãos se reuniam. Se você é cristão, o seu chamado não é para servir a Deus sozinho; é para servir no contexto da igreja, como parte do corpo. Isoladamente, você não é nada, exceto um egoísta .Você precisa entender que você não é a igreja, isoladamente, você só pertence à igreja quando junto de outros cristãos, porque o termo “igreja” significa uma assembléia de pessoas.

Por último, o seu grupo deverá ter líderes que a bíblia chama de bispos, presbíteros ou pastores, aos quais você deverá obedecer, respeitar e, também, sustentar, porque, como disse Jesus, digno é o obreiro do seu salário.

Minha palavra final é tanto para os que não estão congregando, como para os que estão congregando em meio às lágrimas, pelo que tem sido feito com a igreja do Senhor. Eu creio que está vindo um novo tempo para a igreja, um tempo de refino, quando ser cristão vai sair de moda, e a verdadeira igreja será perseguida, por isso não desista. Se você deixou de congregar, volte a fazê-lo, porque não importa o que você diga, sempre haverá um grupo de pessoas com o qual você possa se reunir para adorar a Deus, e cumprir o seu propósito como membro do corpo de Cristo. Você pode se sentir sozinho, isolado, e o único santo sobre a terra, mas você precisa saber que Deus tem outros sete mil, que ainda não se curvaram.

Você só não os encontrou ainda.


Gostaria de recomendar meu livro, um romance emocionante e divertido com pano de fundo cristão, que aborda questões como relacionamento pais e filhos, primeiro amor e segundas chances.